12 mai, 2025 • Fátima Casanova
Como evoluiu a escolaridade da população portuguesa nas últimas décadas?
A evolução tem sido muito positiva. Em três décadas, a escolaridade média da população residente em Portugal duplicou. Em 1991, a média era de cerca de 4 anos de estudos. Em 2021, subiu para os 8 anos. No entanto, continua abaixo da meta dos 9 anos definida em 1986, devido ao peso da população mais idosa, com níveis de escolarização mais baixos. Já os adultos mais jovens atingem, em média, os 12 anos de escolaridade obrigatória.
O que permitiu este progresso?
Um dos principais fatores foi a entrada massiva das mulheres no sistema de ensino. Entre os 25 e os 64 anos, as mulheres têm, em média, mais estudos do que os homens, sendo que esta diferença se inverte apenas nas gerações mais velhas. Atualmente, há uma geração de pais mais qualificada, com destaque para o nível de escolaridade das mães.
Que impacto tem esta evolução nas taxas de abandono escolar?
O impacto tem sido significativo. A taxa de abandono escolar precoce desceu de 63% para cerca de 12% em três décadas, e encontra-se agora abaixo dos 10%, o objetivo definido a nível europeu. O fenómeno está hoje mais presente no sul do continente e nos Açores. Há trinta anos, era no norte. Concelhos como Odemira e Vila Real de Santo António registam um aumento recente, embora longe dos níveis do passado.
E quanto à taxa de retenção?
A taxa de retenção tem estado baixa, mas os dados mais recentes mostram uma tendência de subida, especialmente no final do terceiro ciclo. Os rapazes continuam a reprovar mais do que as raparigas.
A escola está a conseguir reduzir desigualdades?
Sim, mas com limites. Os níveis mais elevados de escolarização concentram-se nos centros urbanos, como Lisboa, Porto e capitais de distrito. Ainda assim, há exemplos positivos em concelhos do interior, como Valpaços (Vila Real) e Vouzela (Viseu), onde os resultados escolares superam o contexto social e cultural. No entanto, o Atlas da Educação sublinha que a redução das desigualdades educativas não é suficiente para compensar as desigualdades do mercado de trabalho. Isso pode ajudar a explicar a emigração de jovens qualificados.
O que mais pesa no sucesso ou insucesso escolar dos alunos?
Segundo o Atlas, os alunos têm mais sucesso quando têm mães licenciadas e vivem em contextos com empresas de qualificação média. Pelo contrário, residir em concelhos com elevada taxa de desemprego, forte presença da agricultura ou grande densidade urbana está associado a piores resultados escolares.