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Opinião Católica-Lisbon

Da linha reta ao ecossistema: as novas carreiras híbridas à luz da COP30 em Belém

03 nov, 2025 • Marta Lima • Opinião de Marta Lima


Esta transformação é fruto de um contexto global em mudança, com a sustentabilidade a assumir um papel central. Portugal tem condições únicas para ser exemplo desta transição.

A visão tradicional de carreira, associada a uma ascensão linear — subir degrau a degrau até ao topo — está a perder força. Num mundo em que a aceleração tecnológica, a crise climática e as transformações no mercado de trabalho se intensificam, a trajetória mais promissora já não é aquela que sobe, mas aquela que se expande.

Hoje, o executivo moderno não se define apenas pela função que ocupa, mas pela diversidade de papéis que desempenha. Pode ser gestor e formador, consultor e mentor, líder e aprendiz. Carreiras híbridas, que antes eram vistas como dispersão, agora refletem adaptabilidade e inteligência estratégica. Num mercado que valoriza o propósito tanto quanto o desempenho, ser híbrido é uma vantagem competitiva.

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Esta transformação é fruto de um contexto global em mudança, com a sustentabilidade a assumir um papel central. A COP30, que se realizará em novembro de 2025 em Belém, no coração da Amazónia, simboliza um ponto de viragem. A escolha de Belém para acolher a cimeira reflete a urgência de integrar critérios ambientais e sociais nas estratégias corporativas. A sustentabilidade deixa de ser um tema periférico e passa a ser o novo alicerce da competitividade global. Para os gestores, quem continuar a tratar a sustentabilidade como um capítulo secundário arrisca-se a tornar-se irrelevante, mesmo na era “anti-ESG” de Trump.

Em Portugal, as empresas já estão a incluir metas ESG (Environmental, Social and Governance) nos contratos de administração, e parte da remuneração variável dos executivos depende do cumprimento de objetivos ambientais e sociais. Cresce a procura por profissionais capazes de traduzir conceitos de impacto em resultados financeiros.

A liderança também está a ser reconfigurada. O gestor contemporâneo precisa de ser capaz de ensinar, partilhar conhecimento e formar outros líderes. A formação de executivos, agora mais focada em sustentabilidade, ética, tecnologia e impacto, tornou-se essencial, e não se limita apenas às escolas de negócios. A aprendizagem acontece nas empresas, nas interações entre pares e nos fóruns de sustentabilidade. O líder do futuro será aquele que aprende e ensina ao mesmo tempo, promovendo uma renovação contínua.

Neste contexto, a carreira híbrida surge como uma resposta natural à transição. Construí-la exige autoconhecimento e estratégia. É necessário explorar como integrar a experiência em gestão com novas áreas de valor, como sustentabilidade, inovação social ou governança ética. A assunção de papéis complementares, como mentor de jovens que dão os primeiros passos nas suas carreiras, ou advisor de startups, ampliam o campo de influência de um executivo.

A COP30 pode ser um catalisador para esta reinvenção. O evento de Belém, mais do que uma cimeira diplomática, é um apelo global à ação. Ao focar na Amazónia, obriga-nos a repensar a relação entre economia, planeta e trabalho. As empresas que compreenderem essa ligação estarão mais preparadas para as exigências de investidores e consumidores, e os profissionais que se anteciparem a essa transformação terão maior relevância no futuro.

A carreira híbrida não é uma fuga ao sistema, mas uma forma de o atualizar. Ela integra dimensões que antes pareciam separadas: razão e emoção, eficiência e empatia, crescimento e responsabilidade. O executivo que ensina, o líder que escuta, são os perfis mais preparados para um mundo onde a liderança deve ser tanto racional quanto humana.

Portugal tem condições únicas para ser exemplo desta transição. O país favorece a colaboração entre empresas, academia e setor público. Já existem no nosso país iniciativas que indicam que o movimento de transformação é real, ainda que tímido. O talento português pode, assim, ter um papel de destaque na economia sustentável, não apenas como seguidor, mas como protagonista.

Falar de carreiras híbridas é falar de coerência, em perceber que o percurso profissional deve refletir não só as competências, mas também os valores. A COP30, em Belém, é um lembrete visual dessa ideia: tudo está interligado. Assim como o equilíbrio climático depende da Amazónia, o equilíbrio das organizações depende da capacidade dos líderes de conectar resultados com valores, negócio com impacto, e curto com longo prazo.

O futuro pertence a quem souber combinar rigor com imaginação, métricas com significado. E isso começa na forma como cada um de nós escolhe desenvolver a sua trajetória. O maior legado da COP30, além dos acordos internacionais, pode ser inspirar-nos a pensar as nossas carreiras como ecossistemas vivos — dinâmicos, diversos e sustentáveis.

O tempo das carreiras lineares terminou. O que vem pela frente é uma era de entrelaçamento de competências, propósitos e aprendizagens. Nesse espaço híbrido, reside a verdadeira oportunidade de crescimento. Porque o sucesso, daqui em diante, não será apenas subir — será fazer crescer o mundo ao nosso redor.


Marta Lima, Executive in Residence na Católica Lisbon School of Business & Economics

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica-Lisbon School of Business and Economics

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