30 set, 2025 • José Pedro Frazão
Os especialistas do sistema Copernicus expõem os efeitos do aquecimento dos oceanos, assinalando que o Oceano - visto como um sistema global - atingiu uma temperatura recorde de 21°C na primavera de 2024, com uma “aceleração contínua e constante do conteúdo de calor oceânico de 0,14 W/m² por década” desde 1960.
Os dados sustentam que o Atlântico Nordeste e mares adjacentes estão a aquecer a um ritmo duas vezes superior ao global, com um aumento de 0,27°C por década desde 1982. No Mar Mediterrâneo, o aquecimento da superfície do mar varou entre 0,37 e 0,41 graus centígrados por década entre 1982 e 2022.
O relatório do serviço Copernicus atualizam dados de observação sobre os oceanos em 12 estudos organizados em 4 capítulos. Por exemplo, mostra que as ondas de calor marinhas atingiram temperaturas recorde em 2023 e 2024, acima dos registos de 2015 e 2016 em 0,25°C. Em 2023, uma onda de calor marinha atingiu o Oceano Atlântico Norte Tropical, batendo todos os recordes anteriores.
“Atingiu o pico no Nordeste em maio, espalhando-se para sudoeste e chegando às Caraíbas no outono. Nas regiões leste e centro, o MHW manteve-se dentro das camadas superficiais, enquanto nas Caraíbas atingiu níveis mais profundos”, explica o relatório.
O documento indica que, ao longo do ano, mais de 99% dessa região foi afetada, com algumas áreas a registarem mais de 300 dias de condições de ondas de calor.
Na Europa, em 2024, ondas de calor extremas e severas ocorreram em países onde a 40 a 80% do emprego em economia azul está ligado a turismo costeiro, acrescentam os autores. O Mediterrâneo registou a mais longa onda de calor marinha de sempre, entre maio de 2022 e o início de 2023, que fez aumentar as temperaturas à superfície até 4,3 graus centígrados face ao normal.
Esse aquecimento das águas mediterrânicas levou a um aumento do número de espécies invasoras, “como os caranguejos-azuis do Atlântico e os vermes-de-fogo-barbudos, levando a pesca local à beira do colapso”.
O cenário de águas mais quentes favorece a subida do nível médio do mar. Este subiu 22,8 centímetros entre 1901 e 2024, de acordo com este relatório, atingindo valores recorde em 2024. Há uma aceleração da subida do nível do mar em 30% entre os anos 90 e a primeira década deste milénio.
Os autores alertam que esta subida das águas do mar ameaça 200 milhões de europeus que vivem em zonas costeiras e pondo em risco Património Mundial da UNESCO.
O relatório chama ainda a atenção para a acidificação dos oceanos que potencialmente prejudica a biodiversidade marinha. “Atualmente, mais de 10% dos hotspots de biodiversidade marinha estão a acidificar mais rapidamente do que a média global”, pode ler-se no documento do serviço Copernicus.
A publicação aborda ainda a poluição por plástico, com três quartos dos países que emitem mais de 10 mil toneladas de plástico situados perto de corais ameaçados ou em perigo crítico de extinção e de ecossistemas marinhos frágeis e críticos. “Cerca de 16% dos corais ameaçados e 30% dos que estão em perigo crítico de extinção são também afetados pelo rápido aquecimento ou acidificação dos oceanos”, sustentam os especialistas.
O documento aborda ainda o declínio do gelo marinho. Entre dezembro de 2024 e março de 2025, essa superfície gelada registou quatro mínimos históricos consecutivos, perdendo uma área quase duas vezes superior à de Portugal.