17 set, 2025 • Afonso Cabral *
Em julho de 2025, Rui Costa saiu a dar a cara após ver o Sporting conquistar o bicampeonato. Pediu desculpa aos adeptos e garantiu a continuidade do treinador, dizendo “Bruno Lage nunca foi um problema”.
Seguiu-se a derrota na final da Taça de Portugal frente ao mesmo rival e uma presença no Mundial de Clubes. O planeamento para a pré-época era curto face às necessidades urgentes do plantel, mas pareceu haver consonância nas decisões. Bruno Lage referiu ter sido o único mercado em que a “direção levou em consideração as ideias do treinador”.
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Em campo, Bruno Lage tornou-se pouco consensual nas escolhas, na forma e nas estruturas. A equipa não apresentou a qualidade que se esperava, mas os principais objetivos da temporada foram conquistados: acesso à fase de Liga da Champions e conquista da Supertaça.
Nos primeiros sete jogos foram seis vitórias, um empate (pouco importante com o Fenerbahçe) e zero golos sofridos. Apesar disso, os indicadores ofensivos eram contestados, e Bruno Lage defendia-se com o registo defensivo, um dos melhores dos últimos anos.
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O Benfica alternou entre o 4-3-3 e o 4-4-2 com a grande diferença no apoio ao ponta de lança a ser dado por um médio, quase sempre de características defensivas para pensar o momento sem bola, como Barreiro, ou por um avançado, como Ivanovic, numa parelha com Pavlidis que resultou em alguns golos para ambos mas que verdadeiramente só funcionou na vitória caseira frente ao Tondela.
A alteração de sistema prendeu-se sobretudo com a qualidade e com o número de médios do adversário. Contra Sporting e Fenerbahçe, o Benfica jogou com três médios para igualar numericamente. Contra os restantes jogou com dois.
Também Aursnes e Tomás Araújo foram vítimas da necessária adaptação ao adversário, baixando o primeiro para a linha de cinco defesas no momento sem bola, na maior parte dos jogos de grau de dificuldade elevado, calhando ao segundo fazer a linha toda no jogo contra o Santa Clara.
Coletivamente, aponto dois grandes problemas: como a equipa atacou e como se posicionava quando perdia a bola.
O fulgor ofensivo de outros tempos foi substituído por uma cadência abusiva de cruzamentos para a área. Faltava um jogador criativo, encontrado em Sudakov.
Benfica
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E quando perdia a bola, eram metros e metros de correria para os adversários, que, apesar de não marcarem, chegavam à baliza encarnada. Primeiro o Alverca, depois o Estrela e, mais recentemente e com claro prejuízo, o Santa Clara e o Qarabag. Convém reforçar que estes problemas eram exacerbados quando o Benfica jogava com apenas Richard Ríos, com um posicionamento um pouco anárquico, e Enzo Barrenechea no meio-campo.
O próprio Lage, que no momento da saída falou em “condicionalismos internos e externos” que não o deixaram fazer o seu trabalho a 100%, pareceu agastado com os dramas do universo encarnado. Defendeu Rui Costa e deu o corpo às balas (“Eu assumo, eu assumo” em repeat), mas toda essa proteção resultou numa saída precoce, à quinta jornada do campeonato, um ano depois de ter sucedido em condições semelhantes Roger Schmidt.
A derrota com o Qarabag veio apenas confirmar algo que se arrastou demasiado tempo: Bruno Lage desgastou-se com a perda da dobradinha. Na mesma semana, uma sondagem (credível ou não) apontou Noronha Lopes como vencedor das eleições e o Benfica perdeu duas vantagens caseiras em situações altamente favoráveis: numa em superioridade numérica, noutra após vantagem de dois golos, contra adversários teoricamente inferiores.
E assim saiu Bruno Lage, vítima dos resultados e de uma manobra eleitoral de Rui Costa.
*comentador de futebol da Renascença