Eleições Benfica

Cristóvão Carvalho: "Não vou vender os direitos televisivos, vou comprar os dos outros clubes"

09 out, 2025 - 07:00 • Carlos Calaveiras

Cristóvão Carvalho garante ter o projeto mais disruptivo de entre os seis candidatos à presidência do clube. Diz que José Mourinho não é o treinador do seu projeto e quer espetáculo na Luz e, por isso, acena com a possibilidade Klopp. Acredita que vai ser possível voltar a vencer a Liga dos Campeões.

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Entrevista a Cristóvão Carvalho, candidato à presidência do Benfica
Entrevista a Cristóvão Carvalho, candidato à presidência do Benfica

Segunda entrevista aos candidatos às eleições do Benfica. A Renascença fala esta quinta-feira com Cristóvão Carvalho, 52 anos, advogado e empresário, sócio número 59.742 do Sport Lisboa e Benfica.

Nasceu em França, viveu em Trancoso e Alcobaça, antes de vir estudar e trabalhar para Lisboa.

Cristóvão Carvalho garante ter o projeto mais disruptivo entre os seis candidatos à presidência do clube.

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Diz que José Mourinho não é o treinador do seu projeto e quer espetáculo na Luz e, por isso, acena com a possibilidade Jurgen Klopp.

Considera que o clube tem as contas em pior estado do que estavam há quatro anos e que desportivamente também falhou e, por isso, quer um empréstimo de 400 milhões de euros. Acredita que vai ser possível voltar a vencer a Liga dos Campeões e a maioria dos campeonatos em Portugal.

Cristóvão Carvalho quer o Benfica entre os que têm multiclubes e tem uma proposta inovadora: comprar os direitos televisivos dos outros clubes e não vender os do Benfica.


Permita-me começar por aqui: por que razões devem os sócios do Benfica votar em si no dia 25 de outubro?
A razão é simples, eu acho que ela é muito simples e é talvez dos candidatos onde seja mais fácil dar essa resposta, porque o meu projeto é o único que é absolutamente diferenciador de todos os outros candidatos, ou seja, eu sou o único que tem um projeto europeu, que pensei um projeto europeu para o Sport Lisboa e Benfica, onde tudo aquilo é alicerçado, além de ter a forma profissional que eu acho que deve acontecer, não só no futebol, como também nas modalidades.

As apostas são apostas de construir equipas que possam ganhar títulos europeus, nomeadamente no futebol, que é o principal. Há que pensar e estruturar toda a estrutura da SAD do Sport Lisboa e Benfica para que possamos em 5/6 anos ter o Benfica a lutar, claramente, para entrar numa final da Champions, e quando se joga uma Champions, quando se joga uma final, é para ganhar. Essa é a grande diferença, aquela grande motivação - há mais razões - mas a grande motivação é voltar a dar um Benfica europeu a todos os sócios.

Rui Costa? O Benfica financeiramente está numa situação muito pior do que estava há quatro ano

Antes de olharmos para as suas propostas, que balanço faz dos quatro anos de Rui Costa?
Foram quatro anos que não foram positivos, efetivamente não foram positivos, e o Rui Costa como presidente do Sport Lisboa e Benfica não cumpriu aquilo que prometeu aquando da sua eleição. Rui Costa prometia vitórias, Rui Costa prometia equilíbrio das contas, nem uma coisa nem outra. O Benfica financeiramente está numa situação muito pior do que estava há quatro anos, a dívida bancária duplicou, os empréstimos obrigacionistas subiram, as dívidas a fornecedores subiram e as receitas não acompanharam, de longe.

Fizemos também grandes investimentos em jogadores e treinadores que não tiveram resultado e nas modalidades gastámos muito mais do que tínhamos gastado e os títulos não têm aparecido. Nessa perspetiva não vemos como é que o Rui Costa possa apresentar aos benfiquistas uma inversão deste ciclo, quando estes quatro anos foram a nível de títulos, nomeadamente a nível de títulos do futebol. E, para nós, o que conta efetivamente é sermos campeões nacionais e em quatro anos ganhámos um título, portanto é manifestamente pouco para um clube da grandeza do Sport Lisboa e Benfica e o Rui Costa, sendo grande benfiquista, muito querido pelos benfiquistas, a nível de gestão, e também a nível desportivo, não correspondeu e teve quatro anos para o fazer e, portanto, o Benfica está numa situação muito débil.

Por falar em Rui Costa, permita-me só um salto à atualidade. Este “caso Conti”, que surgiu nos últimos dias, é só um erro processual ou há aqui mais um caso que pode vir a prejudicar o Benfica na justiça?
Aquilo que lhe posso falar é sobre as notícias que eu li e portanto, honestamente, daquilo que eu li, é campanha, e nas campanhas vão começar a aparecer estes casos e estes casinhos. Nós em Portugal somos muito afetos a estas coisas, que não me agradam rigorosamente nada, mas a ideia que me dá é que houve, efetivamente, um erro de várias entidades, inclusive as entidades bancárias, e que fizeram um report sobre essa matéria, e, obviamente, isso terá consequências para o Sport Lisboa e Benfica, mas, se quer que lhe diga, não consigo daí aferir que Rui Costa tenha tido algum interesse pessoal sobre esse tema, portanto, não me parece que a título pessoal tenha tirado qualquer benefício disso.

Agora, efetivamente, afetou a imagem do Sport Lisboa e Benfica, mas, também por aquilo que li, houve algumas falhas que não podem ser imputáveis ao Sport Lisboa e Benfica e também, por aquilo que li, leva-me a crer que depois de o Sport Lisboa e Benfica saber o que aconteceu fez o que devia ser feito, que foi devolver à origem os capitais, que era um valor que era devido por uma prestação de um jogador e, a partir de agora, será uma questão procedimental, mas, como sabemos, no direito não há só a culpa, há a negligência. Portanto, a negligência também é punível, e nesta matéria não é bom para o Benfica, mas não creio que tenha sido um caso pensado ou com interesses dúbios, acho que não.

Na última Assembleia Geral do Benfica houve vários candidatos a acusar duas candidaturas, nomeadamente João Noronha Lopes e João Diogo Manteigas, de instrumentalizarem os sócios. Qual é a sua posição sobre esta situação?
Eu, se quer que seja bem honesto, porque já o fiz na Assembleia Geral, fui o primeiro candidato a fazer isso. A seguir vieram os outros candidatos porque era por demais manifesto o que estava a acontecer nas Assembleias Gerais do Benfica e já não é de agora. A única coisa que eu fiz foi, em plena Assembleia Geral, pedir a palavra e falar e dizer aos sócios, não a alguns que ali estavam, mas para que passasse para fora, como efetivamente passou.

Desde há muitas assembleias para cá que não existe democracia no Benfica, ou seja, não existe naquelas Assembleias Gerais a representatividade dos sócios do Benfica. Existe sim um grupo muito bem organizado, afeto a duas candidaturas que controlam as Assembleias Gerais por uma forte presença nessas mesmas Assembleias Gerais e isso viu-se durante a aprovação dos estatutos, viu-se durante as aprovações ou os chumbos das contas do Benfica e esta representação não existe no Benfica.

Ademais, quando chega a eleições aconteceram factos que eu não podia, como candidato à presidência do Benfica, ficar calado, que é, todo esse grupo organizado, tem as suas ideias e luta por elas e movimenta-se por elas, não tenho crítica nenhuma relativamente a isso, tenho críticas é quando eles não respeitam aqueles sócios que vão falar e que têm a opinião diferente, isso é que eu não posso aceitar. Todos os sócios têm o direito de falar e emitir a sua opinião e quem está nas assembleias tem de estar de forma ordeira, ouvir o que dizem e depois tomar a sua posição e a sua posição numa assembleia, no final, gera-se sempre em voto.

Quando estou de acordo voto positivo, não estou de acordo voto negativo, não tenho a opinião, não voto. Agora, não deixar os sócios falar, bloquear os sócios, ofendê-los, humilhá-los, criar uma pressão de não se dizer aquilo que se pensa, porquê? Porque existe um controlo sobre a assembleia. Isso eu não concordo, manifestei-o e essa para mim é uma das razões pelo qual o Benfica tem de evoluir rapidamente. Gostaria que tivesse sido nestas eleições.

Ou seja, o Benfica tem de evoluir para uma votação eletrónica absoluta, quer não só na votação para o presidente do Benfica, quer também nas Assembleias Gerais. As Assembleias Gerais não podem ficar fechadas nos pavilhões do estádio, elas têm de ser transmitidas numa plataforma do Benfica, tem de haver uma possibilidade de votação, tem de chegar aos sócios. Tal como nas eleições, o voto eletrónico este ano já deveria de estar presente para que todos os sócios tivessem a legitimidade de votar, mas isso não vai acontecer.

Nos novos estatutos, a maioria dos sócios, mais de 90%, votaram pelo voto presencial.
Sim, todos votam pelo voto presencial, o voto presencial é a regra, mas há a possibilidade de fazer o voto eletrónico e o voto eletrónico levaria o voto a todo o mundo e a todas as pessoas do país, que têm de fazer uma viagem muito grande, esperar muitas horas para poder votar. O Benfica é demasiado grande para este sistema de votação, mas por isso não vai ser possível, porque há uma candidatura que está contra e dentro de uma candidatura contra não é possível haver voto eletrónico.

No dia 10 termina o prazo para a entrega das listas. Que eu tenha dado por isso, a sua lista ainda não tem nomes divulgados. Quer aproveitar esta entrevista para deixar alguns nomes?
Eu tenho um projeto muito diferenciado de todos os outros, a esse nível também, ou seja, eu respeito os timings que devem ser respeitados. Entendo que não se devem andar a soltar nomes. Eu vi candidaturas, umas que apresentaram um, outras apresentaram dois, outras não fizeram. Para mim há um timing, o timing é o dia 10. Quem tem de saber primeiro quem são as pessoas que vou apresentar aos órgãos sociais é o Sport Lisboa e Benfica e os sócios do Sport Lisboa e Benfica. Portanto, no dia 10, eu entregarei essa lista, espero até entregar antes.

A partir daí haverá um, dois dias onde as pessoas serão apresentadas aos sócios nas redes sociais e a partir daí todos ficarão a saber. Não faço coisas antes nem coisas depois. O importante é o projeto. As pessoas irão sustentar esse projeto. Entre o dia 9 e o dia 10 - provavelmente dia 9 - apresentarei a minha lista completa e depois publicarei. A partir daí as pessoas poderão sindicar, cada um deles, como na generalidade, se for a ver, a maioria dos candidatos estava a fazer agora no passo muito próximo: apresentaram uma ou duas pessoas que acharam que eram trunfos eleitorais, por uma razão A ou B - nada contra -, não é a minha forma de ser. O meu projeto tem de viver por si, as pessoas são uma consequência para executar esse projeto.

Vamos então ao seu projeto. No plano desportivo, tem defendido que o Benfica tem que ganhar 3 em 4 campeonatos nacionais e depois num prazo máximo de 12 anos, que são os três mandatos possíveis, três títulos europeus, de preferência incluindo uma de Champions. Isto é viável? É que o Benfica tem dois títulos europeus em toda a sua história. Ganhar três em 12 anos seria algo incrível, quase diria.
Não tanto assim, tem duas Champions, mas tem 10 finais, não as conseguimos foi ganhar. Dez finais, veja como o número sobe se virmos por esta perspetiva. O Benfica teve 10 finais, não conseguiu efetivamente ganhá-las. E o Benfica, face à sua dimensão, não se pode amedrontar, nem olhar para baixo e ficar pequeno, porque o futuro do futebol é Ligas Europeias. Neste momento é a Champions, mas há de haver uma Superliga, há de haver ligas europeias e aí é que está o sucesso do futebol, porquê? Porque aí é que estão os direitos televisivos, aí é que estão as marcas, aí é que estará o potencial e em Portugal o Benfica é o único clube que pode ambicionar chegar a uma liga dessas e pautar-se por aqueles que são iguais na sua grandeza em número de sócios, é o único clube que pode fazer isso. Portanto, quando eu digo que em 12 anos é possível ganharmos uma Champions, claro que é possível, é perfeitamente possível, porquê? Porque o Benfica tem os meios, tem a organização que mais nenhum clube tem e tem a capacidade financeira para construir uma equipa. É preciso é fazer um projeto e esse projeto alicerça-se em pessoas, alicerça-se num grande treinador, alicerça-se na formação do Sport Lisboa e Benfica.

A equipa principal do Benfica tem de poder acolher três jogadores, no mínimo, três jogadores, por época, que entrem na equipa principal e que tenham possibilidade de jogar. Se fizermos isso a cinco anos ou a seis anos, estamos a falar em 18 jogadores. Ou seja, se só vamos imaginar nove a entrarem, temos logo nove jogadores da nossa formação com excelente qualidade, com provas dadas que eles andam pelo mundo e temos a capacidade de os reter. Se comprarmos dois ou três jogadores de referência, jogadores ao nível do Otamendi, um jogador que chega, que joga sempre, que é uma referência, que é um líder de balneário, que tem essa capacidade de agrupar esses jogadores, com um grande treinador. A peça-chave tem de ser um treinador de projeto e, com esse grande treinador, absolutamente consensual a nível dos sócios, o Benfica é gigante, o Benfica tem todas essas capacidades. Nós estivemos em finais europeias, infelizmente não as conseguimos ganhar, qual é a diferença? A diferença é termos aquele bocadinho de sorte e ganhá-la. Agora, tem de se fazer um projeto e no Benfica tem de se preparar todo o clube para chegar a esse resultado. É perfeitamente possível.

Veja, e vou-lhe falar nisso porque é outra questão que sei que me irá colocar: quando eu falei num treinador, e nesse treinador de referência que eu disse que gostava muito de ter o Jurgen Klopp, e gostava de ter o Jurgen Klopp porquê? Por várias características que já lhe digo, mas quando eu falei nisso disseram que eu era louco. ‘O Benfica nunca tem capacidade de pagar um Jurgen Klopp, isso será completamente impossível, o Benfica não tem, o Benfica não consegue”. Hoje temos um treinador exatamente com um currículo muito parecido do Jurgen Klopp.

Do mesmo nível. Top-5?, como disse…
Top-5, exatamente. E o Benfica não tem capacidade para pagar? Claro que tem capacidade para pagar. Portanto, teria capacidade para pagar um Jurgen Klopp? Claro que tinha. Ele gostava de treinar o Benfica? Claro que gostava.

Klopp? Não me deram a garantia que vinha, mas também não me disseram que não vinha

Mas tire-me uma dúvida: já falou com ele ou estamos a falar numa situação teórica?
Quando pensei nele, ou seja, quando estávamos à procura de um treinador de projeto - porque a peça importante para um projeto europeu é o treinador. Ou seja, é a equipa que está dentro do clube, será a solidez financeira que tem de ser apresentada, mas é um treinador. E o Jurgen Klopp reúne duas ou três características que nós não conseguimos encontrar.

Primeira característica: ele mostrou muita vontade de treinar o Sport Lisboa e Benfica, porque é um clube associativo, todos os grandes treinadores querem fazer isso, e ele disse e ninguém lhe perguntou. Em segundo lugar, é um treinador de projeto, ou seja, ele não é só um bom treinador de campo, ele gosta de criar projetos que sejam sustentáveis. Além disso, tem o futebol que eu acho que é o futebol que neste momento o Benfica precisa, que é um futebol atrativo, que é um futebol de ataque, que é um futebol bonito, um futebol que encante. Ele tem isso e gosta disso, portanto, são essas características.

Certo.
Nesta altura fomos procurar perceber qual era a disponibilidade ou não dele, e percebemos que ele não estava a treinar, mas estava ligado a um grupo, a fazer um determinado trabalho, e percebemos que ele está satisfeito, mas as indicações que me deram - com as pessoas com quem falamos que estão próximas dele, disseram que se houver um projeto interessante, depois de algumas conversas, ele estará disposto a ouvir esse projeto. Não me deram a garantia que vinha, mas também não me disseram que não vinha, está disposto a ouvir.

Como eu acredito em mim, e como eu acredito muito mais no Benfica, eu tenho a certeza que nessas eleições ao Benfica conseguiria convencer Jürgen Klopp a vir para o Benfica. É óbvio que os factos que aconteceram após nos deixam numa posição onde provavelmente teria de se adiar esse projeto, mas na altura era o que era possível. Aliás, tanto assim é, que quando o Benfica precisou de um novo treinador e despediu Bruno Lage, eu disponibilizei ao Sport Lisboa e Benfica todos os contactos que a minha equipa tinha feito com Jürgen Klopp, e todo o trabalho que tinha sido feito para que essa conversa pudesse acontecer, caso isso fosse opção para o Benfica. Predispus-me a apresentar isso, apresentei mesmo ao Sport Lisboa e Benfica e disse-lhes se precisarem, eu tenho algum trabalho que está feito, tenho as coisas neste patamar, posso ajudar. Filo pelo Benfica.

Para construir um projeto europeu, não é um treinador com o perfil do José Mourinho

Mas, entretanto, se chegar a vencer as eleições, quem estará lá será José Mourinho. O que é que vai acontecer: vai despedi-lo ou vai mantê-lo?
Vamos lá ver, o José Mourinho é um treinador de referência mundial, não há dúvidas sobre isso. Além disso há de ter um contrato muito elevado para os cofres do Sport Lisboa e Benfica, portanto o Benfica tem de fazer tudo para que o José Mourinho funcione, e, portanto, nessa perspetiva, quando eu chegar ao Sport Lisboa e Benfica, aquilo que eu tenho de perceber é exatamente quais são os contornos do contrato, da indemnização pela saída.

Acho que há uma cláusula especial que ainda ninguém percebeu muito bem, quanto é que custa até ao final desta época, mas, fundamentalmente, aquilo que eu irei fazer – não me passa pela cabeça fazer outra coisa - é dar-lhe todas as garantias para que o Benfica seja campeão nacional, o Benfica tem de ser campeão nacional este ano e nessa perspetiva, eu quero que o Benfica seja campeão e irei dar-lhe essas condições. Se ele corresponder, muito bem, se não corresponder, tenho de ir para um treinador dentro do perfil do projeto europeu que eu quero construir.

Hmm, hmm.
Agora, também sou muito franco e muito honesto: para construir um projeto europeu, não é um treinador com o perfil do José Mourinho. Nada contra a pessoa, nada contra a forma de treino, nada, rigorosamente nada. Sinto é que o José Mourinho não consegue praticar um futebol que eu acho que é o futebol que os benfiquistas querem, porque no Benfica não basta ganhar, no Benfica há que encantar, há que jogar bem, há que ser excelência.

E o futebol do José Mourinho não é esse tipo de futebol, pelo menos não foi nos últimos anos, basta analisar o seu perfil. É um treinador muito mais defensivo, muito mais contido, muito mais tático, e acho que isso não encanta o Benfica. O Benfica tem uma exigência maior, somos o que somos, o tipo de clube que somos, e é destes treinadores que gostamos e eu estou convencido que, para construir um projeto à minha dimensão, face ao investimento que tem de ser feito, face às energias que têm de ser alocadas a isto, tem de ser um futebol que encanta, porque também é preciso que o futebol venda.

Todo o meu projeto não é uma peça só, ele está obviamente interligado, se eu tenho, por exemplo, sobre os direitos desportivos uma opinião muito própria, eu tenho de ter uma equipa a brilhar e a jogar em campo. Eu costumo dizer isto: os sócios do Benfica, se forem a um jogo e sentirem que o Benfica fez um jogo excelente, empatou 3 a igual, ou 4 a 4, ou até perdeu 4 a 3, mas fizemos um jogo maravilhoso, um jogo fantástico, futebol corrido, nesse dia não vêm alegres, mas não vêm cabisbaixos como se ganharem 1-0, vêm a dizer no próximo jogo “nós vamos ganhar e vamos jogar bem’, isto é o que se sente falta naquele estádio quando se lá vai, é disto que se sente falta, é isto que eu quero trazer para dentro daquele estádio.

Em janeiro está preparado para reforçar a equipa, se for preciso?
Temos de estar, até porque já percebemos que a equipa tem algumas peças que necessitam de algum reforço, temos algumas áreas que percebemos que não foram bem apetrechadas e precisamos de dar retoques na equipa. Estou claramente preparado para isso.

A formação é sempre uma bandeira de todos os candidatos. O Seixal tem dado muito dinheiro à Benfica SAD, muitas transferências, muito dinheiro, mas dentro de campo nem sempre têm sido bem aproveitados. O que é que pode mudar com a sua vitória?
A nossa academia, o Benfica tem entendido, não como um viveiro de jogadores para a equipa principal, mas como um pote de ouro. Os dirigentes do Benfica nos últimos anos, nomeadamente Vieira e Rui Costa, olham para a academia como um pote de ouro, ou seja, "é aqui que eu vou buscar as receitas extraordinárias para compensar os maus resultados". É assim que têm olhado para ela, e não como um viveiro para colocar os jogadores na equipa principal. Caso paradigmático disso é a venda do João Neves, que, está à vista de toda a gente, foi uma venda precipitada, mal feita. Porquê? Porque era preciso dinheiro para a tesouraria e isso não pode acontecer.

E além disso está a haver um forte desinvestimento na nossa academia. Nós tivemos a melhor academia portuguesa, de longe, hoje não temos. Temos uma boa academia, mas não é a melhor. Há muitos jogadores hoje que não aceitam, que não querem vir treinar para o Benfica porque sabem que não vão chegar à equipa principal - que é extremamente difícil – e, se forem, vão lá jogar uns meses e são vendidos. Os jogadores não querem isso, os jogadores têm de acreditar que vão para a equipa principal, que serão valorizados, e depois, a seu tempo, serão vendidos.

Certo.
Veja-se o caso deste ano, é paradigmático. Não subiu ninguém e nós em todos os escalões fomos campeões. Foi agora um jogador ao Porto por vergonha, por vergonha, claramente, porque houve uma pressão grande sobre o presidente. E então levou um jogador que nem sequer calçou e nós temos ali jogadores maravilhosos, melhores jogadores. Porque é que não sobem à equipa principal? Porque este sistema desmoronou-se, não é?

Hmm.
E porque agora anda-se numa rotação de compra dos jogadores. Eles estão a destruir, claramente, algo que foi bem pensado e bem estruturado. Um jogador que chega com 18 anos à equipa principal só tem de dar três anos, faz os 18, os 19, os 20, mesmo que dê os 21. Aos 21 anos ele valorizou, o Benfica tirou o rendimento desse jogador, ainda é possível vender, ainda tem mais 10 ou 12 anos que pode fazer a sua carreira no resto da Europa. Portanto isto é perfeitamente possível, não é? Vender jogadores que não subiram sequer, ou que estão lá 6 meses, ou que estão lá um ano no máximo, isto não pode acontecer, todo o sistema está a ruir pela base, estão a destruir claramente o nosso viveiro de melhores jogadores, porque já não é o pote de ouro que eles acham que é, portanto falta ali visão, inteligência e critério.

Uma das suas propostas mais arrojadas é a entrada do Benfica na lógica dos multiclubes. Explique-nos a sua proposta, é como o grupo City ou o grupo Red Bull, ou será uma coisa diferente?
O Benfica tem características muito próprias, e nós temos de aproveitar essas características. Uma das razões para o Benfica ter de entrar rapidamente no multiclube tem a ver com o que estávamos a falar, ou seja, não conseguimos em Portugal já captar o máximo de jovens e os melhores jovens que antes fazíamos, porque temos competição de outras academias que também evoluíram muito, e que pagam melhor a esses jogadores, e pagam melhor até aos técnicos, e, portanto, o Benfica tem de abrir essa margem.

Como o Benfica é enorme e tem sócios em todo o mundo, nós temos de ir à Europa, e fundamentalmente o Brasil e a Argentina, e procurar equipas de 3º, 4º escalão, que nos possam abrir a possibilidade de termos mais jovens e de abrirmos o leque de jovens para a nossa academia e fazermos essa pré-seleção, e depois trazermos aqueles que mais se adaptem ao futebol europeu para a nossa academia no Seixal, para poderem ingressar na equipa principal, e vice-versa, depois termos aqui determinados jogadores que têm de rodar e que têm de o ir fazer nesses clubes, mas com a marca Benfica, ou seja, os técnicos e toda a equipa de suporte técnica e desportiva que estará nesses clubes, será a equipa alinhada pelo diapasão Benfica. No fundo precisamos de alargar esse leque em função da grandiosidade que o Benfica tem. Precisamos de crescer rápido e a lógica de multiclubes para mim é absolutamente fundamental.

Vamos à questão financeira, o Cristóvão Carvalho defende um empréstimo de 400 milhões para dividir nos 4 anos de mandato. Esses 400 milhões serviriam para quê? Infraestruturas? Futebol?
Primeiro, vou-lhe explicar, muito rapidamente, para os nossos ouvintes perceberem porque é que é preciso 400 milhões de euros, e eu voltar a dizer: como é que não há nenhum candidato que diga como é que vai resolver o problema fundamental do Benfica. O problema fundamental do Benfica é não ganhar, certo? Ganhamos pouco, mas porque é que não ganhamos? Isso é que é importante perceber. Não ganhámos porque precisamos de vender jogadores. Uma das receitas fundamentais do Benfica é a venda extraordinária dos jogadores.

...
O Benfica, no final de cada ano, tem de encontrar 100 milhões de euros, que é o déficit que o Benfica tem daquela época. O Benfica todos os anos já sabe que perde 100 milhões de euros, e ninguém diz como é que vai resolver o problema. Quando eu estudei o Benfica percebi: se eu tenho aqui 100 milhões de euros e eu não quero vender jogadores, quero tirá-los da academia e mantê-los na equipa principal durante dois ou três anos, eu tenho de resolver rapidamente este problema de tesouraria de 100 milhões de euros. E o que eu fiz foi ir ver o que é que os outros clubes faziam na Europa, ir à procura desses parceiros de referência para encontrar uma linha de crédito para, pelo menos, durante quatro anos eu já ter esses 100 milhões de euros e não estar preocupado em ter de vender jogadores.

Vou ter de vender, como todos os clubes vão ter de vender, mas vou vender aqueles que eu quero, na altura em que eu quero, e quero manter uma estabilidade da equipa. E para quê? Para eu ter tempo, para quando entrar dentro do clube, então perceber como é que aumento as receitas - que eu espero aumentá-las em quatro anos para 700 milhões de euros - e como é que eu baixo os custos, porque isto são coisas que levam tempo no clube, não chegamos lá e não fazemos isto de um dia para o outro.

E esse empréstimo terá uma taxa de juros aceitável?
A taxa de juros que foi negociada é no máximo 50% da taxa de referência que o Benfica paga hoje. Hoje o Benfica paga mais de 6%, então tem de ser uma taxa inferior a 3%.

Daquilo que sabe, a situação financeira atual da Benfica SAD e do clube são preocupantes?
Muito preocupantes, muito preocupantes. Nós duplicámos a dívida bancária, aumentámos a dívida obrigacionista, o Benfica paga em juros cerca de 11 milhões de euros, isto é um jogador. É impensável. As contas do Benfica estão claramente descontroladas e alicerçadas na venda extraordinária de jogadores.

Hmm.
Por isso é que se compram 6/7/8 jogadores e se vendem 6/7/8 jogadores, e assim o Benfica nunca pode ganhar porque a equipa nunca está estável e é preciso colocar ali alguma verba para dar tempo para depois aumentar essas receitas, vender a marca Benfica, ver como é que se faz o naming do estádio, ver como é que se vai negociar com a Adidas, ver como é que se vai negociar com a Fly Emirates, ver como é que se potencializa a marca Benfica para os PALOP, para a Índia, para a China, para os Estados Unidos. Tudo isto são mecanismos que é preciso tempo e as pessoas que vão para o Benfica precisam de tempo para o fazer.

Por falar em naming, é uma possibilidade a breve prazo?
O Benfica tem ali um ativo fantástico que não rentabiliza, mas eu vou-lhe explicar porque é que não rentabiliza: não rentabiliza porque o Benfica não tem credibilidade lá fora, porque teve muitos processos judiciais, porque anda em situações que afetam o seu nome e não há nenhuma marca de referência que queira investir um valor interessante. Temos de dar credibilidade ao Benfica e temos aí um valor que, no mínimo, são 10 milhões de euros por ano.

Mas já fez prospeção de mercado?
Há muitas marcas a querer investir no Benfica, mas exigem que as pessoas e que o clube tenha credibilidade, que não haja processos judiciais, que a equipa esteja na Champions, até quartos finais, meias finais, que pratique um futebol interessante, que tenha um treinador de referência, tudo isto é um pacote que tem de ser vendido e se for vendido eles estão dispostos a pagar.

Já agora a mudança de símbolo, é hipótese ou não?
Não, não penso nisso, aliás, o símbolo levou um pequeno restyling com os novos estatutos e está muito bonito, está muito bonito. O símbolo do Benfica já é uma marca de referência e eu gosto muito do símbolo, não vou mexer.

O que defende para a SAD? Que o Benfica clube aumente a percentagem, que entre um sócio maioritário, que entrem vários minoritários, por exemplo como a Bayern Munique?
O Bayern Munique é um bom exemplo, é o exemplo que eu uso como referência, mas até lá a SAD pode ser uma fonte de receita do clube brutal, porquê? Porque a SAD do Benfica está desvalorizada. Parte destes 400 milhões com a linha de crédito é para recomprar as ações do Sport Lisboa e Benfica que estão em bolsa e que estão com os particulares de referência. Tenho de chegar a acordo com eles ou então escolher outra forma jurídica de o fazer. O Benfica tem de retomar novamente todas as suas ações e tem de revalorizar a sua SAD porque a nossa SAD está num valor muito, muito baixo. A nossa SAD pouco ultrapassa os 100 milhões de euros e temos uma avaliação da Deloitte, conservadora, que nos diz que ela valerá 600 milhões de euros e até valerá mais.

Portanto quando nós fizermos isso temos aqui logo uma margem contabilística enorme. A partir daí vender 20% a investidores de referência. O nosso patrocinador principal tem de estar connosco, uma entidade bancária tem de estar connosco, uma entidade para a internacionalização tem de estar connosco, ou seja, que sejam parceiros de referência e que tragam mais valia ao Benfica. E o clube com a maioria do capital da SAD, como sempre, mas uma maioria reforçada, mais de 70%.

No que diz respeito a infraestruturas, quais são as suas apostas? Aumentar o Seixal? Aumentar o estádio? Um local para as modalidades?
Tocou exatamente nos três pontos que o Benfica tem de trabalhar. Há um que é muito importante e o Benfica tem de encontrar uma solução, um patrocinador a investir, que é no que toca às modalidades. Tem de haver, claramente, uma cidade das modalidades preparada perto de Lisboa ou em Oeiras ou na Amadora, que já tem terrenos disponíveis que já se ofereceram e, assim, acabar com os pavilhões espalhados por Lisboa e por Cascais e para dar qualidade aos atletas. Isso é fundamental.

Esse é um investimento que o Benfica tem de fazer. Depois, há uma coisa em 12 anos, a zona envolvente do estádio, que tem de ser completamente revista e reformulada. Não como o projeto que foi apresentado pelo Rui Costa, que não faz qualquer sentido, mas de um projeto virado para os sócios, virado para o merchandising, virado para o espetáculo, tipo o estilo norte-americano, mas adaptado ao futebol português.

Não vou vender os direitos televisivos, vou para a mesa de negociação para comprar os direitos de todos os outros clubes em Portugal

Centralização dos direitos televisivos. O que é que vai fazer, ganhando as eleições, se a proposta final não for do agrado do Benfica?
Vou fazer aquilo que nenhum candidato tem a coragem de dizer e que é que o Benfica deve fazer. Não vou vender os direitos televisivos, vou para a mesa de negociação para comprar os direitos televisivos de todos os outros clubes em Portugal e levo um parceiro comigo e o parceiro tem de ser aquele que negociar estes dois anos que faltam. O parceiro que eu escolher para negociar os dois anos que faltam agora é o parceiro que será o parceiro do Benfica para comprarmos os direitos televisivos. O Benfica tem de ir comprar, não pode ir vender.

As sondagens não têm sido agradáveis. Admite desistir?
Não, nem pensar. Vou apresentar a minha candidatura na quinta ou sexta-feira. As sondagens são o que são, são sondagens feitas à volta do estádio, tem muita influência das candidaturas que aqui gravitam. O mais importante para mim não é o resultado, o mais importante é apresentar um grande projeto para o Sport Lisboa e Benfica, é falar com os benfiquistas e eles acreditarem nesse projeto. Se eles acharem que agora é o momento votarão em mim e se acharem que não é o momento, o projeto fica, a obra fica e como benfiquista essa é a minha missão.

E se ficar fora da segunda volta, vai apoiar algum dos candidatos?
É demasiado prematuro ainda dizer porque não sei quem serão esses candidatos. Aliás, se me perguntar qual é a minha convicção, acho que as eleições e os resultados vão estar muito fora daquilo que aparece nas sondagens. Estas últimas semanas serão muito importantes, mas é demasiado prematuro para isso.

Em função daquilo que acontecer verei e analisarei os projetos e, a partir daí, tomarei a minha decisão. Sendo que, eu quero é que os benfiquistas conheçam o meu projeto, votem no meu projeto, não tenham medo de votar em alguém que chegou agora porque o meu projeto é sério e honesto e dá-lhes a única coisa que mais nenhum dá, que é um Benfica europeu e a possibilidade de sonhar em trazer para dentro do nosso museu uma orelhuda, que é o desejo de todos os benfiquistas.

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