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Liga das Nações

Pedro Ganchas joga na Dinamarca e não tem dúvidas: "Apostei com eles que resolvemos isto já aqui"

19 mar, 2025 - 13:30 • João Filipe Cruz

O central português do Silkborg partilhou balneário com João Félix, Gonçalo Ramos, Vitinha e Pedro Neto. Em entrevista a Bola Branca, sublinha o favoritismo de Portugal nos quartos de final da Liga das Nações e fala sobre a adaptação à gélida Dinamarca.

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Pedro Ganchas já tem desafio com os colegas de balneário do Silkborg. Para o ex-Paços de Ferreira, Portugal é favorito frente à Dinamarca, nos quartos de final da Liga das Nações. Para além do inevitável Cristiano Ronaldo, o medo dinamarquês está agora espalhado por outros, como Vitinha, que se cruzou com o central nas camadas jovens da seleção.

Ganchas partilhou balneário com João Félix e Gonçalo Ramos no Seixal e nas seleções jovens com Vitinha e Pedro Neto. Em conversa com Bola Branca, fala ainda sobre a adaptação à gélida Dinamarca, onde chegou no verão, as diferenças nos estilos de vida e a relação com os adeptos.

O Dinamarca-Portugal está marcado para quarta-feira, às 19h45, em Copenhaga. A segunda mão realiza-se no domingo, dia 23, em Alvalade. Os dois jogos terão relato em direto e acompanhamento na Renascença.

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Esta é a tua primeira aventura fora de Portugal. Como é que está a correr?
Sim, a primeira aventura, é verdade. Era algo que eu já queria há algum tempo e posso dizer que tem estado a correr muito bem.

Os primeiros seis meses até à paragem foram 25 jogos. Fui totalista em todos, portanto, não podia ter começado de melhor maneira a experiência aqui. E, entretanto, desde que retomámos, depois da paragem de inverno, tive uma lesãozinha, mas já estou a retomar a competição.

Mas nada de grave?
Não, nada de grave. Já está resolvido. Estive quase dois meses de fora, ainda. Agora, felizmente, já está resolvido e estou a retomar a competição. Infelizmente, falhámos um objetivo importante para o clube, que era ficar nos seis primeiros. Mas pronto, agora temos os últimos dez jogos, em que o objetivo é, claramente, ficar em sétimo, porque ainda há uma hipótese de disputar o play-off para as competições europeias, e estamos nas meias-finais da Taça.

Ainda estão dentro dos objetivos para a realidade atual do clube?
Está alinhado. Ainda temos as meias-finais da Taça e esta possibilidade grande, ou diria até muito grande, de ficarmos em sétimo lugar e também disputarmos o play-off das competições europeias. Depois, eles fazem aqui um play-off interno para perceber quem é que vai ao play-off da Liga Conferência. Digamos que tem sido uma época bastante dentro das expectativas do clube e, pessoalmente, naquilo que foram os primeiros seis meses, as coisas correram bastante bem.

Como foi a receção? Os balneários são todos iguais?
É difícil falar do contexto Dinamarca tendo apenas o conhecimento do contexto do clube onde eu estou. Apesar de agora já haver mais alguns portugueses no campeonato. Pronto, é sempre difícil falar do contexto dos outros clubes apenas conhecendo o meu. Ainda por cima, sendo um clube que não tem muito esta política de jogadores estrangeiros. Nós somos apenas quatro estrangeiros e um deles é sueco, portanto, é como se fosse dinamarquês.

São pessoas muito acolhedoras, muito disponíveis para ajudar. Não tive dificuldade nenhuma em integrar-me aqui. Até porque eles falam todos muito bem inglês. Depois, há outros problemas, como a meteorologia, a gastronomia, essas coisas mais específicas [risos].

Os dinamarqueses são muito diferentes?
Eles vivem muito para dentro…

Vivem para dentro e sem cortinas nas janelas...
Sem cortinas nas janelas, é verdade! Eles vivem muito para a família, também porque as condições meteorológicas não ajudam muito. Enquanto que em Portugal, se calhar, às quatro, cinco da tarde, numa primavera, verão, e vamos estender isto para o outono e para o inverno, a malta pode sair do trabalho às cinco, seis da tarde e ainda tem o sol, ainda se senta no café, bebe uma cerveja.

Aqui, é difícil pela questão do clima. E, também pelas horas de luz que eles têm aqui, acabam por, naturalmente, ficar um bocadinho mais nas suas casas. As temperaturas puxam para isso, não é? Tive de me adaptar, é verdade. Tive de me adaptar a essa realidade. E tive de comprar umas roupinhas novas [risos].

Como é a vossa relação com os adeptos? São abordados na rua?
Não há tanto aquele misticismo à volta do jogador de futebol aqui. Há uma maior abertura para estar tranquilo num café, num restaurante. Há uma abordagem ou outra, mas não são abordagens invasivas. Mantém-se sempre uma privacidade que é confortável. Em Portugal, não existe. Obviamente que os jogadores de clubes grandes ainda sentem isso de uma maneira diferente. Não poderem ir a um café, a um restaurante, ao supermercado e, muitas vezes, até se privam disso quando os resultados não são os melhores, porque sabem que as abordagens também não vão ser muito agradáveis. Aqui não há isso.

E nos jogos? Como é o ambiente?
Eu não estava à espera de apanhar tantos estádios cheios. Eles aqui têm muita cultura de, em vez de terem estádios de 30 ou 40 mil para estarem metade vazios, têm estádios de 10, 15 e estão sempre cheios. Nesse aspeto são impecáveis, porque há uma coisa diferente em relação a Portugal, onde se vive muito para os três grandes. Aqui, se é adepto do Silkeborg, é só do Silkeborg. E depois isso nota-se aos fins de semana, porque vamos jogar a clubes mais pequenos e os estádios com 8 ou 9 mil lugares estão sempre cheios.

E sobre a língua, fazes intenção de aprender? Já dizes alguma coisa em dinamarquês?
É muito complicado mesmo. No início ainda ponderei. Há aqui um peso de perspetiva de carreira. O Silkeborg foi aquilo que eu considero um bom passo, mas um passo intermédio, ou um passo de passagem. Não é um clube em que me vejo a ficar muitos anos. E tive de ponderar essa questão do dinamarquês.

É uma língua que só é falada aqui. O dinamarquês não vai servir para absolutamente mais nada. O português fala-se um bocadinho em todo o lado, o espanhol também, o francês também é uma língua muito falada. E obviamente o inglês, como língua universal. Mas há línguas em que não compensa investir.

Mas ficaste surpreendido com o quão bem está a correr na perspetiva individual ou já ias com boas expectativas?
O objetivo é sempre fazer o máximo de jogos possíveis. Além do rendimento coletivo, ter um bom rendimento individual, porque isso também é fundamental. Agora, se me dissessem que ia chegar aqui, duas semanas depois começar o campeonato, play-offs de competições europeias, fazer 25 ou 26 jogos nos primeiros seis meses e ser totalista em todos, é um cenário ideal, e ainda bem que assim foi.

Nessa perspetiva individual, diria que foi um concretizar da expectativa que eu trazia. Depois, há o contexto coletivo, do país e da liga. Sinceramente, em Portugal não acompanhava a liga da Dinamarca, como, se calhar, 99% dos portugueses. Aí, surpreendeu muito. Não estava à espera que o nível do campeonato fosse tão alto, que eles tivessem tanta qualidade. Têm jogadores muito evoluídos tecnicamente. Mas há uma "barreirazinha" maior, principalmente para os principais países do futebol: a metodologia de trabalho e a cultura tática existentes em Portugal.

Mas notas vontade de chegar lá?
Sim, sim! As coisas no clube do Dani [Silva], o Midtjylland, são diferentes em muitos aspetos e eu já falei disso com ele. Isto também varia um bocadinho. Não me levem a mal, mas é como estar em Portugal e jogar no Benfica e no Paços de Ferreira. Eu estive nos dois e sei que as coisas diferem. Acredito que um Copenhaga seja diferente. Estamos a falar de um clube com outra estrutura, com outra capacidade financeira e com outro orçamento.

Agora, eles são um povo muito inteligente, não há dúvida disso, e a prova é a forma como eles se organizam socialmente e a forma como funcionam enquanto país. Mas também vivem muito para eles. Não consigo dizer que não há essa vontade de aprender, porque nunca senti isso. Há é uma barreira.

Passemos para as seleções. Como está o entusiasmo dinamarquês?
Provavelmente, é a última oportunidade têm para ver o Ronaldo ao vivo. Falo do Cristiano porque é inevitável falar dele. É uma figura seja onde for e aqui também. Os bilhetes vendem-se para ver o Cristiano.

Os teus colegas fizeram-te perguntas sobre alguns jogadores em particular?
Os do Paris Saint-Germain. Eles sabem que joguei com o Vítor [Vitinha] e perguntam por ele. Estamos a falar de prestações absurdas na Liga dos Campeões e obviamente que há essa curiosidade de saber como é que ele é e se já era assim tão bom quando jogamos juntos.

Eles estão otimistas?
Eu apostei com eles que a eliminatória ficava resolvida já aqui. A Dinamarca também está aqui num período de transição, selecionador novo, alguns jogadores novos. Depois, é olhar para os jogadores a nível individual, e o nível dos jogadores que Portugal tem é completamente superior. Portugal assume-se claramente como favorito.

A Dinamarca convocou dois "portugueses": Morten Hjulmand e, pela primeira vez, Conrad Harder. Falando especificamente de Hjulmand, já tem outro estatuto aí?
Sim! Ele foi o jogador do ano passado. Como nós temos as Quinas de Ouro, eles têm o equivalente. O que me dizem é que foi um jogador que apareceu na seleção e teve um impacto muito grande logo na estreia, logo nos primeiros jogos. Acompanhando o campeonato português e vendo aquilo que ele faz no Sporting, é um grande jogador.

Se tivesses de destacar um ponto forte dinamarquês, qual seria?
A vertente atlética deles é sempre algo de destacar e que pode ser uma das maiores valências. Nós também já temos jogadores preparados para fazer face a essa possível dificuldade, mas se tivesse de destacar alguma coisa era precisamente isso, porque é o fator em que eles se diferenciam. Enquanto nós temos um perfil mais técnico, cerebral, mais tático, mais organizado, eles podem destacar-se por essa componente mais física e esse perfil mais atlético.

Vais ver o jogo aí na Dinamarca. Vais ao estádio ou vês em casa?
Vou ver o jogo aqui. Era para ir ao estádio mas, entretanto, o planeamento do clube não vai permitir. Há treino no dia e no dia a seguir, e daqui a Copenhaga são quase quatro horas de carro. Vou ter de ver aqui em casa e ficar a torcer, na Dinamarca, por Portugal.

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