30 out, 2025 • André Rodrigues
É a operação policial mais mortífera da história do Brasil. Mais de 130 pessoas morreram no Rio de Janeiro depois da polícia ter desencadeado uma megaoperação contra o grupo criminoso Comando Vermelho, que é uma das maiores fações criminosas do Brasil.
É uma das mais antigas e influentes organizações criminosas do Brasil. O Comando Vermelho foi fundado em 1979, durante a ditadura militar brasileira, que levou muitos opositores para a mesma penitenciária onde estavam presos criminosos de delito comum.
Essa convivência resultou na criação da Falange Vermelha, que mais tarde evoluiu para Comando Vermelho. Inicialmente, o grupo foi fundado com o objetivo de combater a violência policial e os maus-tratos nas prisões, mas rapidamente se transformou numa fação criminosa voltada para o tráfico de drogas e para o controlo do território.
O facto deste grupo reunir presos comuns com presos políticos gerou troca de conhecimento: os presos políticos ensinaram táticas de organização e resistência, enquanto os criminosos comuns aplicaram essas estratégias ao crime organizado.
O Comando Vermelho atua sobretudo no tráfico de droga, tráfico de armas e extorsão num esquema que assenta no controlo das comunidades onde se insere.
Uma das estratégias é a intimidação através de milícias armadas e barricadas; venda de droga em pontos estratégicos, com uso de armamento pesado.
De resto, tal como na génese deste grupo, os operacionais do Comando Vermelho são, em regra, jovens em áreas marginalizadas.
Além disso, o grupo também exerce uma forte influência no sistema prisional brasileiro, onde mantém uma hierarquia e um código de disciplina entre os seus elementos.
Violência gera violência. Daí a dimensão trágica da operação que foi lançada há dois dias. Mais de 130 mortos já estão contabilizados. Isto porque a resistência contra as polícias utiliza armamento de guerra. Foram inclusivamente utilizados drones para lançar explosivos contra as forças policiais.
Não só tem influência como chega a funcionar como um Estado dentro do Estado, sobretudo nas áreas onde a ação do Estado é ineficaz.
O Comando Vermelho oferece serviços como segurança, justiça paralela e até ajuda financeira, fomentando a dependência e a legitimação junto das comunidades.
Por outro lado, o grupo promove a corrupção das polícias. Muitos agentes recebem subornos para ignorar atividades do grupo ou, até mesmo, para fornecer armamento.
E, finalmente, controla e impõe regras em alas inteiras de estabelecimentos prisionais, conseguindo dessa forma garantir que controla a fidelidade dos seus elementos nas cadeias.
São organizações diferentes com uma rivalidade histórica. Enquanto o Comando Vermelho surge no contexto da ditadura militar e está mais focado no controlo territorial no estado do Rio de Janeiro, o PCC surgiu em São Paulo na década de 90.
Tem uma expressão nacional e internacional, através de alianças estratégicas com outras fações dentro e fora do Brasil.
São conhecidas as ramificações em vários países da América Latina: Paraguai, Bolívia e Colômbia. Até em Portugal.
Em junho, o Ministério Público de São Paulo dava conta da presença de 87 membros do PCC em Portugal.
De resto, o país só fica atrás de países como o Paraguai, a Bolívia e a Venezuela em número de elementos fora do Brasil.
O PCC atua em atividades como tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e até investimentos em setores legais como o futebol.