03 nov, 2025 • André Rodrigues
Afinal, a grávida que morreu no Hospital Amadora-Sintra já era acompanhada desde julho.
Inicialmente, a ministra da Saúde disse que a mulher só tinha sido observada dois dias antes da morte.
O Explicador Renascença esclarece.
Aparentemente, sim. Na sexta-feira, a ministra da Saúde esteve no Parlamento a prestar esclarecimentos sobre este caso. A informação que deu aos deputados baseou-se no primeiro comunicado da Unidade Local de Saúde Amadora-Sintra, que apenas mencionava a consulta de obstetrícia realizada a 29 de outubro.
No entanto, só este domingo é que a ULS confirmou que esta mulher de 38 anos era seguida desde julho nos cuidados de saúde e só nesse momento é que a ministra tomou conhecimento da situação.
Portanto, Ana Paula Martins não faltou à verdade. Mas estaria mal informada.
Não, o comentário da ministra não se referia a este caso concreto. Ana Paula Martins quis referir-se em termos genéricos aos desafios do acompanhamento de grávidas e mencionou, em abstrato, casos de mulheres que não têm acesso regular aos cuidados de saúde, que não são seguidas, ou que nem sequer têm telemóvel, o que dificulta o contacto por parte dos serviços.
Portanto, a intenção seria ilustrar situações de vulnerabilidade do sistema, mas a descrição não corresponde ao caso específico desta utente guineense que, como veio a confirmar-se, já era acompanhada.
Ainda assim, Ana Paula Martins não se livrou da polémica e foi fortemente criticada, tanto pela oposição como pela família da grávida, que se mostrou indignada com as afirmações da ministra da Saúde.
A Unidade Local de Saúde do Amadora-Sintra justifica a situação com a inexistência de um sistema de informação clínica integrado. Portanto, as consultas no centro de saúde não estavam automaticamente acessíveis aos serviços hospitalares.
Só depois de uma verificação manual é que se confirmou o acompanhamento da utente desde julho, com duas consultas de vigilância da gravidez a 14 de julho e 14 de agosto.
Seguiram-se mais duas consultas no serviço de obstetrícia do Amadora-Sintra: a 17 de setembro e 29 de outubro, dois dias antes da morte.
Ainda não há responsáveis identificados. O caso está a ser investigado internamente pelo Hospital Amadora-Sintra e também pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde.
No entanto, a Unidade Local de Saúde reconhece que a ausência de um sistema de informação clínica dificulta a partilha de dados entre os cuidados de saúde primários e o hospital.
O que pode comprometer a continuidade dos cuidados e a segurança dos utentes, especialmente em situações complexas como foi este caso.