Novas Crónicas da Idade Mídia
O que se escreve e o que se diz nos jornais, na rádio, na televisão e nas redes sociais. E como se diz. Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo são quatro jornalistas com passado, mas sempre presentes, olham para as notícias, das manchetes às mais escondidas, e refletem sobre a informação a que temos direito. Todas as semanas, leem, ouvem, veem… E não podem ignorar. Um programa Renascença para ouvir todos os domingos, às 12h, ou a partir de sexta-feira em podcast.
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Trump: 100 dias de tropelias

Novas Crónicas da Idade Mídia

Trump: 100 dias de tropelias

09 mai, 2025 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo


O conclave para a eleição de um novo Papa, a campanha eleitoral e os debates políticos, a greve da CP e os 100 dias de Trump na Casa Branca são alguns dos temas em debate nesta edição das Novas Crónicas da Idae Mídia.

O Conclave de Roma dominou a atenção dos Media de todo o Mundo. Esta semana (quarta, 7) o primeiro dia de votação produziu fumo negro, que demorou mais de 2 horas a sair pela chaminé da Capela Sistina. Nas 3 votações seguintes (quinta, 8) os Cardeais elegeram Robert Francis Prevost que adotou o nome de Leão XIV para o seu pontificado. O tempo da decisão reflete o padrão das eleições dos últimos Bispos de Roma. Ainda bem. As novas emergências do Planeta aconselhavam uma decisão rápida. As lágrimas de felicidade nos rostos da Praça de São Pedro espalharam-se pelo Mundo.

A campanha para as Legislativas de 18 de maio está na rua. Não é a primeira vez que manifestações ciganas saem ao caminho à caravana do Chega. Mas até agora eram manifestações localizadas. Desta vez parece ser uma coisa organizada, o que levanta muitas questões sobre a liberdade de movimentos políticos. E isso pode transformar-se num problema para o exercício livre da democracia.

O PSD mobilizou pesos-pesados para a campanha. Começou com Tony Carreira, em S. Bento no Dia do Trabalhador, para ajudar Montenegro a cantar o “sonho de menino” e continuou com um almoço na sede da Lapa em que o atual primeiro ministro sentou à mesma mesa ex-presidentes do partido, com exceção de Durão Barroso, certamente com afazeres internacionais, Pinto Balsemão e Rui Machete. Nesse mesmo dia, Cavaco voltou a escrever na imprensa o seu claro apoio a Montenegro e a criticar asperamente a comunicação social. Os políticos no ativo e os que passam por não estar em atividade não hesitam em continuar a falar em “certa comunicação social” ou “certo jornalismo”, deixando a pairar insinuações ilegítimas sobre o trabalho dos Media. Este comportamento não é aceitável.

O alinhamento do agrupamento laranja parece ser total, mesmo com Passos Coelho a pedir reformas, o que pareceu soar como uma bizarria, a avaliar pelo sortido fino de comentários incomodados. Montenegro não pode queixar-se de falta de apoio do seu partido, embora tenha tido recentemente duas “ajudas” dispensáveis: Hugo Carneiro com o pedido de intervenção da PJ, a propósito da informação sobre a declaração de substituição de primeiro-ministro e a conferência de imprensa do ministro Pinto Luz na sequência do apagão que, no essencial, chamou os jornalistas para dizer que “a AD congratula-se com a ação do governo”. Pois claro. Então para que serviria?

A greve da CP entrou impetuosamente na campanha. A perturbação da vida das pessoas durará até meio da próxima semana (quarta, 14). Uma greve política, diz Pinto Luz; uma “greve injusta” classifica o primeiro-ministro, que entende que é preciso equilibrar direitos entre grevistas e os cidadãos afetados pela paralisação. As oposições desataram numa berraria, acusando Montenegro de pretender restringir o direito à greve. A verdade é que os portugueses estão fartos das permanentes paralisações dos comboios e de pagar um passe mensal que, afinal, serve só para alguns dias. Talvez a AD tenha ganho alguma vantagem eleitoral com a posição pública do líder do PSD.

Terminaram os debates entre os líderes dos diferentes partidos. No debate da rádio (segunda, 5), assistiu-se ao que não se imaginava possível: absoluta indisciplina dos participantes; desrespeito pelos moderadores e por eles próprios, perdendo-se em apartes quando um oponente usava da palavra. “Olha deve ter vindo a preparar esta no caminho para aqui”, dizia Pedro Nuno Santos quando Montenegro falava, secundado por outros apartes de igual género produzidos pelo Livre e PCP.
O comportamento dos chefes partidários no debate da Rádio revela um desrespeito inqualificável por este Media que, como candidatos a servidores públicos deveriam ser os primeiros a respeitar. Não aprenderam nada sobre a importância da Rádio no apagão de 28 de abril?
12 horas antes, num debate semelhante na televisão, o comportamento foi distinto. Porquê? Receiam a imagem? Mas os eleitores também viram as imagens do debate da Rádio. Enfim, correu-lhes mal.

Menos de um milhão de pessoas seguiram os debates televisivos entre os líderes, comparativamente com as eleições de há um ano. 2,7 milhões, valor próximo do anterior, viram o frente-a-frente entre Montenegro e Pedro Nuno Santos. Neste debate, os portugueses deram preferência à SIC, canal que reforçou a liderança em Abril e continua a ganhar nestes primeiros dias de Maio.

Os painéis de comentadores começaram perigosamente a integrar candidatos autárquicos, membros do Governo e responsáveis partidários com influência direta na atualidade que está a ser comentada. Um contrassenso. Comentam o que eles próprios produziram ou ajudaram a produzir para ser comentado. O programa Princípio da Incerteza (CNNP) é um exemplo fulgurante desta duplicidade. Alexandra Leitão é candidata à Câmara de Lisboa; Pedro Duarte é ministro, ainda em funções, e candidato à edilidade portuense. Faz sentido?

A Sondagem das Sondagens desta quinta-feira (8), conteúdo da Renascença que reflete o conjunto de estudos publicados, regista uma vantagem da AD (32,9) sobre o PS (27,2), com o Chega a alcançar uma marca próxima do último resultado eleitoral (16,9). A IL (6,8) comanda os partidos com menos expressão entre os inquiridos (L: 3,8; CDU: 3,3; BE: 2,0; PAN: 0,6). O estudo publicado pelo Expresso/SIC (sexta,9) aponta no mesmo sentido: vantagem para a AD, com recuo em relação à semana passada, mas mantendo a distância para o PS, que se atrasa um pouco mais. O Chega mantém-se como terceira força; a esquerda recupera terreno. O essencial não se altera: os portugueses querem uma maioria, mas avaliam negativamente o desempenho do Executivo e só um terço acha que não é preciso mudar o Governo. Não é altura de criar um círculo de compensação para dar utilidade aos votos que se perdem?


Trump completa 100 dias na Casa Branca. Avanços e recuos; protecionismo e isolacionismo como nunca vimos. Falhanço total na mediação para terminar com as guerras da Ucrânia e de Gaza. Um balanço terrível. De que o ataque às Universidades, incluindoHarvard, é um gesto aterrador. Como a intenção de restrições eleitorais às mulheres, assim como o fim do financiamento à PBS e à NPR. “Um vaudeville permanente”, como classificou Paulo Portas (TVI, 13.Abr). A IA criou Trump com as vestes Papais e o chefe da Nação mais poderosa do mundo não resistiu a publicar a insanidade nas suas redes sociais. Um absurdo, uma vergonha.

No suplemento ao programa, nos Grandes Enigmas, onde anda e o que fez o secretário-geral do Governo, Costa Neves? Os intervalos do programa “Isto +e gozar…” (SIC) incluem um conteúdo denominado “1 minuto de economia”. Trata-se de publicidade ou informação? Porque é que o Governo anuncia as Urgências que estão fechadas em vez das que estão abertas? As “Novas Crónicas” evitam o tremendo enigma da nomeação do Conselho de Arbitragem para o Benfica/Sporting deste fim de semana (Sábado, 10). Formulam apenas o ardente desejo que a escolha se revele com o módico de sensatez que a circunstância exige.

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