15 jan, 2025
O último livro de Anne Applebaum (Autocracia, Inc. Bertrand Ed.) é dedicado aos otimistas. Não se trata de apreço da autora pelos otimistas; pelo contrário, Anne Applebaum recorda erros que otimistas provocaram e provocam.
Antes do colapso do comunismo soviético não faltaram vozes, na Europa e nos EUA, preconizando uma aproximação económica à União Soviética, prevendo que assim se acelerava a transição da Rússia para uma democracia liberal. Putin aproveitou essa tendência para prolongar no tempo um discurso elogiando o regime democrático, pelo menos até à invasão da Ucrânia. A partir daí não houve mais encobrimentos sobre as verdadeiras intenções de Putin.
Frequentemente a tendência “otimista” manifestava-se na ideia de que um aumento do comércio com a Rússia iria incentivar a evolução democrática do regime russo. O alemão Willy Brandt, por exemplo, defendia que um maior intercâmbio com a Rússia, através do comércio e da multiplicação de gasodutos, só poderia favorecer a democratização daquele país. W. Brandt não receava que a Alemanha ficasse dependente da União Soviética. A história não lhe deu razão.
Mais tarde o colapso do comunismo soviético deu lugar a afirmações sobre o “fim da história”, como se o mundo democrático tivesse atingido a perfeição final. Foram manifestações “otimistas” daquilo que os ingleses chamam wishful thinking, um pensamento que toma os seus desejos por realidades. Mais recentemente assistimos a posições desse tipo quanto à China.
Anne Applebaum acusa também muitos dos que, a pretexto de um maior intercâmbio económico com os países comunistas, entraram em esquemas fraudulentos de negócio, agravando a corrupção. Escreve ela que “a cleptocracia e a autocracia andam de mão dada, reforçando-se mutuamente”.
Francisco