16 mai, 2025
Uma campanha para eleições que ninguém dizia querer, mas que todos os partidos preparavam há muito tempo chega agora ao fim, com mais sinais de desgaste e de incerteza do que demostrações de mobilização. De formas diferentes mas com discursos previsíveis, todas as forças políticas tentaram capitalizar propostas de governação mais estável, sendo que ninguém fez questão de explicar isso como detalhe e, sobretudo, à luz das dificuldades que se antecipam a partir das indicações de inúmeras sondagens.
Se há cerca de uma semana Luís Montenegro apostava num governo longo, a proposta foi esquecida nestes dias finais em que se soube da existência de conversas prévias com a Iniciativa Liberal e em que a ‘nuvem’ da Spinumviva o afastou do registo de serenidade bem treinada; uma noite mais mal descansada, talvez, levou-o a uma explosão com uma pergunta de um jornalista da SIC...presumindo que era da RTP. A ligeira rachadela no verniz de um trabalho competente da equipa de Comunicação da AD deixa antever um cenário pouco simpático e sugere, talvez, uma explicação para o facto de as sondagens não indicarem nunca um crescimento significativo da adesão à tão polida mensagem – os portugueses, mesmo os que votam na AD, não gostam do que se percebe no caso Spinumviva e não gostam de ter sido chamados novamente a eleições porque o assunto não foi esclarecido.
O PS teve uma campanha condicionada, com um líder que sem tempo para se afirmar foi chamado a eleições duas vezes em dois anos e com uma estratégia pouco clara, oscilando entre os ataques à credibilidade de Montenegro e indicações de que o partido está mais bem preparado para governar em minoria do que a AD. A aposta no contacto com eleitores mais jovens foi tentada, mas com métodos muito pouco eficientes; neste aspeto particular o problema do PS é real, crescente e vai necessitar de ajuda muito mais qualificada.
O Chega teve uma campanha curiosa. Se, por um lado, André Ventura se apresentou nos inúmeros debates ensaiando posicionamentos de maior autonomia e de apelo ao crescimento, por outro, as duas últimas semanas assistiram a um regresso às declarações mais inflamadas e belicosas. É como se – entalado num sistema que, para já, o rejeita – não seja claro o caminho nem seja clara a forma mais eficiente de mobilizar mais gente, não alienando os seus (o foco na comunidade cigana é bem disso exemplo).
A IL apresentou-se com um líder muito mais contido na conhecida exuberância de comentários e doseando com muito mais cuidado algumas das suas propostas radicais para a gestão do Estado, em busca de um alargamento da sua presença à custa de desiludidos com o bloco central. Funcionou melhor do que no ano passado, mas o voto útil pode desmanchar um embrulho mais cuidado.
À Esquerda, Rui Tavares confirmou-se como um excelente tribuno – muito sereno, muito confiante em todos os tipos de ambientes – mas a campanha do Livre continuou a ser ainda muito focada nele próprio. Embora as sondagens sugiram um crescimento, a ideia de um partido de um homem só ainda não foi completamente afastada. Paulo Raimundo teve uma prestação muito melhor do que há um ano e é natural que a CDU continue a adiar, com um bom humor que conquista simpatias alargadas, o seu tantas vezes anunciado desaparecimento.
Já o BE fez uma espécie de ‘all in’ com a chamada de líderes históricos e com uma alteração de discurso – mais focado em situações de vida concretas – mas percebeu-se um nervosismo crescente, alimentado pela pressão no voto útil no PS e pelo crescimento do Livre. O PAN deixou, do ponto de vista da transmissão da mensagem, de ser uma presença original e diferenciadora e pode muito bem vir a ser penalizado por isso.
Quanto a temas e debates esta foi uma das mais pobres campanhas de sempre; o pouco que se discutiu nos debates de televisões e rádios particamente desapareceu na agitação das ‘bocas diárias’ e sua reações e áreas como a Justiça, a Educação, a Ciência, a Defesa ou a situação internacional mal foram tocadas.
Vamos, no futuro, recordar desta campanha alguns momentos impactantes, mas nenhum deles diretamente ligado com propostas das forças políticas – os episódios de saúde de André Ventura ou a enorme falta de bom senso de um candidato presidencial, por exemplo – e isso diz-nos quase tudo o que há para saber sobre a fragilidade do tempo que vivemos mas deve, também, ser um impulso para uma participação cidadã mais ativa.
E se tudo ficar mais ou menos na mesma? Amanhemo-nos. Serão os nossos escolhidos e vamos ter que aprender a valorizar o exercício da Política em situação de diversidade. Pelo menos durante um ano...