08 mai, 2025
A atenção de um mundo tão diverso, desigual e incerto, à eleição do Papa é um sinal singular, nos tempos que vivemos.
Milhões e milhões de pessoas em todo o mundo, crentes uns, outros nem tanto, gente de todas as condições e culturas e mesmo de outras fés, defensores, críticos e adversários da Igreja Católica e ainda governos e centros de decisão internacional – todos acompanharam a doença e morte de Francisco, depois o funeral e o Conclave que o seu falecimento suscitou e que agora culmina na eleição do novo Papa, Leão XIV.
Não há, de facto, outra instituição no mundo, cuja liderança desperte tanta atenção e curiosidade.
Este interesse não é novo, mas torna-se ainda mais significativo nas sociedades que mais se foram afastando da Igreja e de Deus. Sociedades cuja cultura privilegiou o visível e desvalorizou o invisível. Sociedades focadas no material em detrimento do espiritual.
Sociedades hipertecnológicas e digitais que acompanharam ao segundo uma eleição comunicada, em primeira mão, por sinais de fumo.
Sociedades viciadas em ecrãs, mas agora focadas numa chaminé, primeiro, numa varanda, depois.
Os que tanto falam em crise da Igreja terão seguramente dificuldade em justificar a singular atenção, universalmente dedicada à escolha do sucessor de Pedro e chefe da Igreja Católica.
Porém, para além de todas as dúvidas ou críticas e apesar dos escândalos que as dioceses e a própria Santa Sé reconhecem e combatem, o mundo percebe na Igreja e no Papa, uma liderança com peso e alcance diferentes.
Mesmo os não crentes identificam nos Papas que melhor conheceram a credibilidade que falta a muitos outros líderes.
É difícil encontrar figuras de relevo internacional que nas últimas décadas tenham excedido ou aproximado do nível de São João Paulo II, Bento XVI ou Francisco - todos muito diferentes, todos profundamente crentes e cada um a seu modo, altamente influentes.
Para os católicos, cada Papa é o sucessor de Pedro que nos confirma na fé em Jesus, mas para muitos não crentes, o chefe da Igreja Católica é uma referência internacional de paz e compaixão que não encontra paralelo, a nível mundial.
E se isso é verdade nas últimas décadas, basta olhar para os atuais líderes de grandes ou médias potências mundiais, para se perceber ainda melhor o contraste.
Em vez de confiança inspiram receio, nalguns casos medo e noutros pânico. E outros tantos governantes, pelo contrário, são suficientemente insípidos ou frágeis para resistirem ou contrabalançarem a atuação de todos os anteriores.
Por outro lado, e apesar de ser chamada a ler os sinais tempos, a consistência da Igreja confere-lhe especial autoridade.
Mesmo nas divergências é reconhecida à Igreja uma estrutura de pensamento e doutrina, que empresta maior coerência e solidez à sua atuação; ainda que pecadora, como a Igreja, feita por homens, se reconhece e confessa.
Claro que a escolha de Leão XIV, um Papa que nasceu em Chicago, foi bispo no Peru e também fala português, vai agora ser analisada, escalpelizada, escrutinada.
O mundo vai querer saber quem é, o que pensa, como reage, por que razão chegou até aqui.
Crentes e não crentes, próximos ou distantes, todos querem saber tudo. E tudo isso é normal. O interesse pela eleição papal, acompanhada à escala mundial, confirma a universalidade da Igreja e da figura do Papa.
Ao escolher o nome de Leão XIV, o cardeal Prevost parece recuperar o legado de Leão XIII - o Papa que no final do século XIX escreveu uma peça essencial da doutrina social da Igreja, a encíclica “Rerum Novarum”, que aponta para a “conciliação das classes” e não para “a luta de classes” que, na altura, o marxismo emergente receitava, como grande solução para os problemas sociais.
Por outro lado, no dia em que se celebra precisamente o fim da Segunda Guerra Mundial, a primeira alocução de Leão XIV soa a um profundo e vigoroso apelo à paz. Uma paz desarmada, desarmante, humilde e perseverante, nas palavras que cuidadosamente escolheu.
Leão XIV começou pela paz e pela paz terminou ao convidar o mundo a rezar com ele uma Avé Maria.
Maria, também ela celebrada pela Igreja, como a rainha da paz.
Carregado de incertezas e ameaçado pelas guerras, o mundo guardou tempo e espaço, para acompanhar ao segundo a escolha do sucessor de Pedro. Uma vez escolhido e anunciado com o fumo branco da paz, era bom que fosse escutado.