06 jun, 2024
A política interna está ao rubro com as eleições europeias à porta. Mas nestas eleições jogam-se destinos mais importantes do que a escolha entre Sebastião Bugalho e Marta Temido. Mais do que saber se o Governo vai ganhar ou perder com os resultados de domingo, importa conhecer que Europa vamos ter no Parlamento Europeu, a partir desse dia.
Se a extrema-direita crescer como nunca, nunca a União Europeia esteve tão perto da desintegração.
O populismo de extrema-direita fez das fraquezas europeias bode expiatório para quase tudo o que de mau sucede, em cada um dos países membros.
Os movimentos de extrema-direita europeus têm sido encorajados e insuflados a partir do ‘trumpismo’, com a exceção da Frente Nacional, em França, que já cá anda há muitos anos.
Os ventos de extrema-direita fazem também o encanto de Moscovo (que ativamente os estimula) ao conduzirem à desestabilização interna da Europa e à desejada quebra da unidade europeia no apoio à Ucrânia.
A extrema-esquerda não é menos perigosa para o projeto europeu. Sucede, porém, que neste momento o esquerdismo perdeu cor e votos e não constitui ameaça eleitoral comparável.
Em todo o caso, os movimentos de extrema-esquerda europeus, incluindo em Portugal, são também herdeiros legítimos e diretos do marxismo-leninismo, cujo expoente foi a União Soviética.
E embora tais movimentos sejam agora mais fracos nas urnas do que no passado, eles criaram condições objetivas para que o populismo de extrema-direita crescesse e desse cartas.
Ao pressionar para uma rutura cultural - fraturante, permanente e insaciável - a extrema-esquerda (e assim foi, manifestamente, o caso da extrema-esquerda portuguesa) abriu espaço para uma reação feroz de quem, ao longo dos anos, se sentiu (mal ou bem) agredido ou mesmo violentado.
O terreno para o crescimento da extrema-direita foi semeado de forma incauta precisamente pela extrema-esquerda. Anos e anos de políticas fraturantes abriram espaço para alternativas de sinal ferozmente contrário.
Perante o combate cultural permanente da extrema-esquerda - que até pretende eliminar a objeção de consciência em determinados atos médicos, impondo a sua visão do mundo a quem manifestamente não a partilha - também o centro político fraquejou na maioria dos países da União.
O centro (mais à direita ou mais à esquerda) perdeu valores, desnatou-se e acomodou-se. Pragmático, deixou cair convicções e valores, na esperança de não perder o suposto comboio da ‘modernidade’.
Veja-se, com raras exceções, como se comportaram muitos dos representantes do chamado centro político ao longo dos anos, em temas como aborto e eutanásia.
Veja-se como o centrismo europeu consentiu ou defendeu que as raízes judaico-cristãs fossem afastadas do texto constitucional da União Europeia (cujos pais fundadores, já agora, eram democratas – cristãos publicamente assumidos).
Sem convicções claras, o centro político também contribuiu, objetivamente, para os crescimentos da extrema-direita; ainda que boa parte dessa chamada extrema-direita use as convicções num sentido puramente utilitário – ganhar votos e aceder ao poder.
A defesa do direito à greve das forças policiais (e também das Forças Armadas?) mostra como o populismo da extrema-direita é até mais forte do que a sua ideologia. Ideologicamente a extrema-direita nunca poderia defender um tal direito.
Como, se invoca a cultura cristã, nunca poderia a extrema-direita propor uma linguagem e uma política violentas face aos imigrantes que antes de mais são pessoas com a mesma dignidade humana que tinham ou têm os nossos emigrantes quando procuravam ou procuram no estrangeiro, aquilo que não encontravam ou não encontram em Portugal.
De resto, Portugal é hoje um país envelhecido, fustigado por décadas de políticas anti natalistas que a extrema-esquerda orgulhosamente impôs e o centro resignadamente consentiu. Por isso, sem imigração (embora com regras claras e combate às redes de tráfico humano) o futuro será mais difícil. Já hoje, sem imigrantes, boa parte da economia portuguesa entraria em colapso.
A complexidade que o mundo vive exige escolhas responsáveis.
Os tempos aconselham o voto em partidos moderados, dando-lhes o respaldo eleitoral necessário para evitarem uma Europa ainda mais frágil que faria as delícias de Moscovo, Pequim e, seguramente, de Donald Trump.