Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​O drama do transporte ferroviário

29 set, 2025 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Ao contrário do que aconteceu na maioria dos países europeus, Portugal não tem valorizado o transporte ferroviário. Um prejuízo sobretudo para quem não possui automóvel.

Reabriu ontem a linha da Beira Alta, que esteve encerrada durante três anos, para obras. Mas não se justifica deitar foguetes. Este investimento de mais de 600 milhões de euros não traz redução do tempo de percurso, que se mantém igual ao que era em 2001, como informou o jornalista Carlos Cipriano no jornal Público.

Portugal tem um problema com o caminho de ferro. Enquanto os outros países europeus apostaram a sério na ferrovia, por cá por este meio de transporte para passageiros e mercadorias estagna, ou quase, desde há muitos anos. Viseu é uma cidade portuguesa de mais de 100 mil habitantes. Mas é também a única cidade da Europa com mais de 40 mil habitantes sem ligação ferroviária.

Nos outros países europeus o comboio já muitas vezes substitui o transporte aéreo para percursos até 600 quilómetros. Por cá nem se fala disso.

70% das exportações portuguesas têm como destino outros países europeus. Mas 80% dessas exportações chegam à Europa por via rodoviária...

O predomínio da rodovia penaliza os milhões de portugueses que não têm dinheiro para comprar um automóvel. Por isso combater o atraso na modernização do caminho de ferro é também um imperativo de justiça social.

Sucessivos governantes de Portugal têm usado o problema da bitola (distância entre carris) para adiar investimentos na ferrovia. A bitola ibérica, que prevalece em Espanha e Portugal, é mais larga do que a bitola europeia. Para adotar a bitola europeia Portugal necessita que os espanhóis passem também a usar essa bitola.

Ou seja, é aqui indispensável um acordo luso-espanhol. Se as relações entre os dois países são boas e saudáveis desde há muitos anos, porque não se avançou para um acordo nesta matéria? Não sabemos e não vemos que o problema seja sequer abordado publicamente pelos nossos governantes. Até quando?

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