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"Mundo digital será uma das grandes marcas" do pontificado de Leão XIV

D. Nuno Brás

"Mundo digital será uma das grandes marcas" do pontificado de Leão XIV

15 mai, 2025 • Pedro Mesquita


O vice-presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia sublinha, em entrevista à Renascença, que os bispos e cristãos aprenderam “a não ter expectativas, mas a aprender com o Papa". Ainda assim, D. Nuno Brás acredita que "o mundo digital, a paz e a unidade serão as três grandes marcas” do novo Papa Leão XIV. “Não tenho grandes dúvidas disso".

"O mundo digital será uma das grandes marcas" do pontificado do novo Papa Leão XIV, afirma em entrevista à Renascença D. Nuno Brás, vice-presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE).

O também bispo do Funchal lembra que a União Europeia tem a paz na sua raiz e identidade. Acredita que "o Papa Leão XIV não deixará de se apoiar muito na realidade da União Europeia para aquilo que são os seus intentos. Ou seja, creio que o Papa dialogará com a União Europeia com este sentido de construção da paz e da paz no mundo".

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E essa é, igualmente, uma das missões da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia: "A COMECE surge como acompanhamento, obviamente, das atividades da União Europeia, mas também - sejamos claros - com o sentido de pressionar as instituições da União Europeia para aqueles que são os valores cristãos, a visão cristã do mundo e da Europa. E, portanto, sim, a COMECE não deixará de pressionar no sentido da construção da paz, seja no Parlamento Europeu ou na Comissão. E inventar, porque às vezes é preciso inventar caminhos para a paz".

Quanto às possíveis marcas deste pontificado, que agora começa, D. Nuno Brás acredita que "o mundo digital, a paz e a unidade serão as três grandes marcas deste Pontificado. Não tenho grandes dúvidas disso".

Enquanto vice-presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE), que expetativa é que tem para o pontificado de Leão XIV?

Em primeiro lugar, nós bispos e nós cristãos, creio que aprendemos a não ter expectativas, mas a aprender com o Papa. Ou seja, não fazermos nós de Papa: "se fosse eu o Papa, como é que eu faria?" Não sou, graças a Deus, e, portanto, aquilo que eu tenho, para já, é obviamente que aprender com o Papa.

Mas o que é que acredita que vai acontecer?

(Risos) Em primeiro lugar, a União Europeia é uma realidade essencial. Gostemos ou não, é uma realidade essencial no panorama internacional e é uma realidade essencial para a Igreja, porque a Igreja não vive no ar. Quer dizer, a Igreja vive no mundo dos homens, não é? Aquilo que é importante para o ser humano é importante para a Igreja.

Bom, o que é que isto significa? Significa que um Papa que até nasceu nos Estados Unidos, um Papa que tem uma alma latino-americana também, obviamente que olha para a União Europeia como uma realidade importante para a Igreja. E, portanto, tendo a União Europeia na sua raiz e identidade esta realização da paz, creio que o Papa Leão XIV não deixará de se apoiar muito nesta realidade da União Europeia para aquilo que são os seus intentos. Ou seja, creio que o Papa dialogará com a União Europeia com este sentido de construção da paz e da paz no mundo.

Francisco pediu insistentemente que as armas se calassem, apelou ao desarmamento. Aliás, na sua última mensagem "Urbi et Orbi", no domingo de Páscoa, Francisco apelou ao desarmamento. Acredita que este novo Papa Leão XIV seguirá esse esforço para uma mediação muito trabalhada?

Sim, eu não tenho dúvidas disso. Aliás, na passada quarta-feira, ele próprio disse que a Igreja está disponível para toda e qualquer mediação em todo e qualquer conflito. Vamos lá ver, a perceção internacional que todos nós temos é a de que estamos à beira de um conflito mundial e, portanto, em tudo aquilo que possa servir para construir a paz a Igreja irá sempre, sempre, sempre apoiá-la. E não deixará nunca de tomar iniciativas diplomáticas e de pressão para a paz, para evitar aquilo que seria uma catástrofe muito grande, que seria uma terceira guerra mundial.

E quanto a esse trabalho rendilhado, diplomático, difícil, será feito pela própria COMECE em pontes com a União Europeia?

Claro. A COMECE surge como acompanhamento, obviamente, das atividades da União Europeia, mas também - sejamos claros - com o sentido de pressionar as instituições da União Europeia para aqueles que são os valores cristãos, a visão cristã do mundo e da Europa. E, portanto, sim, a COMECE não deixará de pressionar no sentido da construção da paz, seja no Parlamento Europeu ou na Comissão. E inventar, porque às vezes é preciso inventar caminhos para a paz.

Portanto, neste capítulo acredita que estes caminhos da paz do Papa Leão XIV serão uma continuidade do pontificado de Francisco?

Não tenho dúvidas absolutamente nenhumas. Diria até, eventualmente, [caminhos de paz] mais reforçados, se isso é possível.

Entretanto, o Papa, numa das primeiras declarações que fez, explicou porque é que se chamou a si próprio Leão XIV. O Papa recordou a encíclica "Rerum Novarum", de Leão XIII, a propósito da dignidade no trabalho, mas já a pensar no futuro e neste mundo digitalizado...

Exato.

Por que caminhos é que poderá seguir o seu pontificado, nesta matéria?

Estamos à beira de uma revolução digital. Nós sabemos que ela está aí. Já não é, simplesmente, um futuro, não é um amanhã, é já um hoje ou um ontem. Ainda não sabemos o que é que ela vai trazer consigo.

Sabemos já, por exemplo, que os tradutores terão menos trabalho, porque a inteligência artificial fará todo esse trabalho. Portanto, haverá profissões que vão desaparecer, haverá outras que vão surgir, de qualquer forma estaremos diante de um mundo radicalmente diferente, como o mundo industrial foi diferente, foi radicalmente diferente do mundo agrário do século XIX.

A Doutrina Social da Igreja aplicada a esta nova realidade, por onde é que nos vai levar? De que forma é que se poderá dignificar o trabalho nesta revolução digital?

A inteligência artificial não vai permitir que todos vamos para o Algarve, com um copo de Martini, a descansar ao sol. Quer dizer, não vai pôr o ser humano a descansar ao sol. A inteligência artificial vai dar saltos, vai construir uma realidade social nova, mas vai exigir sempre o ser humano. Que ser humano é que vai surgir daqui?

Essa é a pergunta...

Sim, essa é a pergunta. E é na resposta a esta questão que precisamos de estar muito atentos, precisamente para que não deixemos o mundo resvalar, para um domínio da máquina sobre o ser humano, para que o ser humano se mantenha sempre com toda a sua dignidade e, portanto, fazermos esta distinção entre máquina e ser humano, por exemplo.

Acredita que será esta a marca do Pontificado de Leão XIV?

Eu penso que sim. Penso que este mundo digital, que aí está, será uma das grandes marcas. Eu diria, o mundo digital, a paz e a unidade. Estas serão as três grandes marcas deste pontificado. Não tenho grandes dúvidas disso.

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