21 out, 2025 • André Rodrigues
Uma soma de falhas esteve na origem do acidente do Elevador da Glória. É o que indica o relatório preliminar do gabinete que investiga acidentes ferroviários.
O documento revelou que o cabo que se rompeu não estava certificado para equipamentos de transporte de pessoas, como era o caso do Elevador da Glória. É a conclusão mais significativa deste relatório.
Esse cabo esteve em uso durante praticamente um ano antes de ceder.
O relatório do Gabinete de Investigação e Prevenção de Acidente Ferroviários aponta falhas a vários níveis: além da rutura do cabo, havia problemas nos travões e fragilidades mecânicas nas cabinas.
Houve chamadas de atenção por parte dos guardas-freios e também de técnicos para sinais de desgaste de material e falhas recorrentes que não foram devidamente corrigidas, é outra das conclusões a reter. Para além da rutura do cabo, havia problemas no sistema de travagem, desgaste em componentes estruturais e ausência de mecanismos de redundância que poderiam ter evitado o acidente.
O relatório do gabinete de investigação de acidentes ferroviários fala em relatos de técnicos e antigos funcionários da Carris que diziam que o sistema apresentava sinais de degradação há vários meses, com travagens bruscas e ruídos fora do normal.
Além disso, as manutenções que, supostamente, teriam sido realizadas, não aconteceram. Portanto, é uma soma de situações que acabou por ter aquele desfecho trágico no dia 3 de setembro.
O relatório não tira uma conclusão definitiva sobre a responsabilidade legal pelo acidente. Isso fica para os tribunais. Mas pode ser - e vai ser, seguramente - uma peça importante para determinar essas responsabilidades.
Uma coisa é certa: a conclusão dos peritos é absolutamente demolidora para a Carris, tendo em conta as várias desconformidades técnicas e de organização que são apontadas.
Sim, defendendo-se das conclusões deste relatório. A Carris refere que a empresa responsável pela manutenção do elevador da Glória poderá não ter cumprido devidamente o contrato. E alega que o cabo que não estava certificado para ser utilizado no Elevador foi adquirido pela anterior administração.
Seja como for, a Carris poderá enfrentar sanções administrativas e judiciais. O Ministério Público já abriu um inquérito para apurar responsabilidades criminais, que poderão incluir negligência grave e homicídio por negligência.
No plano político, Carlos Moedas não foi implicado diretamente no relatório e, reagindo a estas conclusões, volta a afastar responsabilidade política direta - embora a Carris seja uma empresa de gestão municipal.
Numa resposta escrita enviada à Renascença, o presidente da Câmara de Lisboa insiste que o acidente teve origem em “causas técnicas e não políticas”.
A Câmara Municipal anunciou a criação de uma comissão independente para rever os protocolos de segurança e manutenção dos elevadores históricos para evitar a repetição de tragédias como a da Calçada da Glória que, recordo, matou 16 pessoas.