02 jun, 2025
O panorama político internacional está cheio de ameaças à democracia. Também por isso lhe tenho dedicado a maior parte destes meus artigos.
Talvez a evolução mais preocupante seja a multiplicação de partidos que se reclamam de uma direita não democrática. Basta pensar nos EUA e no quase total domínio do “trumpismo” no partido republicano. E Trump é presidente dos EUA...
Também por cá a subida do Chega preocupa quem não gostaria de voltar a um regime não democrático, meio século após o 25 de abril. Deve o PSD, que reforçou o número de deputados, renegar o célebre “não é não” e desenvolver relações privilegiadas com o Chega?
Julgo que não. E permito-me citar o comentador mais esclarecido no campo da direita democrática, Francisco Mendes da Silva, no seu último artigo no Público de 30 de maio. Se o crescimento do Chega prosseguir, como deve reagir a AD? “A única estratégia admissível, para mim - escreve Francisco M. S. - é a da fidelidade férrea aos princípios. Se o Chega atingir o poder, que o atinja sozinho, sem arrastar toda a direita democrática...”
Esta fidelidade aos princípios é racional, pelo menos da parte de quem preza a liberdade que nos trouxe o 25 de abril de 1974. O PS sofreu uma pesada derrota nas últimas eleições, mas é um partido democrático. Por isso considero que os socialistas estão mais próximos da AD do que a AD se encontra em relação ao Chega.
Claro que o PS procurou empurrar a AD para os braços do Chega, como se não houvesse uma diferença de fundo entre a direita democrática e a outra, a do Chega. Foi um dos erros cometidos pelo PS, que agora deverá ser revisto por um partido fundador da democracia portuguesa.
Celebrámos há pouco os 50 anos de democracia em liberdade. Haja, por isso, cuidado nas relações com um partido que alberga os saudosistas da ditadura.