Futebol Feminino

"É o momento". Alice Marques já liderou França e agora quer viver a "sensação de representar Portugal"

08 out, 2025 - 07:15 • Inês Braga Sampaio

A central luso-francesa, de 20 anos, atualmente no Sevilha, espera entrar nas escolhas de Francisco Neto para jogos futuros da seleção nacional. Em entrevista a Bola Branca, conta como está a ser a experiência em Espanha e revela os sonhos para o futuro.

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Foi aconchegada entre família, aos 11 anos de idade, que Alice Marques viu Éder fletir da esquerda para o meio, desfazer-se de Laurent Koscielny e aproveitar o espaço para desferir um forte pontapé que só parou no fundo das redes de Hugo Lloris. Alice nasceu e cresceu em França, mas viu a final do Euro 2016 com uma camisola vermelha, por Portugal. E agora, sonha vestir a camisola oficial.

"Portugal faz parte da minha vida", confessa a defesa-central luso-francesa, de 20 anos, para quem "seria incrível" representar Portugal.

Produto das escolas do Lyon, o clube de maior sucesso da história do futebol feminino, Alice Marques estreou-se pela equipa principal em 2023/24 — foi capitã e marcou um golo —, antes de ser emprestada ao Valência na época seguinte. Ainda "teenager", fez 27 jogos e, esta temporada, partiu, em definitivo, para o Sevilha, atual nono classificado da Liga espanhola e equipa pela qual tem sido titular.

Pelo meio, fez carreira nas seleções jovens de França. Mundial sub-17, em que as "bleues" desiludiram, e Europeus sub-17 e sub-19 (meias-finais, em 2022 e 2023, respetivamente), habitualmente com a braçadeira de capitã no braço. Agora, contudo, quer saber o que é vestir a camisola das quinas.

Em entrevista a Bola Branca, Alice Marques fala da ainda curta carreira, dos sonhos para o futuro e da expectativa de representar Portugal. A próxima convocatória de Francisco Neto, para o duplo confronto com os Estados Unidos, a 23 e 26 de outubro, na Pensilvânia e no Connecticut, ainda não tem data.

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Como está a correr esta época? Tens sido titular. Quais são as sensações até agora?
Boas. Acho que são sensações positivas, mesmo que os nossos primeiros resultados não tenham sido o que esperávamos. Mas também faz parte e isto só começou agora. Sabemos que a época é grande. Temos um bom grupo e sinto-me muito bem dentro desse grupo. Isso é super importante e faz com que, mesmo que os resultados não sejam positivos, as sensações são positivas e sei que vamos mudar a dinâmica.

Foste formada no Lyon, o clube com o maior sucesso da história do futebol feminino, com 16 títulos de campeão francês, oito Liga dos Campeões... Sentes que o facto de teres sido formada nesse ambiente te trouxe aprendizagens diferentes, te trouxe um "plus"?
Sim, isso é certo. Ter essa sorte de poder ser formada neste clube e também de ter podido treinar com as melhores e mesmo viver experiências como a Champions, claro que é um "plus". É outro nível de exigência e isso é super importante. Afinal, o Lyon não é um clube assim tão grande por sorte. Para mim o que fica mais é essa exigência. E claro, tive a sorte de treinar com jogadoras com muita qualidade e, futebolisticamente, aprendi muito.

Como é que surgiu a oportunidade de ires para o Sevilha?
Depois da minha experiência com o Valência, queria continuar a ter minutos e, sobretudo, também queria ficar no campeonato espanhol. Daí surgiu a oportunidade de ir para o Sevilha e acho que para mim era a melhor oportunidade.

O futebol francês é um dos melhores do mundo, tal como o futebol espanhol, e têm até semelhanças: por exemplo, a nível de poderio financeiro, desportivo e etc, há o Lyon e depois o PSG e os outros, e em Espanha há o Barcelona e depois o Real Madrid e o Atlético de Madrid e os outros — sem querer desvalorizar qualquer equipa, obviamente. Como defines as semelhanças e diferenças entre os dois campeonatos e os dois futebóis?
A primeira coisa é que no campeonato espanhol há mais equipas. Isso é um facto e faz com que tenhas mais jogos durante a época, que é algo de que gosto. Depois, se calhar, são um bocado futebóis diferentes, mas não há uma grande diferença. Mas acho que o futebol espanhol acaba por ser o futebol mais técnico e tático, e fisicamente também há um grande trabalho que está a ser feito aqui em Espanha.

Em França, é um bocado mais físico. Também há um nível de futebol tático e técnico bom, mas diria que são essas as diferenças.

Sendo o futebol espanhol mais técnico e mais tático — apesar de também estar a desenvolver, como disseste, essa componente física — como é que se encaixa nas tuas características? E como é que as tuas características se encaixam no futebol espanhol? E em concreto no Sevilha.
Acho que sou uma jogadora que pensa muito, que tenta antecipar muitas das coisas e que gosta de jogar. Gosto de ter bola, também porque fui formada no Lyon e é um clube que gosta de ter a posse de bola. E no Sevilha, é o que queremos fazer, mesmo que às vezes ter à posse de bola não seja sempre fácil. Acho que as minhas características concordam com o nosso projeto.

Que patamares gostarias de atingir? Há algum clube por que gostarias de jogar, por exemplo? Com que é que sonhas agora, nesta fase tão inicial ainda da tua carreira e apesar de já estares num campeonato espanhol, que já é um dos melhores do mundo?
Realmente, não acho que tenha um clube em que queira mesmo jogar, mas o meu objetivo seria jogar no mais alto nível, nas melhores equipas, jogar as maiores competições, tanto no clube como na seleção. É viver experiências dessas. E por que não ganhar uma dessas também? Isso seria mesmo um sonho.

Ou seja, ganhar uma Liga dos Campeões, por exemplo?
[sorriso] Por exemplo.

Passando para o futebol internacional: representaste a França nos escalões jovens, mas já manifestaste interesse em representar Portugal. Até recentemente, "rejeitaste" as sub-23 francesas. O que te leva a isso? Qual é a tua motivação por quereres jogar por Portugal, abdicares mesmo de França e optares pela seleção portuguesa?
Tendo a dupla nacionalidade, é algo que sempre esteve na minha cabeça. Afinal, Portugal faz parte da minha vida. E então, o facto de ser portuguesa e francesa faz com que, na tua cabeça, saibas que tens essa possibilidade. E também as pessoas fazem com que tu te lembres disso [risos]. E acho que era o momento. Era algo que sempre quis, ter essa sensação de representar também Portugal.

Já representei a França e representar Portugal também era algo que eu queria. E era um bom momento para isto.

Bem sei que, neste caso, é futebol masculino e eras bastante jovem na altura, mas quando aconteceu a final do Euro 2016 entre Portugal e França, qual das camisolas é que tinhas vestida?
[risos] Acho que tinha a camisola vermelha, sinceramente. Sim, eu lembro-me perfeitamente desse dia. Ainda por cima era em França. Tive a sorte de ir ver dois jogos desse Europeu. E lembro-me perfeitamente desse dia. Estava com toda a minha família. E, sinceramente, apoiando Portugal.

Portugal vai competir pela presença no Mundial 2027. É um sonho estar lá, com a camisola de Portugal?
Sim, claramente. É um sonho. Sei que há muitas coisas para fazer antes disso, mas sim, é um sonho.

Como defesa, tens alguma referência na posição?
Tive a sorte de jogar com uma das melhores nessa posição. Tive a sorte de treinar com ela. É a Wendie Renard, obviamente. E claro que, quando treinas com jogadoras desse nível, olhas para tudo o que fazem e tentas repetir no campo.

E na seleção portuguesa, estás entusiasmada para partilhar o campo com alguma jogadora em particular?
Sim, sim. A Kika Nazareth está num dos melhores clubes do mundo e essa técnica que ela tem... Gostaria de ver isso. Também as jogadoras com mais experiência, elas transmitem coisas muito fortes, e também gostaria de vê-las e poder partilhar o campo com elas.

Voltando então um bocadinho para o Sevilha, para ti. Qual é o objetivo para esta época?
Temos de ir jogo a jogo. É claro que é tentar ganhar cada jogo, mas acho que temos de ir jogo a jogo.

É um clube em que te sentes bem, em que gostarias de continuar por mais tempo?
Sim, é um clube onde me sinto muito bem. Assinei por dois anos e veremos com o tempo, mas é um clube onde me sinto bem e quero aproveitar para também ter essa estabilidade e poder continuar a ter minutos. Estou contente por estar aqui.

Estás numa das maiores montras do mundo, que é a Liga F. Que em virtude dos contratos de visionamento, etc, até acaba por ter mais público a ver na televisão do que a Liga francesa. Como é estar numa das melhores ligas do mundo, uma das ligas mais vistas, e saber que cada vez mais pessoas veem?
Realmente, não sei se tenho essa consciência e não acho que pense muito nisso. Estou mesmo focada no que tenho de fazer, em ajudar a equipa a conseguir os objetivos, e acho que não olho muito para isso. Gosto deste campeonato e prefiro estar focada e tentar aproveitar.

Um dia que vistas a camisola de Portugal, como é que imaginas que será a reação da tua família — e a tua própria reação, também?
É difícil imaginar, porque seria um momento incrível. Imaginar a minha família, sei que vão ser os mais felizes.

Simplesmente quando saíram algumas coisas e quando souberam que eu tinha dito que queria jogar por Portugal, os meus primos, tios, tias, toda a gente me mandou mensagem, ficaram super felizes. Seria um dia feliz e toda a minha família, e eu a primeira, vamos lembrar-nos desse dia, disso tenho a certeza absoluta.

Então agora é esperar por uma chamada de Francisco Neto, não é?
[risos] É isso mesmo. É trabalhar primeiro.

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