23 jun, 2025 • Filipa Ribeiro
Ainda a ferver o ataque dos Estados Unidos da América ao Irão, Fernando Medina e Miguel Poiares Maduro consideram que é difícil prever as consequências do alargamento do conflito no Médio Oriente.
No programa Conversa de Eleição da Renascença, Fernando Medina destaca que é difícil saber "o nível de repercussão do desiquilíbrio profundo e arrastar de um conflito muito violento por muito tempo". O socialista entende que de acordo com as informações dos serviços norte-americanos "não há nenhuma justificação de ameaça credível" para um "ataque" como do último fim-de-semana. Fernando Medina fala em "aproveitamento" do primeiro-ministro israelita para fazer um ataque às capacidades militares do Irão "forçando" os Estados Unidos a participar.
Miguel Poiares Maduro considera a entrada dos norte-americanos no conflito com o Irão como resultado de "mais uma decisão impulsiva" de Donald Trump. O social-democrata assume que tem "poucas certezas sobre a matéria", mas acredita que a decisão do presidente norte-americano está desalinhada com o que defende a máquina do país. "Há dois dias dizia que o objetivo era eliminar o risco do Irão, ontem já falava de alteração do regime. Temos um Trump que nos dificulta a leitura do que pretende porque ele vai mudando de hora a hora o que pensa", diz.
Face à "imprevisibilidade" do presidente dos Estados Unidos da América, Miguel Poiares Maduro considera ser "muito preocupante que a polícia internacional de uma grande potência seja dirigida pelos impulsos pessoais de alguém e não por uma prática consistente e sólida". "Decisões desta natureza têm que assentar muito mais nessas decisões, do que em como acorda o senhor Trump de manhã", defende.
Sobre a posição da Europa face ao conflito, Miguel Poiares Maduro recorda que há uma posição histórica da Europa sobre Israel que se mantem "moderada, recatada, cautelosa e prudente". Ainda assim, o social-democrata considera que a posição da Europa é também reflexo da "fragilidade da política externa europeia". "Neste mundo, a Europa só é relevante se tiver capacidade de agir em comum mobilizando os recursos dos seus estados. Ora isso não é o caso e neste contexto essa posição tímida é a forma disfarçar o facto de não ter poder real na esfera internacional".
Médio Oriente
Desde 13 de junho, o Irão tem sido alvo de bombard(...)
O Governo já anunciou que quer investir 2% do PIB em Defesa ainda este ano o que para Fernando Medina parece um valor "exigente". O antigo ministro das Finanças considera que o foco deve estar no reforço do investimento em equipamentos de duplo uso, ou seja, material com utilização civil e militar. Fernando Medina diz que é possível na área naval e da marinha que o socialista considera ser "uma área prioritária do ponto de vista do musaico da participação de Portugal num sistema de forças".
Fernando Medina considera que o país terá mais peso na vigilância da zona atlântica. O antigo governante reconhece que "todo o esforço" para aumentar o investimento "tem que ser feito" por ser uma "contra parte de manutenção do que é a participação dos EUA na aliança atlântica".
O antigo ministro das Finanças destaca ainda que é "essencial" que o investimento na Defesa seja ainda acompanhado de um plano estratégico de desenvolvimento para a indústria nacional. "É essencial que não gastemos dinheiro a compar material norte americano", defende.
Também Miguel Poiares Maduro considera "inevitável" que se invista em Defesa tendo em conta o atual contexto internacional. O social-democrata considera que é "cada vez mais claro" que a Europa não pode depender dos EUA para a sua defesa considerando que deixou de haver credibilidade nessa garantia depois da administração de Donald Trump.
A nível nacional, Poiares Maduro acredita que há despesa com duplo uso que não é contabilizada na Defesa e que a obtenção dos 2% não implica , por isso, uma aumento absoluto de despesa, mas antes de requalificação da forma como a despesa é contabilizada.
O antigo governante sublinha que a Europa necessita de capacidade de defesa para atuar de forma conjunta no caso de a NATO não assegurar a segurança que os europeus necessitem.
Miguel Poiares Maduro considera ainda fundamental que a transição no investimento seja feita de forma "progressiva" para que não se coloque em causa a despesa social do Estado. O social-democrata considera que além do investimento em equipamento de duplo uso é necessário que parte do investimento da Defesa se destine à ciência recorrendo à forma como a ciência está presenta na defesa dos Estados Unidos.
Fernando Medina ressalva, ainda no programa, que aumentar 2% do PIB significa investir mil e 200 milhões de euros num curto espaço de tempo. "Onde é que se consegue gastar bem em seis meses?", questiona.