17 set, 2025 • Anabela Góis
Neste Explicador Renascença procuramos explicações sobre a crise na saúde. Depois de mais um fim de semana sem urgências de obstetrícia na península de Setúbal, esperava-se que a ministra da Saúde apresentasse esta quarta-feira uma solução, no Parlamento.
Mas Ana Paula Martins limitou-se a confirmar que vai mesmo haver concentração de urgências, em breve.
O que a ministra da Saúde diz é que não há médicos para assegurar as três urgências dos hospitais do Barreiro, Setúbal e Almada, 24 sobre 24 horas. Por isso, a solução passa por criar uma urgência obstétrica regional.
A ideia de Ana Paula Martins é ter o serviço a funcionar em permanência no Hospital Garcia de Orta, que é o mais diferenciado, e manter o Hospital de Setúbal em contingência, ou seja, a receber casos enviados pela linha Saúde 24 e pelo INEM.
A ministra diz que não é possível assegurar a resposta de outra forma, porque a região é responsável por quase cinco mil partos por ano.
A ministra disse esta quarta-feira que a legislação já está pronta. A questão é que esta solução implica a concentração de recursos num único hospital, e isto tem de ser negociado com os sindicatos dos profissionais de saúde e com as Ordens dos Médicos e dos Enfermeiros. E essas negociações ainda não começaram.
Não é, pelo contrário. Os autarcas da região defendem que esta só pode ser uma solução de recurso, porque a aposta deve ser na atração de médicos para o SNS para que as três urgências possam funcionar em pleno.
A FNAM, que é uma principais estruturas sindicais dos médicos, também contesta porque diz que esta concentração vai prejudicar os utentes que vão deixar de ter cuidados de proximidade, e que as maternidades da Margem Sul servem uma área geográfica muito extensa, com concelhos separados por muitos quilómetros. Setúbal dá, por exemplo, apoio ao litoral alentejano.
A ministra da Saúde diz que seria preciso contratar, pelo menos, mais 30 obstetras só para manter as urgências de Setúbal e de Almada a funcionar sete dias por semana, 24 sobre 24 horas.
Ana Paula Martins diz também que tem tentado fazer contratações, que tem as vagas abertas, mas sem sucesso.
Falhou a contratação dos sete especialistas que Ana Paula Martins deu por garantidos em julho.
A ministra anunciou que o Hospital de Almada tinha conseguido contratar uma equipa que sairia do setor privado para o SNS, mas afinal parece que se antecipou e o Garcia de Orta só conseguiu garantir dois médicos. Três desistiram porque tiveram uma oferta melhor e outros dois estarão ainda em período de reflexão.