07 out, 2025 - 07:00 • André Maia
Está a chegar a reta final rumo às eleições do Benfica. Seis candidatos, seis ideias diferentes para o clube: apenas uma vai ser escolhida no próximo dia 25 de outubro para decidir quem é o próximo presidente do clube encarnado e também os seus órgãos sociais. Os seis homens que querem ser presidentes do Benfica vão passar pela Renascença, numa série de entrevistas.
O primeiro diz que tem o clube no sangue e é precisamente esse o lema da candidatura: "Benfica no Sangue". É neto de Duarte Borges Coutinho, antigo presidente do clube na década de 1970. Tem 51 anos, seis filhos e é empresário. Desde muito jovem que entrou no mundo dos mercados financeiros e há mais de uma década que se dedica à indústria, com a recuperação de uma fábrica em dificuldades no setor automóvel. Jogou ténis, rugby e é sócio do Benfica desde que nasceu.
Martim Mayer é o primeiro candidato a homem forte das águias a passar pelo estúdio de Bola Branca e falou de tudo: das sondagens que só lhe dão 0,3%, da garantia de que não vai desistir, passando pelo diretor-geral que já conquistou na Europa.
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No site oficial da sua candidatura diz que vai apresentar "até setembro do presente ano" o seu programa eleitoral. Já estamos em outubro e não o apresentou. O que é que está a atrasar a publicação do programa eleitoral?
Efetivamente, ao longo destes meses, tem havido a necessidade de fazer alguns ajustes ao nosso programa. Do ponto de vista dos eixos programáticos, as linhas mestras estão completamente definidas, mas até a própria alteração do treinador exigiu fazer aqui alguns ajustes. E por isso iremos, a muito breve trecho, apresentar esse programa com todo o detalhe. Como queremos ir a muito detalhe, e como queremos cruzar tudo com o dia a dia do clube, é preciso fazer algumas adaptações. Em todo o caso, a muito breve trecho, se calhar nas próximas uma ou duas semanas, teremos isso tudo apresentado com detalhe.
Olhemos então para o programa: diz que quer criar o cargo de diretor-geral para o futebol, cargo esse que o Benfica já tem, pelo menos Mário Branco foi apresentado como diretor-geral para o futebol em julho. O que é que difere o atual cargo de diretor-geral do futebol, que o Benfica já tem, daquele que quer criar se for presidente?
A estrutura de futebol do Benfica nunca teve um diretor-geral. Quem falou pela primeira vez num diretor-geral foi a candidatura Benfica no Sangue. E isso resulta de uma análise muito detalhada a toda a estrutura de futebol e a uma lacuna que existia entre a comissão executiva da SAD e a equipa profissional do Benfica. Quando apresentaram um diretor-geral, agradou-me que a nossa proposta tivesse sido aceite pelo clube, porque efetivamente ele fazia falta. Mas temos de falar de competências e de abrangência.
O diretor-geral do futebol do Benfica, na nossa visão, é alguém que vai ter de olhar de uma forma global. Vai ter de abarcar toda a academia do Benfica, desde os sub-13, vai ter de abranger o scouting, o futebol feminino, a equipa B, os sub-23, e vai ter de concretizar toda esta filosofia e visão naquilo que é o futebol da equipa A. Isto porque o Mário Branco e o José Mourinho estão totalmente focados naquilo que é o curto prazo do futebol do clube.
Será essa a diferença entre o seu diretor-geral e o atual? A transversalidade entre escalões?
Uma total transversalidade ao futebol do Benfica.
E que, na sua opinião, não existe neste momento?
Não existe. É preciso alguém que faça a cola de todas estas áreas, que ponha aquilo que é a filosofia do futebol do Benfica nos sub-13 a acontecer e posto em prática, ao mesmo tempo que faz o mesmo com os sub-15, sub-17, e por aí fora até aos sub-23. Para quê? Um dos grandes conceitos do futebol neste momento em termos competitivos: a aceleração de talento. Nós verificamos que isso existe no Barcelona. Porquê? Porque desde os sub-13 há um determinado tipo de futebol que os atletas praticam. E isso é absolutamente decisivo para que eles atinjam a maturidade, não aos 18 ou 19 anos, como acontecia há uns tempos, mas dois ou três anos mais cedo. Isto é uma vantagem competitiva gigante para qualquer clube.
Já disse que gostava de contar com o Mário Branco também. O que é que ficará a fazer Mário Branco na sua estrutura, tendo em conta que vai ter um novo diretor-geral para o futebol?
Acompanhar o plantel, olhar para as lacunas do plantel e procurar preenchê-las juntamente com o mister José Mourinho. Continuará a fazer exatamente o mesmo que está a fazer. Obviamente, tendo de interagir ao mesmo nível hierárquico com este diretor-geral, que, como disse, será transversal a toda a estrutura do futebol.
Numa entrevista recente mencionou que teve de ajustar o perfil desse diretor-geral que quer trazer para o Benfica. Disse noutra entrevista que a primeira pessoa que tinha escolhido tinha uma "personalidade demasiado vincada para trabalhar com José Mourinho", daí essa alteração. Tendo em conta a importância que atribui à filosofia implementada por esse diretor-geral, este não se devia sobrepor ao treinador?
Não. Não, porque o Benfica tem de ganhar o próximo jogo, o outro a seguir e o outro a seguir. O treinador é a peça mais importante da estrutura do futebol. Ponto final. Agora, se olharmos para o médio prazo, vamos imaginar que um dia José Mourinho sai. Vamos imaginar que até vai treinar a seleção portuguesa, depois de ter tido uma performance excelente no Benfica. O futebol do Benfica não pode ficar órfão de identidade. Tem de haver alguém por trás do José Mourinho que traga esta filosofia permanente no clube. E o diretor-geral assegura isso. Obviamente que o que queremos todos, mais do que tudo, é ganhar na equipa A do Benfica. E, portanto, tudo tem de contribuir para essa equipa A.
Isso significa que o seu diretor-geral é "compatível" com José Mourinho?
Absolutamente. E por isso é que eu tive de fazer a alteração à pessoa que trago. Porque eu não quero ganhar as eleições, eu quero pôr o futebol do Benfica no melhor que o futebol do Benfica pode estar. Tive de olhar para a atual realidade do clube, que é diferente da realidade do Bruno Lage. Tive de olhar para a personalidade, métodos e comunicação do José Mourinho e encontrar a pessoa certa para trabalhar bem com ele e com o Mário Branco.
Mas os treinadores entram e saem, nem sempre o mercado permite trazer os treinadores que os clubes querem. Se o modelo de jogo que o tal diretor-geral implementar no Benfica não coincidir com o modelo de jogo do treinador, como resolve o problema?
É precisamente por isso que o diretor-geral já lá vai estar. E, quando escolher, juntamente comigo, um treinador, esse tem de encaixar no projeto de futebol do Benfica, que já terá determinadas linhas definidas. Será alguém que saberá interpretar isso, que concordará com essa filosofia e quando vier para o clube já vem totalmente alinhado com isso. Restringe a escolha do treinador, mas torna-a mais certeira para que no médio-prazo haja consistência no futebol.
Dizia que o primeiro nome que tinha pensado para diretor-geral do Benfica era um campeão europeu, com grande experiência. A sua nova escolha tem o mesmo currículo?
Tem um currículo riquíssimo, ao mais alto nível. E em todas as áreas: desde a formação, ao scouting, para além de ter treinado equipas de grande porte. É alguém que está preparado para abarcar todas estas áreas de uma forma transversal. Relativamente à pessoa em que tinha pensado anteriormente: acho que isso vai ficar claro ainda antes das eleições.
Vai anunciá-la na mesma?
Vai ser possível fazer o puzzle. Nós temos uma grande diferença: quando eu digo que a nossa proposta diz o "como", aqui também o fazemos. E para isso não basta dizer “eh pá, eu gostava mesmo era de ter este treinador". É sim mostrar que essa pessoa tem compromisso connosco. E nós vamos mostrar isso nos próximos dias.
Nas ideias que tem para o Benfica, já prometeu aumentar a capacidade do Estádio da Luz em 15 mil lugares, para 83 mil lugares. Um projeto que, diz, terá um custo estimado de 75 milhões de euros. Quer construir um Seixal das modalidades para albergar todas as equipas, uma obra que diz também custar entre 60 a 70 milhões. Quer também construir uma Casa do Jogador para acolher antigos atletas com mais de 65 anos. 75 milhões de euros num projeto, 60 a 70 milhões noutro, ainda a Casa do Jogador… onde é que vai buscar o dinheiro para todos estes projetos?
Relativamente ao estádio é simples: há o incremento de lugares, e as contas são muito simples, já que a obra rondará os 80 milhões de euros. Incrementamos 15 mil lugares no estádio, e esses lugares representarão um acréscimo de receita anual na casa dos 33 milhões de euros. Portanto, se dividir 80 por 33, verifica que é muito fácil conseguir financiar essa obra a 10 anos, entregando como garantia a receita adicional desses lugares. Não para os hipotecar, mas para dar de garantia e conseguir o financiamento que permita fazer a obra.
Além disso, consegue perceber que, se dividirmos 80 milhões de euros por 10 anos, dá 8 milhões de euros. Vamos considerar 2 milhões de euros de juros, que é uma loucura de um valor. Contando com 33 milhões de euros de receita desde o primeiro ano, como verifica, sobram mais de 20 milhões de receita adicional depois de paga a obra. Portanto, é altamente viável.
Olhando para o campus das modalidades, é uma proposta que não está no site da sua candidatura, não está nos eixos programáticos. Aliás, o que está lá até é uma ideia diferente, que é a descentralização das modalidades, a criação de alguns polos e parcerias em vários pontos do país, até a criação de clubes satélites. Pergunto-lhe se essa ideia foi abandonada?
São ideias complementares. Porque uma das razões pelas quais nós gostaríamos de ter centros de competência de modalidades pelo país fora é precisamente para permitir que o clube esteja mais próximo dos adeptos. Se nós somos um clube eclético, então temos de assumir que somos um clube eclético. E como existem zonas do país altamente propensas a determinadas modalidades, vamos apoiar-nos nisso para trazer o Benfica mais próximo dos adeptos que temos pelo país todo.
Relativamente à centralização das modalidades num campus, isso nasce do facto de a infraestrutura que existe para dar resposta a um enorme universo de atletas nas modalidades ser má, totalmente desuniforme e ineficiente do ponto de vista dos custos financeiros associados.
Mas porque é que essa ideia não estava logo no seu programa?
Porque precisámos de fazer uma análise de custos mais fina para perceber quanto dinheiro conseguiríamos poupar se centralizássemos tudo. Agora já sabemos que conseguimos poupar na casa dos 7 a 9 milhões de euros. Projetando isso a 10 anos, conseguimos encontrar aqui um montante de 70 a 90 milhões de euros, o que torna possível investir naquilo que será o campus das modalidades do Benfica.
Temos várias zonas onde preferíamos fazê-lo e já temos vários municípios com quem já fizemos alguns contactos nesse sentido. Sabemos que precisamos de 25 hectares planos para que o custo seja o menor possível. E sabemos que isso irá trazer, do ponto de vista qualitativo, grandes vantagens à formação das modalidades, para além de trazer uma identidade às modalidades do Benfica.
No site oficial da candidatura está escrito que vai apresentar o projeto de expansão do Estádio da Luz até ao final da campanha. Já tem data para essa apresentação?
Penso que será dentro de duas semanas, alguns dias antes das eleições. Isto porque queremos trazer o projeto do campus das modalidades do Benfica e o próprio projeto de aumento do Seixal, para fazer as três apresentações no mesmo dia.
Falemos de símbolos do clube, já que está ligado ao passado do Benfica, sendo neto de Borges Coutinho. O nome do estádio é intocável ou admite vender o naming do Estádio da Luz?
Admito vender o nome do estádio. Acho que é uma receita que pode ser muito importante para que o Benfica ganhe cada vez mais solidez financeira e, com isso, competitividade.
Tem valores na sua cabeça?
Todos sabemos que um contrato de 10 milhões de euros por ano, vezes 10 anos, é um bom contrato. E é um bom contrato não só em Portugal — é um bom contrato em Espanha, na Alemanha, em França, em qualquer país e em qualquer clube de primeira grandeza. Essa deve ser a bitola do Benfica. Não sei se é possível lá chegar. É um daqueles temas em que é necessário, efetivamente, ser a direção do Benfica a tratar. Mas deixe-me dizer o seguinte: quanto a mim, a SAD do Benfica deve ser detida a 67% pelo clube. Atualmente é detida a 63,25%. Mas, em cima desses 67%, devíamos ter dois acionistas estratégicos de longo prazo, cada um com 10% da SAD.
E tem esses acionistas na sua cabeça?
Tenho. Um deles há de ser seguramente a Adidas. O Benfica deveria querer a Adidas como acionista da SAD. Eu, enquanto presidente, vou fazer os máximos esforços para que assim seja. O outro acionista deveria estar relacionado com entretenimento e com a transmissão streaming de espetáculos desportivos. Nesta lógica, o naming do estádio deveria ter que ver com algum desses dois acionistas estratégicos. É isso que faz sentido.
O que mostra também que não fazemos as coisas só por dinheiro. Não, não fazemos: fazemos porque, do ponto de vista estratégico, queremos estar associados a esta entidade. Portanto, não só aporta capacidade financeira ao clube, como estabelece uma ligação entre o Benfica e um parceiro estratégico para o futuro.
Indo ainda mais longe na questão dos símbolos: Juventus, Inter, PSG, Manchester City, todos gigantes do futebol europeu e que modernizaram ou alteraram os seus emblemas recentemente. O Benfica não muda o seu desde 1999, há quase 27 anos. Admite mudar o emblema se for presidente?
Sou contra.
Completamente contra?
Totalmente contra.
Benfica
Candidato a presidente do Benfica nas eleições de (...)
A mais recente sondagem relativa às eleições, de 3 de outubro, da Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, Maisfutebol, TSF e JN, coloca o Martim Mayer em penúltimo lugar, com apenas 0,3% das intenções de voto. Também a meio de setembro, noutra sondagem, da Intercampus para o canal Now, aparecia no mesmo lugar, com 1,3%. O que é que, na sua opinião, está a falhar para não estar a chegar aos benfiquistas?
Eu acho que as sondagens são altamente limitadas. Se já o são do ponto de vista político, quando diferentes votantes têm diferentes ponderações de voto, aqui estamos a falar de ponderações de voto que variam 16 vezes. Elas são altamente falíveis.
Mas essas ponderações foram tidas em conta nestas sondagens...
Mas mesmo assim. Gostava de dar um exemplo recente: quem é que acredita que há mais sportinguistas em Lisboa do que benfiquistas? Se alguém me disser que acredita, venha discutir comigo. As sondagens valem o que valem. Estamos a meio da campanha.
Tenho muita confiança naquela que é a minha proposta e nas nossas competências. Tenho muita confiança de que vou conseguir apresentá-la aos benfiquistas e faço a minha parte e a minha parte é apresentar a proposta. Eu não quero ganhar eleições a todo o custo. Quero apresentar uma proposta de futuro, porque me sinto responsável por o fazer neste momento da vida do clube. Se os sócios entenderem que é a melhor proposta, eles irão votar em mim. Eu fiz a minha parte.
Há um tema que já se fala há algum tempo e que é o da possível fusão de listas, nomeadamente com João Diogo Manteigas. O Martim Mayer revelou que Manteigas tentou juntar-se à sua lista, oferecendo-se para ser administrador da SAD. Contou, inclusivamente, um episódio de um encontro que teve com João Diogo Manteigas e António Simões na sua casa, que não resultou em qualquer acordo. Há uns dias, João Diogo Manteigas confirmou esse encontro, negou o teor do mesmo e revelou que Martim Mayer se reuniu com João Noronha Lopes este ano, em janeiro. Confirma esse encontro? E qual o motivo dessa reunião?
Relativamente ao João Diogo Manteigas e a esse tema, acho que já ficou perfeitamente visível o que aconteceu e, portanto, gostaria de usar aquela frase: “tentar justificar-me seria admitir que poderia estar errado”. Não vale a pena fazê-lo. Ficou expresso. Relativamente ao João Noronha Lopes: nós somos todos do Benfica. Eu falei com o João Noronha Lopes em janeiro, juntamente com o senhor António Simões. Discutir o Benfica com todos é aquilo que algumas listas não sabem fazer. Eu sei fazer, eu sou um democrata.
Em todas as assembleias gerais serei um democrata. E nem todos têm sido assim. Eu só não falarei com todos os candidatos, como já falei desde o princípio da campanha, se algum candidato não quiser conversar comigo. Porque, para debater o Benfica, em particular com pessoas que entendam ter uma proposta para o futuro do clube e que a queiram liderar, eu estarei sempre disponível.
Mas essa conversa com João Noronha Lopes foi com o intuito de juntar forças? Ou apenas para discutir o futuro do Benfica?
Foi uma conversa apenas para discutir o futuro do Benfica. Para perceber também que ideias é que ele tinha à data — de se recandidatar ou não recandidatar — face ao que fez há duas eleições. E, portanto, é alguém com quem é natural debater temas do clube, não focado em nada de concreto, mas simplesmente num período pré-eleitoral. Mas também já o fiz com todos os outros candidatos. E, aliás, apresentei a minha candidatura porque, depois de falar com os vários outros candidatos ou potenciais candidatos à data, entendi que nenhum trazia aquilo que, na minha visão, deve ser o futuro do clube. E por isso é que me apresento.
E, portanto, garante que até dia 10 vai sozinho a eleições e que até dia 25 não vai desistir em função de ninguém.
Posso absolutamente garantir que assim vai ser.
Já acusou João Noronha Lopes de “roubar descaradamente ideias”. Se se confirmar aquilo que tem saído das sondagens e houver uma segunda volta entre João Noronha Lopes e Rui Costa, apoiará quem?
Continuarei a apoiar-me a mim próprio. Há pontos de rutura evidentes face a esses dois candidatos. Já que estamos aqui na Rádio Renascença, eu sou como Jesus Cristo: estive fora dos radares, mas, agora que entrei na vida pública, é até à morte.
Olhando para as relações externas: insinuou recentemente que Frederico Varandas se devia “meter na sua vida”, depois da resposta do presidente do Sporting às críticas do Benfica à arbitragem. Se for presidente do Benfica, isto pode perturbar as relações com o Sporting?
Há linhas que não se podem cruzar. À frente do Benfica, irei sempre, institucionalmente, respeitar os nossos rivais. Mas terá de haver máxima reciprocidade, muita sensibilidade e cuidado quando se fala do Benfica. E, portanto, quando alguém se mete na nossa vida, temos de lhe dizer para se meter na vida dele. Foi isso que eu fiz.
Mas não tem receio de estar a beliscar relações institucionais externas que depois possam prejudicá-lo e ao Benfica se for eleito presidente?
Não tenho nenhum receio disso, porque quando se faz o que está certo ninguém tem de ter receio de nada. Agora, também entendo que, para que haja esse respeito mútuo, tem de haver consistência e coerência da parte de quem está à frente do clube, mas também antecipação a uma série de temas. Não podemos deixar que os temas nos caiam em cima. Isso é absolutamente fundamental.
É isso que um presidente de um clube faz: vê à frente e resolve à frente. E isso evita muitos problemas. Nem sempre tem sido essa a postura do Benfica. Eu acho que terei sempre essa capacidade. E, portanto, com honradez, com nobreza — os valores que vêm nos nossos estatutos — é assim que o Benfica se irá comportar. E, com institucionalidade, irei obviamente assegurar que isso seja recíproco.
Falemos aqui um pouco do processo de centralização e do que vem antes desse processo. A centralização dos direitos televisivos vai acontecer na época de 2028/2029. Até lá, para as próximas duas épocas, defende que fosse aberto um concurso em que as operadoras fariam uma espécie de leilão para comprar os direitos de transmissão dos jogos do Benfica. Quem oferecesse mais ganharia a exclusividade e não poderia revender os direitos a outras operadoras. Por exemplo: se operadora x ganhasse, os jogos do Benfica só passariam aí e os adeptos teriam de subscrever esse operador para ver os jogos. Diz que esta estratégia seria uma forma de mostrar o peso real do Benfica. Acha que as operadoras alinhariam nisto?
Isso terá de lhes perguntar a elas. Eu acho que alinhariam, sim. O que me parece é que tem havido uma distorção muito grande entre o valor económico do Benfica e o peso de tomada de decisão do Benfica. E, portanto, isso seria uma forma de corrigir isso. É mandar um murro na mesa. E é isso que eu estou pronto para fazer, porque isso tem de ser corrigido já.
Mas num país em que há contratos de fidelização com operadoras, em que sabemos que é tão difícil rescindir contratos, com burocracia, trocas de equipamentos, portabilidade de números, etc, não poderíamos ter aqui o risco do aumento da pirataria? Não acredito, sinceramente, que muitos portugueses trocassem de operadora apenas para ver um jogo de futebol.
A pirataria tem níveis altos por outras razões. E a principal razão é o preço que é pedido aos consumidores para verem o futebol. Isso pode ser corrigido. E pode ser corrigido no próprio processo de centralização. Não acho que as fidelizações vão gerar mais pirataria, nem tão pouco limitar qualquer benfiquista de tomar as suas decisões. Sem dúvida que é burocrático mudar de operadora... exceto quando é para ir atrás do Benfica. Aí somos todos muito expedientes. E tenho a certeza de que os sócios e adeptos do Benfica iriam responder a isso em massa.
E é mesmo isso que eu quero: mostrar o peso económico do Benfica. Porque quando os três operadores se organizam entre eles, esvaziam o Benfica do seu peso. É exatamente isso que se tem de reverter. Tal como se tem de reverter o facto de a Liga Centralização estar debaixo da Liga Portugal. Não pode.
Disse que os interesses do Benfica estão a ser maltratados nesse processo de centralização. O decreto-lei já foi publicado. A centralização avançará sempre, sejam ou não os moldes do interesse do Benfica. O que fará como presidente se não gostar do projeto final da centralização?
Nós temos aqui uma data, que é junho de 2026. Estamos a correr contra essa data. O Benfica tem de se sentar rapidamente à mesa do processo e tem de liderar o processo. Há vários caminhos. Eu defendo que o caminho passa por não ter a Liga Centralização nos moldes em que ela existe, porque ali temos um assunto de imensa relevância económica. Não tem que ver com as outras tomadas de decisão que estão na Liga. O Benfica tem de ter uma tomada de decisão mais pesada do que os outros clubes, não há dúvida nenhuma. Porque tem de haver uma correspondência económica entre o valor do Benfica e o valor dos outros clubes. E isso não está a acontecer.
Além disso, eu defendo que o desenvolvimento do futebol português passa por encontrarmos um acionista estratégico, como aconteceu, por exemplo, na La Liga espanhola. A La Liga tem um acionista estratégico que pagou uma quantidade de dinheiro que permitiu melhorar a infraestrutura e abriu os canais de venda da La Liga ao estrangeiro. Nós precisamos de fazer o mesmo. Ponto final. Não há outro caminho.
Martim Mayer, para fechar a nossa entrevista, se pudesse fazer uma pergunta ao seu avô sobre o que é ser presidente do Sport Lisboa e Benfica, o que perguntaria?
O que é que eu lhe perguntaria? [pausa] Essa agora apanhou-me aqui desprevenido. Mas perguntaria isto: qual é o segredo para conseguir ganhar sete campeonatos em oito anos? Qual é o maior segredo para conseguir atingir este feito?