09 mai, 2025
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Se algum líder político pudesse escolher qualquer semana do ano para arrancar uma campanha eleitoral, nenhum escolheria, por certo, esta.
Na antecâmara das celebrações de Fátima e de um jogo talvez decisivo para o campeonato nacional de futebol e com um Conclave a decorrer (culminando no anúncio de um novo Papa ao final de uma quinta-feira), a política nacional ocupou espaço na agenda de “coisas em que pensamos durante o dia”, mas terá sido, para muitos de nós, um lugar menos relevante do que seria expectável noutras circunstâncias.
A semana da campanha eleitoral foi, apesar disso, marcada por alguns momentos de grande importância e que importa fixar, precisamente para que não se percam nas margens de tudo o resto. Alguns deles, de forma direta ou indireta, surgiram na sequência da reunião de líderes históricos no aniversário do PSD.
O mais relevante foi a confirmação de que a relação entre Passos Coelho e Luís Montenegro ainda não é equilibrada; o ex-líder investe muito menos na proximidade entre ambos do que o atual desejaria.
O homem que, no ano passado, nos disse que este ainda não era o seu momento, fez questão de dizer agora que o país precisa de fazer reformas para superar vulnerabilidades estruturais que ainda são manifestas.
E disse também que esse espírito reformista não depende da estabilidade política. Um recado, portanto. Um recadão, a quem não se importava de ser seu discípulo.
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O segundo foi o reaparecimento de Cavaco Silva. Esse sim, a “pôr as mãos no fogo” pela probidade ética de Montenegro. Algo que, como em momentos anteriores, alimentou reações de outras forças políticas, sobretudo centradas na própria idoneidade do ex-presidente da República e na sua queda para declarações pouco felizes.
Terceiro e último momento ainda promovido no território do PSD – a proposta de um ciclo político com oito anos de duração. Certamente embalado pelas sondagens e por aconselhamento estratégico que, de forma eficiente, o soube manter a flutuar acima das polémicas que carrega, Luís Montenegro já não quer apenas que o deixem trabalhar, mas que o deixem trabalhar durante muito tempo. Não é bem um pedido de maioria absoluta; antes, de uma maioria longa.
À margem deste domínio que o PSD soube manter sobre a nossa escassa atenção dois outros episódios emergiram.
Por um lado, a possibilidade de, num futuro arranjo parlamentar, vir a ser viável uma revisão da Constituição sem o até aqui necessário encontro de ideias entre PSD e PS (dependendo da votação obtida por AD, IL e Chega). Uma possibilidade que claramente entusiasmou o líder da IL, Rui Rocha, e que alarmou a Esquerda.
Por outro lado, a confirmação de que a campanha do Partido Socialista parece centrar-se mais no líder da AD do que nas propostas diferenciadoras presentes no seu próprio programa.
Tivemos, também, os confrontos quase encenados de André Ventura com grupos de cidadãos (assumindo, ao máximo, o papel de vítima), a passagem “ocasional” (só para TV ver) de Luís Montenegro por Fátima e três novos episódios da série “Bom Partido”, de Guilherme Geirinhas, em que ouvimos o Luís falar de cortinados, a Mariana de cerveja e o Paulo da sua tartaruga.
Talvez a próxima semana – mais livre de eventos não políticos de grande escala e de “espuma” – nos permita ouvir os partidos sobre temas que, para já, continuam muito ausentes – a Defesa, a Justiça, a Educação ou a Ciência.