17 jun, 2024 - 09:00 • Eduardo Soares da Silva
Portugal pode vencer o Euro 2024 e a seleção tem de perceber que está ao nível dos grandes. É o que defende Ricardo Quaresma, jogador histórico da seleção nacional e influente na conquista de 2016.
O extremo de 40 anos conversou com a Renascença no dia em que lançou a sua primeira coleção de moda, que serve de inspiração para o Euro deste verão, com referências a jogos históricos da seleção nacionais em competições passadas.
A olhar para o torneio da Alemanha, Quaresma - que somou 80 internacionalizações e e esteve em três Europeus e um Mundial - defende a titularidade de Cristiano Ronaldo em todos os jogos: "Ele até pode ter um dia não, mas só por estar ali a dizer número sete e Ronaldo, o respeito já é outro. O adversário já fica ali meio tremido, porque ao mínimo erro ele finaliza".
O extremo defende que a seleção pode fazer melhor do que aquilo que mostrou nos jogos de preparação e acredita que Francisco Conceição possa ser decisivo pela "rebeldia".
Quaresma acredita que a Federação Portuguesa de Futebol poderia ter homenageado jogadores históricos da seleção que deixaram de ser chamados e revela que ainda não terminou a carreira. Teve convites desde que deixou o Vitória há dois anos, mas só volta "se for para ser feliz e em grande".
"Ainda não tenho nada decidido. Tenho coisas em ci(...)
Como surgiu a ideia de criar estas camisolas e entrar no mundo da moda?
Eu sempre adorei o mundo da moda. Não tinha tempo, obviamente, por causa do futebol. Mas desafiaram-me para este projeto porque também sempre souberam que o mundo da moda me fascinava. Quando soube que podia colocar a t-shirt à minha maneira, aceitei. E estou aqui ansioso, porque é um mundo novo para mim. Apesar de ser um mundo que eu sempre gostei, sempre admirei, fico um bocado nervoso, porque não sei como é que vai correr.
Os desenhos têm uma simbologia especial?
Têm um significado muito especial, acho que para todos nós portugueses. Em cada Europeu, houve uma história. Tem a minha pena, porque joguei com a pena [penteado] na final. Tem a traça do Cristiano também da final e depois tem as luvas que o Ricardo acabou por tirar para defender o penalti frente à Inglaterra. É um momento de Europeu, acho que tinha tudo a ver e estou contente por me abrirem essa porta. Tudo tem um início e espero que este seja o momento.
Olhando para este Europeu, a seleção fez três jogos de preparação. Acha que surpreendeu ou desiludiu?
Eu acho que não desiludiu. Acho que podemos fazer mais porque temos qualidade e talento para isso. Mas nós, portugueses, nunca estamos bem com aquilo que temos, faz parte. Acho que vai sempre haver os críticos, os entendidos do futebol vão tentar sempre arranjar alguma coisa para criticar. O mais importante é eles poderem desfrutar e ganhar. Talento e qualidade não lhes falta. Eu acho que, se calhar, é a seleção mais completa de todos os tempos em termos de setores. Eu acho que é mais completa. Porque tiras um, metes outro e não vais notar muita diferença. Por isso, têm tudo para chegar à final.
Concorda com a ideia que a Croácia foi o primeiro grande teste da seleção nacional desde que Roberto Martínez assumiu o cargo?
Sem dúvida. Foi a seleção que tu podes dizer que é uma equipa forte. E acabámos por perder. Por isso é que se calhar os adeptos portugueses começaram logo... Aliás, os próprios jogadores acabaram por dizer que era preciso meter os pés na terra e não voar tão alto. Só eles sabem o que é que se passa lá dentro. Só eles sabem como é que andam lá dentro. Eu acredito que para tudo na vida é preciso um bom espírito. E eles têm desse espírito, acho que têm tudo.
Acha que Portugal tem que entrar nas competições sempre com o estatuto de candidato, até eventualmente como um dos favoritos? Face ao talento e porque já venceu um Europeu...
Sem dúvida. Por tudo. Acho que nós temos de começar a perceber que também estamos ao nível dos grandes. Nós, portugueses, somos um bocado mais pequenos nisso. Acho que somos muito bons em muitas áreas e temos sempre medo de assumir aquilo que somos e o talento que temos. Temos de começar a mudar um bocado a mentalidade.
Até onde acha que a seleção vai chegar?
Acho que vai à final e vai ganhar. Acredito nisso. Pode acontecer muita coisa, obviamente que até pode acontecer que a gente não consiga chegar à final. Mas a minha confiança neles é chegar à final.
Portugal vai jogar contra a Turquia, que é um país que o Ricardo também conhece muito bem. É uma seleção emergente. Acha que é o adversário mais difícil?
Na fase de grupos eu acho que é. Até porque a seleção turca está bem, está confiante e vai ter o estádio praticamente cheio porque tem muita população turca a viver na Alemanha. A gente já sabe como é que é o adepto turco. Acho que é a seleção que pode causar mais dificuldades à nossa seleção.
Olhando para a seleção portuguesa, acha que o Francisco Conceição pode ser o novo Quaresma? Ter o papel de arma secreta a sair do banco como o Quaresma em 2016?
Acho que ninguém é igual a ninguém, nunca gostei muito de comparações. Mas sim, o miúdo é elétrico, porque tem aquela vontade, tem aquela garra, aquele ADN do Porto. É um miúdo que eu não conheço, é muito mais novo que eu, mas vê-se que quando entra em campo desfruta muito o futebol. Acredito que, naqueles jogos mais difíceis e se calhar mais táticos, como ele é rebelde, pode ser um jogador muito importante.
Há o debate se Cristiano Ronaldo deve continuar a ser imprescindível na seleção. Jogou muitos anos com ele, qual a sua opinião?
Para mim, e eu não digo isto por ser amigo dele, digo isto como adepto: tem de jogar. Porque, se tiras o Cristiano Ronaldo, vais meter quem?
Para a posição, há o Diogo Jota e o Gonçalo Ramos...
São bons jogadores, mas o respeito é outro quando entras com o Cristiano. Ele até pode ter um dia não, mas só por estar ali a dizer número sete e Ronaldo, o respeito já é outro. O adversário já fica ali meio tremido, porque ao mínimo erro ele finaliza. Por isso, para mim, tem de jogar sempre. Enquanto ele estiver lá, tem de jogar sempre. Não quer dizer que tenha de jogar os 90 minutos, mas entrar de início ele tem de entrar. Mas isso é a minha opinião, também não sou treinador.
Entrando no plano pessoal, acha que a FPF deveria ter outra abordagem com jogadores históricos que deixam de ser chamados? No sentido do respeito, da homenagem. Falo de Quaresma, Nani, Moutinho, entre outros.
Eu não gosto muito de homenagens, sinceramente. Agora, também se é para fazeres, que o faças enquanto as pessoas são vivas. Depois, quando morrem, era fantástico, jogava muito. Isso aí acho que já não faz sentido nenhum. Se tens de fazer, fazes quando as pessoas ainda cá estão. Se calhar sim, se calhar podiam, ainda para mais para os jogadores que conseguiram alcançar o maior objetivo de sempre do nosso país. Mas eu não ligo, nem me preocupo muito com isso.
Percebi que oficialmente ainda não decidiu acabar a carreira. Pode explicar mais? Tem tido abordagens?
Tenho tido muitas abordagens, mas não quero entrar num barco em que me possa afundar. Se é para acabar, é para acabar feliz e em grande. Não é faltar ao respeito a ninguém, nem às propostas que tenho tido, mas para entrar num projeto tenho de dizer "ok, vou agarrar isto com vontade e vou acabar feliz". E até agora ainda não tive essa proposta em cima da mesa.
Há uns anos falou-se uma possibilidade de voltar uma terceira vez ao FC Porto. Isso foi uma possibilidade real?
Foi.
Falou-se na altura que o Sérgio Conceição não quis. É verdade?
Eu não sei se foi o Sérgio, ou se foi alguém lá dentro, mas quando saí da Turquia vim com o objectivo de voltar ao Porto. As coisas acabaram por não acontecer e eu acabei por ir para o Vitória porque já tinha os meus filhos na escola, já tinha tudo resolvido em Portugal e também porque tinha na cabeça que já não queria sair mais do nosso país.
Na altura fiquei um bocado desiludido, triste por não regressar à minha casa, mas agradeço ao Vitória porque me abriu essa porta e recebeu-me muito bem, deu-me esse carinho, esse conforto e a oportunidade de jogar no Vitória, de conhecer o clube. Não conheci tanto os adeptos, porque entrou a pandemia e não tive essa felicidade, mas é o futebol. Às vezes estás a pensar numa coisa e sai outra. A vida é mesmo assim, continua, mas na altura, sim, fiquei bastante triste e desiludido com algumas pessoas do Porto.
O Porto troca agora de ciclo. Como é que olha para a saída de Pinto da Costa e a entra de André Villas-Boas?
Eu conheço o André, foi pouco tempo, mas ainda foi meu treinador no Inter, quando estava com o Mourinho. Sei o amor que ele tem ao clube e à cidade, sei que é a pessoa certa para levar outra vez o nosso Porto às grandes conquistas. Agora há que dar tempo ao tempo, entra numa fase em que o clube está a atravessar uma fase complicada. Acredito que ele e a equipa que ele escolheu possam fazer um grande trabalho.