04 abr, 2025 • Ana Rita Bessa, CEO da Leya, economista e antiga deputada do CDS
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Os chamados “rankings de escolas” surgiram há 24 anos, produzidos e apresentados pela comunicação social, com base nas provas nacionais de aferição e de exame. Desde então, foi feito um caminho de agregação de novos dados e análises respondendo às vozes críticas sobre esta publicação, os riscos da sua leitura simplificada e os seus efeitos – para uns maléficos, para outros reveladores; para uns injustos, para outros explicativos; para alguns inconsequentes para outros acionáveis no sentido da boa mudança.
Creio que hoje podemos dizer que a seriação de escolas a que chamamos rankings é uma pequeníssima parte do total de indicadores que, numa leitura conjunta e calibrada, permitem apresentar um retrato mais próximo da complexidade por detrás destas “listagens”.
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Por exemplo, calcula-se um indicador de equidade, que tem por base a comparação entre a percentagem de alunos beneficiários da Ação Social Escolar que conclui o ciclo de estudos no tempo esperado e a percentagem de alunos com perfil semelhante a nível nacional; reportam-se os percursos diretos de sucesso, que revelam as escolas em que os alunos não chumbam e têm nota positiva nos exames finais; quando possível, são elencados os projetos e atividades que a escola desenvolve enquanto educação não-formal.
E, acrescento em jeito de sugestão, dever-se-ia apresentar o número de nacionalidades e de alunos ao abrigo da educação inclusiva, porque ambos fazem aumentar a complexidade da prestação do serviço educativo.
Com toda esta informação, baseada em métricas nacionais comparáveis, sabemos que há escolas que trabalham bem em contextos favoráveis e que, também por isso, ocupam os lugares cimeiros dos rankings. A discussão pública detém-se insistente e quase exclusivamente aqui. O que é uma pena, porque interessa muito mais percorrer a tabela e perceber que há escolas que, apesar do seu contexto adverso, melhoram a vida dos seus alunos. Mas também que há outras que não o estão a fazer.
Os “rankings de escolas” trazem-nos constatações e é por isso que, em si mesmos, não são nem bons nem maus. Mas podem ser relevantes e úteis na medida em que os governos forem atuantes, trabalhando com cada escola sinalizada para a acompanhar na melhoria. E serão transformadores, se as comunidades educativas não aceitarem o fado do insucesso, e forem cada vez mais exigentes com a sua missão (e com a tutela), abrindo-se a soluções diferentes que funcionem no seu contexto específico.
A desocultação da informação que os rankings nos trazem deveria gerar estes dois movimentos simultâneos: a heterorresponsabilização persistente da tutela – sobretudo para com a escolas que precisam – e a autorresponsabilização das escolas para com os alunos, que são a sua missão.
De resto, uma das coisas interessantes da 'saison' dos rankings, é precisamente saber das estratégias de inovação e das histórias de superação que muitos professores, diretores e alunos destas escolas partilham. Podem não estar no topo da lista, mas contam boas notícias sobre o empenho que colocam no seu trabalho e isso, em si mesmo, educa dentro e fora de portas.
Este ano, proponho que a leitura dos rankings se faça ao contrário, de baixo para cima. Do que pode chocar, ao que deve mobilizar. Porque se não queremos deixar nenhum aluno para trás, é por aí que devemos começar.