06 out, 2025
A democracia é um regime político relativamente recente. Por isso há elementos da democracia que só com dificuldade são plenamente aceites por alguns contemporâneos nossos.
Um dos traços da democracia que por vezes custa a entender é que, ao contrário do que acontecia nos regimes não democráticos, o derrotado político não é eliminado pelo vencedor. Em democracia quem é hoje derrotado numa eleição pode não ficar para sempre nessa situação; poderá vencer a eleição seguinte. E muito menos é preso ou até fisicamente eliminado.
Claro que os ditadores e os políticos autoritários não encaram a vida política desta maneira. Por isso esforçam-se por eliminar quem se lhes opõe, prendendo-os ou pior.
Trump é presidente de uma das mais importantes democracias do mundo. No entanto, se a forte tradição democrática americana consegue travar alguns dos seus instintos antidemocráticos, noutros casos torna-se claro que Trump encara os opositores não como adversários, mas como inimigos, que importa eliminar.
Por isso Trump não distingue militares de polícias. E cada vez mais coloca militares a fazer de polícias. Trata-se de combater o inimigo interno, diz ele.
O inimigo interno para o atual Presidente dos EUA é o que ele designa de esquerda radical, na qual inclui os governadores de estados democratas. Curiosamente, Trump não considera Putin um inimigo, até já simpatizou com ele...
Naturalmente que os militares americanos se sentem mal quando os obrigam a fazer de polícias, tarefa para a qual não foram treinados. Se fosse para atacarem um qualquer tenebroso grupo externo, ainda poderiam tolerar uma intervenção. Mas o seu papel numa democracia não é o que Trump insiste em lhes atribuir.
Por outras palavras, assim a democracia americana torna-se menos democrática.