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Páscoa

PAG1 - Papa lembra vítimas da guerra, emigrantes e doentes

21 abr, 2014 • Aura Miguel e Filipe d'Avillez, com Agência Ecclesia

O Papa não esqueceu os conflitos que tem mencionado ao longo do seu Pontificado. Benção "à cidade e ao mundo" culminou quatro dias intensos de celebrações pascais.

PAG1 - Papa lembra vítimas da guerra, emigrantes e doentes

O Papa elencou, na manhã de Domingio de Páscoa, uma série de preocupações e tragédias pelas quais pediu aos fiéis que rezem de forma particular.

Francisco celebrou missa na Praça de São Pedro, repleta de peregrinos, mas não fez qualquer homilia, uma vez que, como é tradição, iria ler a mensagem da bênção “urbi et orbi”. Foi nessa mensagem que recordou, de forma especial, as vítimas da mais recente epidemia de ébola, na Guiné Conacri, Serra Leoa e Libéria, bem como todas as pessoas pelo mundo que continuam sequestradas e também os que são forçados a emigrar dos seus países em busca de melhores condições de vida.

O Papa não esqueceu, ainda, alguns dos conflitos que tantas vezes já mencionou ao longo deste seu pouco mais de um ano de Pontificado: “Pedimo-Vos, Jesus glorioso, que façais cessar toda a guerra, toda a hostilidade grande ou pequena, antiga ou recente! Suplicamo-Vos, em particular, pela Síria, para que quantos sofrem as consequências do conflito possam receber a ajuda humanitária necessária e as partes em causa cessem de usar a força para semear morte, sobretudo contra a população inerme, mas tenham a audácia de negociar a paz, há tanto tempo esperada”.

“Pedimo-Vos que conforteis as vítimas das violências fratricidas no Iraque e sustenteis as esperanças suscitadas pela retomada das negociações entre israelitas e palestinianos. Imploramo-Vos que se ponha fim aos combates na República Centro-Africana e que cessem os hediondos ataques terroristas em algumas zonas da Nigéria e as violências no Sudão do Sul”, disse ainda Francisco.

A Venezuela, que tem vivido meses de tensão, foi também recordada e, no final da sua mensagem, o Papa realçou o facto de, este ano, os cristãos ocidentais, que seguem o calendário gregoriano, e os cristãos orientais, que seguem o juliano, coincidirem na celebração da Ressurreição de Jesus: “Pela vossa Ressurreição, que este ano celebramos juntamente com as Igrejas que seguem o calendário juliano, vos pedimos que ilumine e inspire as iniciativas de pacificação na Ucrânia, para que todas as partes interessadas, apoiadas pela Comunidade internacional, possam empreender todo esforço para impedir a violência e construir, num espírito de unidade e diálogo, o futuro do país”.


 Convite à redescoberta do baptismo


Durante a celebração da Vigília Pascal, no sábado, o Papa apelou ao católicos para acolherem a ressurreição de Cristo como um convite à revitalização da própria fé.

Tomando como ponto de referência a Galileia, local onde Jesus começou a sua vida pública, reuniu os seus discípulos e onde também voltou a aparecer a eles depois da sua morte na cruz, Francisco sublinhou a necessidade de cada crente recordar nesta Páscoa “a sua Galileia”, “redescobrir o seu baptismo” e dar ao seu compromisso cristão uma “energia nova”, à imagem da vida nova de Cristo.

“Voltar para a Galileia significa antes de tudo retornar àquele ponto incandescente onde a Graça de Deus me tocou no início do caminho. Não é voltar atrás, não é nostalgia. É voltar ao primeiro amor, para receber o fogo que Jesus acendeu no mundo, e levá-lo a todos até aos confins da terra ”, apontou o Papa.

Durante a celebração do acto litúrgico mais importante e mais antigo do calendário católico, na Basílica de São Pedro, Francisco definiu o momento da ressurreição de Cristo como “um raio de luz na escuridão” que, à imagem do que aconteceu com os primeiros cristãos, deve continuar a brilhar hoje, sobretudo nos momentos mais difíceis.

Na altura, “depois da morte do Mestre, os discípulos tinham-se dispersado; a sua fé quebrantara-se, tudo parecia ter acabado: desabadas as certezas, apagadas as esperanças”, recordou.

No entanto, a novidade “incrível” do reaparecimento do seu Senhor deu aos apóstolos novas forças para se manterem fiéis à sua missão, à razão da sua “chamada” inicial, ou seja, de serem testemunhas de Jesus no meio dos povos.

Tal como nessa época, também hoje os cristãos, reforçados por esta “notícia”, devem pôr-se “a caminho” para levarem a vida nova de Cristo “a todos até aos confins da terra”, concluiu o Papa.

A Vigília Pascal teve início no adro da Basílica de São Pedro, com a bênção do fogo e a preparação do círio pascal, a que se seguiu uma procissão, com a iluminação progressiva da igreja e o canto do precónio pascal.

O Papa baptizou 10 catecúmenos de diversos países e continentes, desde a Bielorrússia, França e Itália ao Líbano e Vietname, passando pelo Senegal.

Os catecúmenos mais novos eram dois irmãos italianos de oito e 10 anos, enquanto o mais velho era um homem, vietnamita, de 58 anos.


 "Na Cruz, vemos a imensidade da misericórdia de Deus”


Na noite de Sexta-feira, no final da Via Sacra, em Roma, Francisco evocou o Bem e o Mal sob o signo da Cruz, afirmando que a misericórdia de Deus responde à monstruosidade do Homem.

“Na Cruz, vemos a monstruosidade do homem, quando se deixa guiar pelo mal, mas vemos também a imensidade da misericórdia de Deus, que não nos trata segundo os nossos pecados, mas segundo a Sua misericórdia. Diante da Cruz de Jesus, vemos – quase ao ponto de tocar com as mãos – o quanto somos amados eternamente”, sublinhou o Papa.

As palavras de Francisco culminaram uma Via Sacra, no Coliseu de Roma, onde foram evocadas situações extremas do mundo de hoje, a partir de exemplos concretos: acusações fáceis e superficiais, exclusão racista, caluniados e gente acusada atirada para a primeira página e declarada inocente que acaba na última.

Quando Jesus carrega a cruz assume o peso das injustiças provocadas pela crise económica: desemprego, precariedade, especulação financeira, suicídios de empresários, corrupção e empresas que deixam os países.

Uma cruz pesada que não esquece os imigrantes, os que pedem asilo, dignidade e pátria, que inclui também os torturados, os presos em condições desumanas, as vítimas da burocracia absurda e a lentidão da justiça, as mulheres escravizadas pelo medo e exploradas.

Os textos da Via Sacra foram escritos, este ano, por um bispo da Calábria, Giancarlo Bregantini, voz corajosa na denúncia contra a máfia siciliana e que também não esqueceu as vítimas de imundícies e abusos injustamente cobertos, nem os perseguidos, os moribundos e doentes terminais, bem como os que gritam, “Não aguento mais!", porque – justamente na Cruz - Deus responde, consola e salva e é na provação que, graças ao Seu amor, seremos mais que vencedores.


 Papa lavou pés de 12 deficientes


O Papa iniciou as celebrações da Páscoa, na Quinta-feira Santa, num centro de acolhimento de pessoas portadoras de deficiência, em Roma.

Em clima familiar e sereno, milhares de idosos e deficientes de todas as idades acolheram carinhosamente Francisco, que, com alguma demora, os saudou antes e depois da missa.

Foi um Papa com ar cansado e visíveis dificuldades em ajoelhar-se que esteve frente aos 12 utentes deste centro da periferia de Roma, a quem lavou os pés, não deixando, assim, de cumprir, uma vez mais, este mandato de Cristo. Eram homens e mulheres portadores de deficiência, de diferentes idades, raças e confissões religiosas.

“Esta é a herança que Jesus nos deixa: faz este gesto de lavar os pés, que é um gesto simbólico. Era o que faziam os escravos, os servos, e nós devemos ser servos uns dos outros. Por isso, a Igreja que no dia de hoje comemora a última ceia onde Jesus instituiu a Eucaristia, faz também nesta cerimónia o gesto de lavar os pés. Agora vou fazer este gesto mas todos, no nosso coração, pensemos nos outros e pensemos também como os podemos servir melhor”, disse Francisco.


 Padres desafiados a viverem "uma alegria incorruptível e missionária"


Nas celebrações da Quinta-feira Santa, o Papa desafiou os sacerdotes a serem alegres com base numa alegria que deve “ungir, ser incorruptível e missionária” mantendo sempre “a pobreza, a fidelidade e a obediência”.

“Na nossa alegria sacerdotal, encontro três características significativas: uma alegria que nos unge (sem nos tornar untuosos, sumptuosos e presunçosos), uma alegria incorruptível e uma alegria missionária que irradia para todos e todos atrai a começar, inversamente, pelos mais distantes”, disse Francisco, durante a homilia da Missa Crismal na Basílica de São Pedro.

O Papa recordou que esta alegria só “flui quando o pastor está com o seu rebanho”.

“Mesmo nos momentos de tristeza, naqueles momentos apáticos e chatos que por vezes nos assaltam na vida sacerdotal, e pelos quais também eu passei, o povo de Deus é capaz de guardar a alegria, é capaz de proteger-te, abraçar-te, ajudar-te a abrir o coração e reencontrar uma alegria renovada”, disse.

Francisco acrescentou que a alegria sacerdotal “tem três irmãs que a rodeiam, protegem e defendem” sendo elas “a pobreza, a fidelidade e a obediência”.

“Se não sais de ti mesmo, o óleo torna-se rançoso e a unção não pode ser fecunda. Sair de si mesmo requer despojar-se de si, comporta pobreza”, disse o Papa lembrando que “o sacerdote é pobre de alegrias meramente humanas” devendo pedir “a sua alegria ao Senhor e ao povo fiel de Deus”.

Explicando a importância da fidelidade, Francisco comparou a Igreja a uma esposa “que o sacerdote se sente feliz em tratar como sua predilecta e única amada e ser-lhe fiel sem cessar”.

“É a Igreja viva, com nome e apelido, da qual o sacerdote cuida na sua paróquia ou na missão que lhe foi confiada, é essa que lhe dá alegria quando lhe é fiel, quando faz tudo o que deve fazer e deixa tudo o que deve deixar contanto que permaneça no meio das ovelhas que o Senhor lhe confiou”, acrescentou.

Quanto à obediência que deve acompanhar a vida sacerdotal, o Papa lembrou que é importante de se ser obediente perante “a Igreja na hierarquia, nas paróquias e na faculdade do ministério” mas também obediente no serviço revelando “disponibilidade e prontidão para servir a todos, sempre e da melhor maneira”.

“Onde o povo de Deus tem um desejo ou uma necessidade, aí está o sacerdote que sabe escutar pressente um mandato amoroso de Cristo que o envia a socorrer com misericórdia tal necessidade ou a apoiar aqueles bons desejos com caridade criativa”, explicou Francisco.

O Papa lembrou por isso que o padre “é uma pessoa muito pequena” porque “a grandeza incomensurável do dom que lhe é dado para o ministério o relega para entre os menores dos homens”.

No final da homilia da Missa Crismal de Quinta-Feira Santa, o Papa expressou o desejo de que “Jesus faça descobrir a muitos jovens aquele ardor do coração que faz acender a alegria logo que alguém tem a feliz audácia de responder com prontidão à sua chamada”, mas também que “conserve o brilho jubiloso nos olhos dos recém-ordenados”, “confirme a alegria sacerdotal daqueles que têm muitos anos de ministério” e “brilhe a alegria dos sacerdotes idosos, sãos ou doentes”.

“Saibam estar bem em qualquer lugar, sentindo na fugacidade do tempo o sabor do eterno. Sintam a alegria de passar a chama, a alegria de ver crescer os filhos dos filhos e de saudar, sorrindo e com mansidão, as promessas, naquela esperança que não desilude”, aconselhou, por fim, Francisco.