08 out, 2025
A humorista Joana Marques ganhou na justiça uma ação que lhe tinha sido posta por pessoas que haviam sido alvo da sua troça. Sem conhecer o processo em causa, julgo ser em princípio positivo que a liberdade de expressão dos humoristas seja reconhecida pela justiça.
Significa isto que os humoristas não devem ter limites? Claro que não. Seria inaceitável que uma pessoa viesse troçar no espaço público de alguém que sofresse de um defeito na fala, por exemplo.
O semanário The Economist aborda no seu último número a problemática do humor e da política. Recorda uma piada envolvendo Estaline: o ditador russo perdera o cachimbo, que acaba por encontrar atrás do sofá; “impossível”, diz o seu chefe de gabinete, pois “três pessoas já confessaram que o roubaram!”.
Este tipo de crítica usando o humor é frequente em regimes autoritários, como o que em Portugal foi derrubado em 25 de Abril de 1974. Por vezes, mas é raro, o autocrata tem uma atitude desprendida quanto às graças de que é alvo. “Se dizem piadas a meu respeito, afirmou Brezhnev, é porque gostam de mim”.
Lembra o Economist que os nazis alemães baniram dos écrans o extraordinário retrato satírico de Adolf Hitler desempenhado em 1940 por Charlie Chaplin - mas que o Fuhrer o terá visto duas vezes...
Já Trump, por exemplo, parece receber com manifesto e crescente desagrado as piadas de que é alvo. Para ele, exercer o poder implica calar a boca dos seus adversários.