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Contado Ninguém Acredita. É possível ser de esquerda e ser contra o excesso de imigrantes

Henrique Raposo

Contado Ninguém Acredita. É possível ser de esquerda e ser contra o excesso de imigrantes

26 mai, 2025 • Sérgio Costa , Olímpia Mairos


Para o comentador, é preciso olhar para as condições socioeconómicas das várias regiões do país e “olhar para o país a partir do ponto de vista de quem está na mó de baixo”.

O comentador da Renascença Henrique Raposo admite que é possível ser de esquerda e ser contra o excesso de imigrantes.

“É possível fazer esse argumento”, diz, considerando que “até é desejável que a esquerda desenvolva um argumento pela imigração regulada, ou seja, contra o excesso de imigração, recuperando uma coisa que perdeu, a luta de classes, a sensibilidade de classe, olhar para o país a partir do ponto de vista de quem está na mó de baixo”.

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O comentador faz o paralelo com um outro tema que é notícia esta segunda-feira na Renascença: a habitação, com as imobiliárias a alertarem que o país esgotou a capacidade para novas construções muito pela falta de pedreiros ou carpinteiros.

“Boa parte das discussões que temos sobre habitação caem pela base porque esquecem esse pormenor. Onde é que estão os pedreiros? Importa recuperar esta análise socioeconómica, porque a outra hipótese é pensarmos que os algarvios, que os alentejanos e que a malta dos subúrbios de Lisboa são mais racistas que o resto do país”, aponta.

Segundo Raposo, essa hipótese pode ser testada, no entanto, considera-a errada.

“Eu acho que a hipótese correta são as condições socioeconómicas. Porque em bom português é: como é que as pessoas ganham a vida? Como é que as pessoas ganham a vidinha?”, assinala.

No seu espaço de opinião n’As Três da Manhã – Contado Ninguém Acredita –, Henrique Raposo lembra que o Sul sempre teve uma característica muito especial que se prende com o emprego que é sazonal.

“Quando ia ao Alentejo, ficava sempre espantado porque os meus tios só trabalhavam em três ou quatro períodos: era o período do arroz, do tomate e da cortiça. Depois paravam”, lembra Raposo, explicando que daí vem a anedota de que os alentejanos não fazem nada.

“No Algarve é igual. Tem a ver com a sazonalidade do turismo. E são sobretudo as pessoas que, obviamente, têm poucos estudos, porque não puderam ou não quiseram estudar. E aquela economia no Algarve gera aquilo que nós, aqui em Lisboa, chamamos de biscatos. As pessoas compõem o seu salário, que não é um salário através de biscatos”, explica.

“Aquela ideia de que os imigrantes vêm para fazer aquilo que os portugueses não querem fazer, no contexto algarvio, não é bem assim. Estas pessoas, os algarvios desta classe social, compõem o seu ganha-pão do ano todo, concentrando-se no Verão, na Páscoa e na Passagem de Ano”, acrescenta.

Por isso, sublinha o comentador, se aparece “aquilo que os velhos marxistas chamavam o exército de substituição do trabalhador, ou seja, imigrantes que aparecem, isso baixa imediatamente o preço da jorna”.

“No Alentejo antigo, os alentejanos odiavam de morte os beirões que desciam na altura da ceifa. Ao descer, havia um exército de substituição para fazer a ceifa que baixava imediatamente o preço do trabalho. Não eram racistas contra os beirões”, remata.

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