24 abr, 2025 • José Pedro Frazão
A antiga ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares representou o Governo português na organização da Jornada Mundial da Juventude em 2023 e presta testemunho próximo sobre “quão aglutinador” o Papa Francisco foi.“ E essa é uma dificuldade que julgo que o Vaticano terá nos próximos tempos”, afirma Ana Catarina Mendes no programa “Casa Comum” da Renascença.
Para a eurodeputada do Partido Socialista, o Francisco foi um Papa da solidariedade e da defesa da igualdade, salientando a forma como olhava para as mulheres. “O tema da Jornada Mundial da Juventude foi mesmo esse, o tema de Maria, no sentido de privilegiar não só os jovens, mas o papel que as mulheres tinham na sociedade portuguesa”, exemplifica Ana Catarina Mendes, que salienta também a forma como Francisco “soube abraçar a comunidade LGBTQI+”.
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Ana Catarina Mendes salienta que o “discurso aglutinador” de Francisco foi visível em diversas áreas como o diálogo inter-religioso e na defesa dos imigrantes. “Não podemos nunca esquecer a sua primeira visita enquanto Papa, a Lampedusa, precisamente para dizer que é preciso tratar bem as pessoas que fogem da guerra, da fome, das ditaduras”, recorda a antiga ministra do PS neste programa da Renascença em parceria com a Euranet – Rede Europeia de Rádios.
A comentadora do “Casa Comum” salienta que Francisco foi também aglutinador nos apelos à paz que fez, incluindo a preocupação com Gaza, e um defensor da ecologia, “que olhou para as alterações climáticas na perspetiva dos mais vulneráveis e dos que mais sofrem”. A ex-governante recorda com saudade os contactos mantidos com o Papa nesses dias em Lisboa ao sentir em Francisco “um parceiro nas lutas pela justiça social, pela solidariedade e pela igualdade”, confessando recordará sempre “com muita saudade” as “mensagens de esperança” que deixou aos jovens em Portugal.
No debate sobre o impacto do pontificado do Papa Francisco na política internacional, o social-democrata Duarte Pacheco defendeu que os líderes políticos mundiais acabaram por escutar o Papa devido à sua ligação direta às pessoas. “Independentemente das lideranças, falava diretamente às pessoas. E ao fazê-lo, os que querem ser líderes perceberam qual é o sentimento dos cidadãos, e acabaram por 'beber' por essa via”, argumenta o antigo deputado do PSD.
Na opinião do comentador da Renascença, Francisco conseguiu fazer um equilíbrio “entre manter o essencial na organização da Igreja, mas ao mesmo tempo tendo a capacidade de abertura e de aproximação às pessoas, o que lhe deu uma autoridade moral que faz com que hoje não exista outra figura de referência que seja escutada”.
Duarte Pacheco elogia Francisco por não ter medo de dizer aquilo que pensa num pontificado que deixa “um legado relevante que não é menor, nem é maior que outros papas marcantes”, dando o exemplo de João XXIII e o concílio Vaticano II, a João Paulo II ou até Leão XIII, que publicou a encíclica “Rerum Novarum”, em pleno século XIX, que abordou os direitos laborais dos operários.
Já João Oliveira, eurodeputado do PCP, destaca a coragem do Papa na afirmação da necessidade de encontrar soluções de paz “num momento em que a propaganda aponta toda no sentido contrário”. Em muitas circunstâncias, diz o dirigente comunista, Francisco usou “palavras incómodas” contra as correntes do “militarismo e da política de confrontação que em vários pontos do globo vai conduzindo milhões de pessoas a terem que enfrentar a guerra no seu quotidiano”.
Oliveira acentua até que o Papa chegou a invocar “aspetos que não tinha necessidade nenhuma de invocar”, particularmente com a “identificação da raiz da busca do lucro e das desigualdades na distribuição da riqueza como causa para o sofrimento de milhões de seres humanos empurrados para a pobreza e para a exclusão social”.
O deputado do PCP no Parlamento Europeu considera que Francisco deixou “uma mensagem muito forte” sobre a guerra na Ucrânia ou sobre o “genocídio do povo em Gaza”, com palavras “muito significativas de apelo á paz”.