17 out, 2025 - 07:00 • Rui Viegas
Rui Costa, presidente recandidato, é o quarto candidato às eleições do Benfica a ser entrevistado pela Renascença. A primeira volta do ato eleitoral está marcada para dia 25 de outubro.
Rui Costa, obrigado por ter acedido ao convite da Renascença para esta entrevista.
Consegue explicar esta tão grande divisão que existe, neste momento, no Benfica?
Obrigado pelo vosso convite também. Estamos num momento eleitoral, há seis candidatos à presidência do Benfica, portanto é natural que neste momento haja aqui alguma divisão no clube, nomeadamente e claramente pelo número de candidatos que há, pelas diferentes ideias que há para o futuro do Benfica.
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Mas este é um sinal de vitalidade, ou é um sinal de querer que haja oposição a Rui Costa e ao último mandato de quatro anos? É que nunca houve seis candidatos à presidência.
Nunca houve seis candidatos. A história do Benfica mostra que quando o Benfica está mal, nunca aparecem seis candidatos. Há quatro anos o Benfica mergulhava numa situação muito complicada.
Fomos os únicos que metemos a cabeça pelo Benfica, que demos a cara pelo Benfica. O resto, ninguém apareceu. Os que estão como candidatos agora, que nunca estiveram ligados ao desporto, nunca estiveram ligados a nada disto, como podem estar preparadíssimos ao chegar.
Todos eles exibem a bandeira da capacidade de gestão, de terem passado pelo clube? O João Noronha Lopes passou pelo clube 58 dias e nem sequer chegou a sentar-se no lugar. É uma coisa que me faz muita confusão – está toda a gente preparada de imediato para perceber de tudo e mais alguma coisa.
João Noronha Lopes parece ser neste momento o seu principal adversário, pelo menos é o que dizem as sondagens. Como é que observou este episódio recente de João Noronha Lopes, em que mostrou as suas declarações de rendimentos? Eu sei que o Rui não vai por esse caminho, já o disse publicamente, mas como é que olhou para esse episódio?
Teve necessidade de o fazer, é uma coisa pessoal do candidato. Eu nunca disse publicamente que tinha sido o melhor jogador do mundo para irem avaliar… Considerou necessário tomar estas medidas, é porque achou que o devia fazer.
Não sou só candidato, sou também Presidente do Benfica e, portanto, tenho essa responsabilidade e é nessa linha que eu vou seguir com aquilo que é a minha campanha.
Coloquei esta questão porque o candidato de quem falo, e vou citar, referiu que é preciso que se investigue quem está por trás das campanhas e quem são os profissionais da maledicência e da desinformação…
É, se calhar é mesmo preciso fazer isso. Provavelmente está a falar também para ele próprio, porque é preciso ir às redes sociais e perceber o que tenho sido ofendido e maltratado por perfis falsos. De empresas que ainda há bem pouco tempo, em termos políticos, foram corridas da política por esses motivos. E vamos ver quem é que está a liderar campanhas. Digo até mais, de campanhas sujas.
Agora surgiu mais uma vez o tema Footlab, como se eu não pudesse ter empresas com os meus filhos, e que agora, pelo facto de estar um lab na sede da Liga, apoio o Pedro Proença por esse motivo? Acham que isto são campanhas limpas? Mas isso está lá, está nas redes sociais de candidatos.
Também está nas redes sociais, e depois de o Rui ter dito que uma das suas principais vitórias foi o facto de o Benfica não ser hoje um palco judicial, rumores sobre uma alegada investigação à Eusébio Cup e de uma empresa sua que estaria ligada à organização desse evento. Isto é verdade?
Mas vão investigar.
Era disto que falava?
Não, é de tudo. É de tudo isto. São episódios atrás de episódios. E é triste assistir a essas coisas.
E quando se vem dizer que se quer uma campanha limpa e se fazem essas coisas, é triste ouvir. A minha campanha será sempre para o Benfica. As pessoas conhecem-me – não cheguei aqui de paraquedas. A minha seriedade para com o Benfica é indiscutível.
Acha que estas campanhas sujas, como apelida, vão intensificar-se até dia 25?
Espero que não, porque não é isso que os benfiquistas querem dos candidatos. Toda esta lama... o Benfica já esteve na lama há quatro anos e ninguém cá quis pôr os pés. Hoje podemos felizmente falar sobre desporto – se está bem ou não está bem, se estamos bem ou não financeiramente – que é aquilo que importa aos sócios, aos adeptos do Benfica. E esse trabalho foi feito.
Mas não é normal que o Rui seja o principal visado, uma vez que ocupa a posição que os outros querem ocupar, e é o Rui que tem de prestar contas por quatro anos e 'picos'.
Mas eu presto as contas todas por quatro anos. Agora, entrar em despiques individuais e ser maltratado… acho que não serve a ninguém.
A situação financeira do Benfica é preocupante ou não?
Se a situação do Benfica fosse preocupante, financeiramente, todos os outros clubes portugueses estavam falidos. O Benfica continua a manter a melhor situação financeira dos clubes portugueses. Continua a ser um clube que fecha agora este mandato, mais uma vez, com os capitais próprios acima dos capitais sociais – que é o principal marco da questão financeira.
Subiu o passivo do Benfica, sim, subiu – por motivos já bem explicados – da mesma maneira que subiram os ativos. Teve uma subida de custos de 5,6% ao ano, teve uma subida de rendimentos de 10,8% ao ano. É um clube que está cada vez a crescer mais. Grande parte desse aumento de dívida vem do exercício anterior, ou seja, da gestão anterior. Outra parte desse aumento tem a ver com a política que nós utilizámos de investimento no futebol, uma vez que estávamos com um plantel que vinha de três anos apenas com uma Supertaça. As pessoas hoje falam que ganhámos quatro títulos, mas esquecem-se que antes desses quatro títulos vínhamos de três anos apenas com uma Supertaça. E foi preciso remodelar e reformular toda a parte do futebol do Benfica.
A partir de agora há condições para que essa curva se torne mais ascendente, é isso?
Como é natural, como é natural. E ainda há aqui um custo que aumenta esse passivo, que tem a ver com as obras que nós fizemos no estádio, e das quais temos todos orgulho, mas as coisas pagam-se. Agora, há uma coisa que é muito importante dizer aqui nesta situação. Em nenhuma destas situações o Benfica perdeu a cabeça. Em nenhuma destas situações a dívida aumentou por não sabermos o que é que estávamos a fazer financeiramente. Nós preparámos o clube para o futuro.
Essa preparação para o futuro vai fazer com que o Benfica possa atingir os 500 milhões de receita anual e 100 milhões de quebra do passivo?
Vai fazer…
Não é algo muito ambicioso?
Não é ambicioso, tem que ser a nossa ambição. Não acordámos num dia e pusemos num papel que vamos chegar aos 500 milhões de receita só porque sim, porque é um número bonito. Toda a preparação financeira do Benfica, que tem sido feita ao longo destes anos, leva-nos a estes números.
Portanto, essa sua convicção de que vai melhorar o Benfica, e muito, leva-o também a não enfiar a carapuça de que é um ignorante nesta matéria, como disse Luís Filipe Vieira recentemente.
Não vou comentar sequer. Não vou comentar mais o que Luís Filipe Vieira disse…
De certa forma, o Rui Costa era apontado como um delfim de Luís Filipe Vieira, pelo próprio Luís Filipe Vieira.
Mas agora partimos para as ofensas diárias e, portanto, não vou estar a responder a isso.
Sim, mas o Rui certamente já se questionou, até no seu íntimo, e tem família. Estas situações magoam, como magoariam qualquer pessoa. Há aqui uma vingança pessoal?
Mas porquê?...
Por exemplo, por não ter mencionado Luís Filipe Vieira quando tomou posse?
Isso é uma rábula que não faz o mínimo sentido. Naquele dia, o Benfica precisava de apresentar um presidente, exatamente naquele dia. Estava a meio de um empréstimo obrigacionista que ia cair, estava a meio de uma inscrição na UEFA que ia cair. Estava em risco tremendo de ficar de fora das competições europeias. O que importava naquele dia, e aquilo que foi estratégico naquele dia, era que o Benfica tivesse um presidente.
Em nada foi ofensivo para com a pessoa, em nada foi propositado para deixar uma marca onde não se falasse da pessoa.
Mas Vieira pode ter sentido que houve ali alguma ingratidão?
Não pode ter sentido, porque conhece os regulamentos, conhece as regras, conhece as regras do mercado, conhece tudo. E foi só nessa situação que não foi falado rigorosamente nada do passado, do dia anterior àquele dia.
Nesta corrida eleitoral, observamos que não tem tido, por exemplo, o apoio de antigos jogadores do Benfica. Estou a lembrar-me de Miccoli, Cardozo, velhas glórias como António Simões, que se juntaram a outros candidatos. Isto tem alguma explicação?
Acha mesmo que não tenho apoio dos ex-jogadores do Benfica?
Não sei, diga-me…
Aliás, tenho um que tem pouca história no clube, que até entrou para a direção.
Humberto Coelho?
Humberto Coelho... É evidente que tenho o apoio de muitos jogadores do Benfica. Só considero que não seja necessário estar a expor as pessoas, embora haja muitos que queiram vir comigo. Querem vir comigo às casas e querem vir comigo aos eventos de campanha. Estou muito agradecido a todos eles. Há uma coisa que eu não farei: comprar. Nem votos, nem pessoas para estarem ao meu lado. Isso não farei.
Foi o caso de Noronha Lopes?
Não sei se foi o caso. Estou a dizer: eu não o farei.
Então vou reformular a pergunta. Acha que estes apoios, usando aqui uma expressão popular, assinaram de cruz com Noronha Lopes?
Que conhecimento é que Cardozo ou Miccoli têm com João Noronha Lopes? Quando é que trabalharam juntos, quando é que se conheceram para haver esses apoios? Basta que se faça essa análise.
Mas não é preocupante para mim o que os outros fazem ou deixam de fazer. É preocupante para mim aquilo que eu faço e que continuarei a fazer para o Benfica. E que não muda na minha essência enquanto pessoa.
Já Nuno Gomes é um exemplo diferente, não é? Nuno Gomes trabalhou consigo, teve funções no Benfica e hoje quer ter funções até bastante consideráveis, no caso de Noronha Lopes ser o próximo presidente.
É legítimo da parte dele. É legítimo da parte de qualquer atleta apoiar quem quer que seja. Não estou a dizer que não seja legítimo.
Nuno Gomes, volto a insistir, não teve um papel qualquer no Benfica. Por exemplo, esteve ligado, e o Rui também já o revelou, à vinda de Roger Schmidt - o último treinador campeão…
É uma verdade.
E hoje o facto de aparecer naquela que é, supostamente, a lista principal concorrente sua...
É uma verdade. Mas foi uma opção do Nuno Gomes e para mim é completamente natural, completamente normal.
Mas não é um trunfo a seu desfavor?
Não é uma situação que me preocupe, se é trunfo a meu desfavor ou deixa de ser . É o entendimento que o Nuno Gomes fez e tenho de respeitar isso.
Quem não está consigo nestas eleições, e caso seja reeleito, terá no futuro as portas da Luz fechadas?
Nunca ninguém teve as portas da Luz fechadas. O Benfica é de todos os benfiquistas, não é do presidente que está. É de todos os benfiquistas e comigo nunca ninguém teve as portas fechadas.
Mas o que é certo é que, imaginemos, o Rui é reeleito, como pretende. No futuro, Nuno Gomes e o seu irmão, que têm uma empresa de agenciamento de jogadores...
Comigo não teria ninguém com empresas de agenciamento, mas não sei, ao dia de hoje, se o Nuno Gomes ainda tem ou deixa de ter essa agência, ou se prescinde dela no futuro. Mas o que tenho de cuidar é daquilo que é a minha lista e daquilo que é o futuro do Benfica com a minha lista.
E o futuro do Benfica, segundo Rui Costa, passa por um projeto que é o Benfica District. Já disse que não é apenas uma questão de maquilhagem, mas há quem defenda que os 200 milhões de custos são uma fantasia…
Não estamos a falar de fantasia nenhuma. Nós fizemos este projeto com quem desenhou o Estádio da Luz e que conhece melhor do que ninguém o Estádio da Luz, para um rendimento também muito mais substancial.
Mas não há obras mais urgentes, quer no atual estádio, quer no Seixal, em vez de se avançar para um projeto desta envergadura?
Este projeto será pago completamente em paralelo com a vida do dia-a-dia do Benfica e, portanto, não terá nenhuma influência naquilo que são as contratações para o futebol. Nada vai influenciar o dia-a-dia.
É um projeto que levará o estádio a ter 80 mil lugares?
Sim.
Há uma ideia, para já, de aumentar a lotação para 70 mil?
Já está em curso.
Quando é que ficará concluída esta primeira ampliação?
Nós anunciámos isso em duas fases e, portanto, já estamos muito perto desse número.
E a questão do naming?
O naming, com o Benfica District , mais facilmente será conseguido.
Mas tem já algum parceiro?
É um dossier que já vem de há longos anos no Benfica. Tivemos propostas, tivemos negociações, consideramos que não eram os números que nós pretendíamos.
Qual é o número, o valor, desejável para o Benfica?
Não vou estar a anunciá-lo, por motivos de negociação. Mas ainda não chegámos aos números que nós consideramos que a marca Benfica vale e que o Estádio da Luz vale.
É uma situação, a ampliação da Luz, que tem também por objetivo resolver um problema recorrente, que é a questão da fila de espera do RedPass. Neste momento, tem ideia de quantos sócios estão a aguardar?
Acima de 15 mil. E isto é sinal também do crescimento da família benfiquista.
Nós este ano chegámos aos 400 mil sócios, queremos chegar aos 500 mil e, com o andamento que estamos a ter e com as medidas que queremos tomar para o futuro, com toda a certeza iremos chegar aos 500 mil sócios – ainda que haja, no próximo ano, uma renumeração dos sócios.
Mas o aumento do número de associados não agrava o problema anterior, da fila de espera?
Sim, pode agravar esse problema, mas a família benfiquista não deixa de crescer. Não consigo fazer um estádio para 500 mil pessoas, isso é impossível, mas temos a capacidade para poder dar mais lugares no nosso estádio.
O Benfica já precisava hoje de um estádio novo? Luís Filipe Vieira falava há dias de um novo estádio para 120 mil, voltando aos 120 mil de antigamente…
O Benfica tem um estádio maravilhoso e vai ficar com um estádio ainda mais maravilhoso. Não acredito que 120 mil lugares no estádio atual seja a solução para o Benfica. Acredito que se chegarmos ali à medida dos 80 mil é uma ótima medida. Não podemos estar a pegar agora no estádio e transformá-lo num estádio de 120 mil.
A questão da centralização dos direitos televisivos é também uma matéria em cima da mesa. De resto, está prometida como uma das suas primeiras decisões, caso seja reeleito. Disse que já tem propostas, mas aguarda por propostas mais vantajosas. A minha pergunta é muito objetiva: estamos a falar de que valores? 60 milhões?
Não falo de valores. Nós temos propostas acima daquilo que temos no presente. E, para fecharmos 26/28 – que é a tal janela aberta antes da centralização dos direitos, se ela efetivamente nascer, que esperemos que neste estado não nasça –, temos propostas já acima daquelas que temos hoje, mas queremos mais do que aquilo que temos em cima da mesa.
Mas quais são os mínimos para o Benfica?
Andamos acima dos 60 milhões de euros e é sobre isso que vamos trabalhar. Duvidamos que aqui em Portugal se atinjam os números prometidos e daí a nossa preocupação, os nossos alertas.
Portanto, se o Benfica não conseguir, nenhum dos outros conseguirá esses valores… esse encaixe? Aqui é uma questão de marca?
O Benfica, sozinho, acredita que pode chegar aos valores que acabámos aqui de referir. E essa é uma preocupação verdadeira.
O Benfica vai reforçar-se em janeiro? Neste momento já identificou lacunas do plantel para isso?
O Benfica vai reforçar-se em janeiro, quando lá chegar, se entender que é necessário reforçar-se, como sempre fez. E, portanto, há que trabalhar com os jogadores que temos hoje.
Espera, então, que a equipa ainda melhore muito – ela e os próprios jogadores, que melhorem também o seu rendimento individual.
Exatamente. Há jogadores que ainda estão a adaptar-se, mais ou menos.
Incluindo Richard Ríos, não é?
Mas Richard Ríos não vai ser um tema. Toda a gente está a falar do Richard Ríos pelo que custou ou não custou e ainda não teve as prestações que toda a gente espera.
Se calhar por isso mesmo, pelo que custou...
Mas esse peso que ele está a sentir também tem de ser de alguma forma aliviado. Richard Ríos não foi contratado para fintar 40 jogadores por jogo e marcar 40 golos por ano. As suas funções são outras. É preciso dar tempo aos jogadores para se adaptarem.
Sente o jogador pressionado? Já falou com ele, por exemplo?
Sinto que o jogador tem uma certa necessidade de corresponder às expectativas.
Foi o que ele lhe transmitiu?
Não, é aquilo que se sente. Às vezes, quando se falava da experiência do futebol e dessas coisas todas, para quem tem experiência no futebol basta olhar para o jogador ou estar num treino para perceber.
O eventual regresso de Bernardo Silva foi um dos temas desta campanha. E esse eventual regresso é um exclusivo de João Noronha Lopes?
Promessas de jogadores para o futuro e de treinadores para o futuro – isso é anos 80, anos 90. Nunca farei uma coisa dessas, que é prometer o que quer que seja de jogadores ou treinadores que estejam hoje com contrato. Aquilo que eu digo sobre Bernardo Silva, e sobre todos os Bernardos Silva do Benfica, é que, no meu mandato, tentei sempre fazer voltar a casa todas as nossas pérolas do 'Benfica Campus' (Centro de Treinos do Benfica, no Seixal).
E é evidente que, se o Bernardo estiver na disposição de voltar ao Benfica, se estiver com a liberdade de voltar ao Benfica, o presidente que estiver, seja ele quem for, vai querer trazer Bernardo Silva para o Benfica.
Inclusive Rui Costa?
Como é óbvio. Como tentei João Félix, como tentei Nélson Semedo, como trouxe o Renato, que infelizmente, só pelas lesões, não teve o rendimento que ele próprio gostaria de ter – o mesmo aconteceu com o Gonçalo Guedes –, e acredito que Bernardo Silva queira voltar ao Benfica.
E acha que consigo, Bernardo voltaria?
Eu não vejo porque não voltaria, porque o Bernardo, por exemplo, está numa situação igual à minha quando eu quis voltar ao Benfica. Independentemente de quem fosse o presidente do Benfica, eu queria voltar a vestir o manto sagrado. E acredito que o Bernardo esteja na mesma situação, porque é um benfiquista puro. Portanto, acredito que ele esteja na mesma situação.
E será que José Mourinho ainda vai treinar Bernardo Silva no Benfica? Ou José Mourinho, nessa altura, só treinará Bernardo Silva na Seleção?
Mourinho tem um mês no Benfica, já foi despedido do Benfica e o selecionador já foi despedido também por toda a comunicação social. Faz-me muita confusão isso. José Mourinho é treinador do Benfica. Aquilo que eu vejo em José Mourinho é uma grande paixão a fazer aquilo que está a fazer.
José Mourinho também não escondeu que gostaria de treinar a Seleção e, de resto, disse que foi surpreendido, segundo ele, com este convite do Benfica. Quando estava a pensar em voltar a Portugal apenas para a Seleção. Então acha que ele já abandonou esse objetivo?
Isso podia ser daqui a um mês, como podia ser daqui a dez anos. E, neste momento, é um treinador com contrato com o Benfica por dois anos. E espero que renove o contrato com o Benfica.
As relações com as instituições e com a Federação, de Pedro Proença em particular, também têm sido motivo de discussão entre os associados do Benfica. E um fator de polémica, uma vez que muitos benfiquistas não morrem de amores pelo líder federativo. Rui Costa diz no seu programa que há que ter um posicionamento estratégico diferente, junto das principais entidades. Já criticou Proença, mas também já disse que apoiou o seu projeto. Não há aqui uma certa incoerência aos olhos dos adeptos e dos sócios do Benfica?
De todo. O apoio é ao projeto da Federação. Por tudo aquilo que são os dossiers que estão em cima da mesa para a modificação, e melhoria, do futebol português. E onde o Benfica quer estar à cabeça. Mas não há aqui nenhuma relação pessoal que me faça apoiar o que quer que seja. Mesmo sabendo, respeitando e compreendendo que os sócios do Benfica não gostem ou tenham alguma coisa contra Pedro Proença, e que posso pagar por isso. Estou aqui para defender os direitos do Benfica.
Mas os sócios do Benfica só não compreendem que o Benfica esteja ao lado de Pedro Proença nessas alíneas todas, para melhorar o futebol português, mas depois, por outro lado, não tenha havido correspondência, segundo as próprias palavras de Rui Costa, a seguir à final da Taça, em matérias tão ou mais sensíveis. Como é o caso da arbitragem…
Entrou um conselho de arbitragem novo e tem a obrigação de verificar aquilo que não está bem e melhorar. E é sobre isso que fazemos todas as críticas que temos feito.
Portanto, este suposto prejuízo do Benfica não tem nada a ver com o “mapeamento clubístico” a que aludiu recentemente o seu homólogo Frederico Varandas, na Federação Portuguesa de Futebol?
Essa é uma coisa que é necessária explicar – é oportuno que venha alguém explicar. Se há um mapeamento, é importante que todos os clubes saibam e não que um presidente divulgue isso. Mesmo que seja feito, nunca poderia ser apresentado por um presidente de um clube. A ser feito, tinha que ser apresentado pelo presidente da Federação. Vamos ver e perceber como é que esse mapeamento foi feito.
Quer perceber isso e quer perceber também se há um “manto verde” na Federação Portuguesa de Futebol?
Eu quero que o Benfica seja respeitado. Não me preocupo se as pessoas que estão na Federação ou na Liga são mais Benfica, do Sporting, do Porto, do Braga ou do Estrela da Amadora. Mas tudo farei para ser respeitado.
Quando se acaba uma Taça de Portugal daquela maneira, a frustração é muita. E esse título foi-nos completamente tirado.
Queria, antes de terminar, perguntar-lhe diretamente sobre o ato eleitoral do próximo dia 25. Neste momento estamos mais próximos de uma primeira ou de uma segunda volta?
Não sei. Não faço a menor ideia.
Não tem sondagens na sua lista?
Não tenho ligado a sondagens.
Não há sondagens internas na sua lista?
As sondagens que são feitas são feitas da maneira como são feitas e, portanto, como bem se sabe, os sócios do Benfica… cada sócio tem o seu número de votos e não foi nesse tipo de sondagem que andámos. Não é um tema que me faça perder o sono.
O Rui muda praticamente toda a sua lista e as caras das pessoas que concorrem a estas eleições, com a saída de algumas figuras do passado. Isto também não é a assunção de que houve muitas coisas que falharam, a nível diretivo e também desportivo?
Não. Se não mudasse, a pergunta teria sido: “Vai manter as mesmas pessoas?” Como mudei, é: “Vai mudar por isto e por aquilo?” A mudança foi-se fazendo paulatinamente, criando uma equipa que eu considero que seja melhor para o futuro do Benfica. E isso não invalida que não esteja grato aos que saíram.
Mas não sentiu necessidade de mudar para se libertar desse rótulo do “Vieirismo”?
Não.
Esse rótulo esteve bem colado a si durante quatro anos...
Sim, mas nós podemos avaliar as situações como quisermos. Foram os sócios do Benfica que também votaram nessas pessoas no passado.
E caso não vença as eleições, dia 25 vai posicionar-se de que forma?
No meu lugar, no estádio.
Quando pergunto isto, tem a ver com se vai dar algum sinal aos seus apoiantes em relação a quem devem apoiar numa segunda volta.
Espero e considero que possa continuar a ser o presidente do Benfica. Se não for eu, não vou indicar ninguém.
Fazendo aqui uma analogia final com a política, já se imaginou, a 26 de outubro, na condição de militante de base do Benfica?
Nunca me assustou essa parte. Sempre me orgulhou. Mas há uma coisa, há uma garantia que deixo. No dia em que deixar de ser presidente do Benfica – que acredito que não seja agora - o meu benfiquismo não se altera em nada. E não irei nunca prejudicar o Benfica ou o seu presidente em coisa alguma. Sei bem por que é que digo isto.
Rui Costa, muito obrigado.
Muito obrigado. Obrigado a vocês.