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Casa Comum

Mariana Vieira da Silva. "Há pessoas em melhores condições para uma candidatura à liderança do PS"

21 mai, 2025 • José Pedro Frazão


No programa Casa Comum desta semana, a antiga ministra recusa a ideia de "inevitabilidades", seja para justificar a candidatura de José Luis Carneiro ou para se colocar de fora como dirigente nacional. Na Renascença, num painel com o social-democrata Duarte Pacheco, Mariana Vieira da Silva lembra que nunca sonhou com a liderança do partido e defende que é preciso debate interno sobre o rumo do partido.

Mariana Vieira da Silva diz que "há pessoas em melhores condições para uma candidatura à liderança do PS"
Mariana Vieira da Silva diz que "há pessoas em melhores condições para uma candidatura à liderança do PS"

Numa altura em que o nome de Mariana Vieira da Silva circula no PS como uma opção para fazer frente a José Luís Carneiro, a antiga ministra defende que "há socialistas em melhores condições para protagonizarem" uma outra candidatura à liderança do Partido Socialista.

No programa Casa Comum da Renascença, a antiga deputada reconhece que um dirigente partidário não deve excluir a possibilidade de uma candidatura. "Do ponto de vista do princípio, não deve dizer isso, porque então coloca-se numa situação de inevitabilidade", sublinha Mariana Vieira da Silva, que logo a seguir recorda que nunca ambicionou ser líder do PS.

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"Nunca escondi que não tinha como projeto de vida - não é uma coisa em que eu, ao contrário de muitas outras pessoas, tenho pensado ao longo dos últimos anos - fazer um caminho para a liderança do PS. Nunca foi esse o meu posicionamento no espaço político", assinala a antiga governante socialista.

Questionada sobre alternativas ao seu nome, Vieira da Silva diz que a reposta é fácil. "Acho que há pessoas em melhor situação do que eu para protagonizar [uma outra candidatura à liderança]", afirma na Renascença.

A deputada do PS considera que essas personalidades, que não identifica, prestariam um bom serviço ao partido ao encabeçar uma candidatura ao cargo de secretário-geral, após a saída de Pedro Nuno Santos.

"Da mesma maneira que, há um ano e três meses, elogiei o facto de José Luís Carneiro ter-se disponibilizado numas eleições que até se pode dizer que era bastante óbvio quem é que podia ganhar", complementa Mariana Vieira da Silva.

Contra as inevitabilidades

Mariana vieira da Silva sublinha ter "muito boa opinião" sobre José Luis Carneiro, mas coloca a discussão noutro plano. "Tenho uma ótima relação com José Luís Carneiro, trabalhei muito com ele. Não é isso que está em causa. O que está em causa são os processos. E os partidos não podem desvalorizar os processos, porque se o fazem, enfraquecem-se", argumenta Mariana Vieira da Silva.

A antiga ministra, muito próxima de António Costa, defende que os partidos "ganham com o debate e não com as inevitabilidades". reconhecendo que José Luis Carneiro tinha vindo a fazer trabalho interno.

"Processos muito baseados na unanimidade têm vantagens porque são menos dolorosos para os partidos e têm desvantagens porque são menos amigos da reflexão profunda", afirma no programa Casa Comum da Renascença.

Processo eleitoral "o mais aberto possível" para a liderança

Reconhecendo que a proposta em cima da mesa passa por eleições para o cargo de secretário-geral entre junho e julho - "ficar sem nenhuma liderança até depois das autárquicas é complicado" - deixando o congresso do PS para data posterior, Mariana Vieira da Silva sai em defesa de um processo de escolha "o mais aberto possível".

A deputada promete esclarecer na Comissão Nacional do próximo sábado o que pensa sobre a melhor forma de eleger o líder do partido. "Os estatutos do PS propõem duas formas de eleição dos secretários-gerais: em primárias abertas ou em diretas dentro do partido. Essa discussão não foi feita. Não há soluções muito fáceis, porque o tempo também é um fator", explica na Renascença.

Evitar unanimidades e precipitações

A antiga ministra julga que o Partido Socialista ganharia em não ter apenas um candidato, mas a possibilidade de haver "uma reflexão aberta", que possa criar "soluções de maior unidade e não a partir de soluções de unanimidade". Vieira da Silva está preocupada "não tanto com o número de candidatos", mas se as diferentes "tendências que o Partido Socialista tem estão ou não representadas nesse debate".

O PS deve, na sua opinião, "procurar fugir àquilo que sempre acontece nestes momentos" quando se colocam de forma inesperada situações de eleições. "Normalmente há uma precipitação. E quem está mais preparado, quem já tem o trabalho mais feito, tende a ganhar". Houve precipitação na troca anterior da liderança do PS? "Aí não tínhamos alternativa porque havia eleições num mês e portanto não era possível fazer um processo mais aberto do que aquele".

"Mensagens do PS não passaram"

Depois de ter analisado a quente os resultados parciais na noite eleitoral das legislativas, a deputada socialista conclui agora que o partido perdeu em duas frentes "tanto no voto dos mais qualificados para a AD e para o Livre, como no voto mais 'popular' para o Chega".

Mariana Vieira da Silva defende que o PS tem que entender as razões pelas quais as propostas eleitorais socialistas, "bastante centradas na ideia da salvaguarda do poder de compra das pessoas que vivem com menos orçamento", não passaram para o eleitorado e "não convenceram as pessoas".

"A próxima vítima será a AD"

A subida do Chega deve ser analisada com atenção pelos grandes partidos, defende Mariana Vieira da Silva, que deteta um crescimento do "voto de protesto pelo protesto, sem nenhuma adesão a políticas concretas de resposta, e até à esperança de que as coisas possam melhorar". E se os partidos não compreenderem isto, o voto de protesto deve sair vencedor de próximas eleições, sustenta a deputada do PS.

"Parece-me que a AD está a desvalorizar o que aconteceu. Porque, se nestas eleições afetou o PS, é bastante claro para mim que a seguir a vítima será a AD", afirma Mariana Vieira da Silva.

"O pior resultado de sempre de um primeiro-ministro em exercício"

A antiga governante socialista insiste que o único obstáculo à governabilidade foi Luís Montenegro e a sua vontade de ir para eleições. "Ninguém consegue identificar uma medida conducente, por exemplo, à maior capacidade de construção para termos habitação, que o Partido Socialista não tenha aprovado, nem através da abstenção".

A deputada do PS enfatiza que o objetivo de Montenegro não foi atingido, alegando que obteve o pior resultado de sempre de um primeiro-ministro em exercício. "Normalmente quem está no poder, tem um ganho eleitoral com isso. E este primeiro-ministro não teve".

A dirigente socialista classifica o discurso de vitória de Luís Montenegro como "muitíssimo preocupante", entendendo que presidente do PSD disse "claramente" que o programa do Governo "tinha sido validado tal como estava".

Não à rejeição do programa do Governo AD

Apesar da crítica à estratégia de Montenegro, Mariana Vieira da Silva não encontra "nenhuma razão" para o Partido Socialista "mudar o entendimento que sempre teve" sobre viabilização dos governos.

"Só quando existe uma alternativa é que se devem aprovar moções de rejeição. Nunca o fez na história, a não ser em 2015, onde provou ter uma alternativa estável de governo, que aliás durou quatro anos, e ao qual sucederam vitórias sucessivas do primeiro-ministro António Costa", remata Mariana Vieira da Silva.

[notícia atualizada]

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  • Joaquim
    21 mai, 2025 Paços 22:05
    O PSD fez gato sapato, humilhou e até mesmo gozou com o PS ao forçar novas eleições, e o PS vai continuar a dar a mão e a ser a muleta do PSD? É impossível que a falta de juízo atinja tal ponto! À primeira todos caiem, à segunda cai quem quer, à terceira cai quem é…!