Afonso Cabral
Opinião de Afonso Cabral
A+ / A-

Opinião

​Vida ou morte para Benfica e Sporting

09 mai, 2025 • Afonso Cabral* • Opinião de Afonso Cabral


O treinador e comentador Bola Branca Afonso Cabral antecipa o Benfica-Sporting, o dérbi que pode dar campeão nacional, no sábado, no Estádio da Luz.

O dérbi de sábado é provavelmente o jogo mais importante do panorama nacional dos últimos anos: vida ou morte para ambos Benfica e Sporting, com a Liga Portuguesa em disputa.

Recuo até novembro, ao dia 10. Sporting vence o Sp. Braga fora, por 4-2, e consegue a 11.ª vitória consecutiva no campeonato, em outras tantas jornadas. Trinta e três pontos, registo imaculado e um caminhar que se esperava tranquilo até ao título.

Já segue a Bola Branca no WhatsApp? É só clicar aqui

O Benfica ficava na altura a cinco pontos e o FC Porto a seis. Além do registo impressionante, esse dia ficou marcado pela saída de Ruben Amorim para o Manchester United, que precipitou decisões na estrutura verde e branca.

Do outro lado da segunda circular, Bruno Lage tinha sido apontado como timoneiro à jornada 5 na tentativa de recuperar animicamente um plantel pouco crente nas ideias do treinador, e quem sabe talvez repetir o feito da temporada 2018/19, em que pegou na equipa e só parou quando conquistou o título de campeão nacional.

Para o Sporting, empate e vitória são bons resultados, para o Benfica, interessa apenas vencer. E isso torna o jogo num perfeito 50/50, e explico porquê, começando pelo Benfica.

Desde que assumiu as rédeas, Bruno Lage devolveu um pouco da alma benfiquista ao plantel. Conseguiu comungar com os adeptos, ligá-los à equipa, e dar crença às hostes encarnadas. Espírito renovado, mas também ideias diferentes para o relvado.

Desde já, Aursnes, sacrificado com Roger Schmidt nas posições de lateral direito ou esquerdo, assumiu-se como médio-centro. Ganhou o Benfica na capacidade de pressão, ganhou critério, velocidade e intensidade. Resulto em mais espaço para o génio de Kökcü brilhar.

Tomás Araújo, à data o melhor central do Benfica, passou para lateral-direito, numa adaptação forçada pela lesão de Bah, e devolveu António Silva à titularidade. Não é ideal, mas tem funcionado relativamente bem. A extremos há soluções para todos os gostos e, frente ao Sporting, Lage pode optar pela experiência de di María, pela verticalidade de Amdouni ou pela irreverência de Bruma. Aktürkoğlu, esse, parece certo no apoio ao cada vez melhor Pavlidis.

Ideias bem claras, espelhadas em campo e outro fator que joga a favor das águias: Bruno Lage este ano tem-se mostrado brilhante na preparação de jogos a doer: 4-0 ao Atlético de Madrid, 4-1 por duas vezes ao FC Porto, 2-0 à Juventus, e ainda aquele jogo com o Barcelona que podia ter sido histórico.

Nuances diferentes, construção a três com Carreras perto dos centrais, variabilidade de soluções, tudo com clara disrupção efetiva na teia adversária. A pedra no sapato? O Sporting de Rui Borges. Foram dois jogos, uma derrota e um empate (com sabor a vitória na Taça da Liga). Some-se ainda o fator casa e adeptos e o Benfica partiria como favorito, não houvesse dois resultados de interesse do outro lado.

Quanto aos leões, Rui Borges assume o comando precisamente no jogo frente ao Benfica. Vitória por 1-0, com dedo do treinador. Rompeu com a linha de três perpetuada por Ruben Amorim e depois continuada por João Pereira, e assumiu a equipa num 4-4-2 (ou 4-2-3-1) em que Trincão até apareceu como médio.

A enorme onda de lesões, associada a alguma falta de brilho exibicional, levou Rui Borges, mais à frente, a devolver a equipa ao conforto do 3-4-3. Parece melhor o Sporting, mais dinâmico, mas infelizmente ainda muito dependente do que Gyökeres consiga fazer. Aliás, este Sporting é dependente da parelha nórdica porque, e talvez por Morita ainda não estar em forma, Hjulmand é essencial para o controlo das operações no meio-campo. E isso é algo que marca a diferença entre ambos os conjuntos.

De um lado, um Sporting mais agarrado às individualidades, do outro um Benfica mais oleado. Porém, e para não ser mal interpretado, há duas notas de verdadeira relevância neste fator, uma das individualidades leva 38 golos na Liga Portuguesa e mais de 50 na temporada, e é verdadeiramente demolidor quando existe espaço nas costas, algo que o Benfica terá necessariamente de permitir para ir em busca do golo que o ponha na frente do campeonato.

Há ainda o efeito Rui Borges, que assumiu um Sporting desnorteado e de ressaca depois de Amorim, mas que ainda não perdeu para as competições nacionais, se contarmos apenas os 90 minutos do jogo. Esse fator é importante, mais ainda se lhe agregarmos a notória capacidade do mirandelense em preparar defensivamente as suas equipas.

O 11 do Sporting terá poucas novidades, com Geny a tentar confirmar a apetência para marcar ao rival, Gyökeres a perseguir os 100 golos de verde e branco e Pote a confirmar a sua forma crescente para preparação do dérbi. A dúvida reside na inclusão de Matheus Reis no corredor esquerdo, se Rui Borges achar que o brasileiro lhe dá mais garantias que Maxi Araújo para defender, numa solução protagonizada inúmeras vezes por Amorim em jogos grandes.

Termino anotando que o Sporting nunca venceu o título em casa do grande rival, e que o contrário já aconteceu por uma vez. Registo que se pode tornar histórico, e de festa para um dos lados. Para relembrar, o Sporting é campeão se vencer, fica a depender de si se empatar. O Benfica é campeão já no sábado se vencer por dois ou mais golos.

*Afonso Cabral é comentador de futebol da Rádio Renascença

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.