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Entrevista Bola Branca

Mangala: "Merecíamos ganhar em 2016, mas depois chegou um iluminado chamado Éder"

05 jul, 2024 - 12:25 • Eduardo Soares da Silva

Em entrevista a Bola Branca, o internacional francês recusa a ideia de "vingança" no jogo dos quartos de final desta sexta-feira. A derrota de 2016 ficou para trás na memória de um país que entretanto já festejou a conquista de um Campeonato do Mundo e foi à final de outro.

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A França merecia ter vencido a final do Euro 2016. É o que defende, em entrevista a Bola Branca, o internacional Eliaquim Mangala, que assistiu a esse jogo a partir do banco.

Recorda como um jogo de grande ansiedade e a impotência de não poder estar dentro de campo. O ex-FC Porto e atual jogador do Estoril Praia lembra um "iluminado Éder" que decidiu o jogo e destaca a boa exibição de Rui Patrício numa partida histórica para Portugal.

Todos os anos, a 10 de julho, Mangala recebe mensagens de amigos portugueses a recordar aquela noite, mas o jogo desta sexta-feira, para os "quartos" do Euro 2024, não envolverá uma sensação de vingança: "Já não há muitas pessoas que falem sobre isso, porque vencemos um Mundial e fomos a outra final".

Mangala compreende, mas contextualiza as críticas feitas às prestações das duas seleções neste Europeu e aposta numa vitória francesa pela margem mínima, num jogo que espera fechado e tático

Que memórias restam do dia 10 de julho de 2016?
Foi uma grande pena, uma tristeza quando Portugal ganhou o Europeu contra nós, em casa. Foi uma desilusão, porque foi muito duro chegar até à final do Europeu e perder 1-0. Já sabemos como é a vida e o futebol. Vou lembrar o percurso que fizemos até lá, mas foi uma pena. Parabéns a Portugal por ter vencido, hoje há outro jogo.

Como foi assistir a partir do banco?
Foi difícil, é sempre difícil estar no banco, fico nervoso ao ver os companheiros a jogar. Ficas com ansiedade ao ver de fora, não podes fazer nada, é muito stress. Tivemos oportunidades, mas não fizemos o golo e depois veio o momento do Éder e pronto, acabou.

Quando o Ronaldo saiu, lembro-me que foi um momento chave. Vi Portugal muito compacto, mais solidário, foi também a chave do jogo. De fora, foi uma pena, mas foi um jogo de muita ansiedade para mim estar a ver de fora um jogo dessa dimensão.

Qual era a sensação antes do jogo? A França era considerada favorita, por jogar em casa, pela equipa...
No país, é normal sentir-se favorito, há esse sonho por jogar em casa. Dentro do balneário, o Deschamps sabia que não havia favoritos, uma final é uma final. Sabíamos o percurso de Portugal, que tinha jogadores de qualidade, o Cristiano Ronaldo e vários outros que sabem ganhar títulos.

Tentámos fazer o nosso trabalho da melhor forma e vencer o título, era a nossa primeira final dessa geração. Era um jogo de 50-50 para nós. De fora, claro que os adeptos e o país… não digo que achavam que estava ganho sem jogar, mas era o desejo do coração dos franceses. É normal essa ilusão. Mas o futebol são 90 minutos e mais. Temos de jogar e ganhar.

Avaliando o que foi o jogo, a França merecia vencer?
Acho que merecíamos ganhar, fizemos coisas suficientes para ganhar. Tivemos oportunidades, mas há um adversários pela frente… O Rui Patrício fez um grande jogo, tivemos uma bola na trave. O futebol são os detalhes e fazem a diferença. Depois chegou um jogador iluminado chamado Éder, que fez um grande golo e deu a vitória a Portugal.

Como foi ver o golo do Éder ali do banco? Pensa-se logo que acabou?
É difícil. Quando vês o jogo, a saída do Ronaldo, a bola na trave, as defesas do Patrício, tudo isso... e depois o Éder. Parece que estava tudo a cair no chão. Tentas dar a volta, mas era difícil. Havia muitas coisas que estavam a favor de Portugal. Se vires o jogo, reparas nas incidências. O título era para Portugal. O Éder fez aquele golo, pode tentar várias vezes e a bola não entra. É o futebol. É a magia do futebol também. Muito triste para nós, muito bom para Portugal.

Qual foi o impacto de perder a final em casa? Houve muitas críticas?
Críticas não, foi uma grande tristeza, houve pena e desilusão, mas críticas não. Fizemos tudo, fomos até à final, cada um viu o jogo, viu que demos tudo no campo para levar o troféu... não conseguimos. Veem os países que ficaram no nosso percurso também, não houve muita crítica. Pelo contrário. Houve tristeza, mas muito apoio do país pelo que fizemos na competição toda.

Essa derrota pode ter dado força para a França vencer o Mundial dois anos depois?
Tenho a certeza que sim. Em 2014, fomos aos quartos e à final em 2016. A equipa melhorou, o país foi ainda mais atrás da equipa e vencemos o Mundial. Esse Europeu, da forma que foi e o apoio que tivemos, deu mais motivação para ganhar um troféu. E foi um Mundial, que é ainda melhor do que Europeu.

Ainda há algum rancor ou mágoa em relação a Portugal? É uma memória viva?
Eu tenho muitos amigos portugueses em França e no dia 10 de julho, a cada ano, lembram-me. E eu pergunto o que há a 10 de julho? E eles lembram 2016. Às vezes recebo esse tipo de mensagens. Perdemos essa final, mas depois vencemos o Mundial e ainda fomos a outra final. O tempo passa. Esta semana recebi muitas mensagens sobre o jogo de Portugal, mas já não há muitas pessoas que falam sobre isso, porque vencemos um Mundial e fomos a outra final.

É a primeira vez que Portugal e França se defrontam num jogo a eliminar desde essa final. Há oportunidade de vingar a derrota?
Não, não vejo como uma vingança, mas como um jogo que dá oportunidade de chegar à meia-final. Perdemos o confronto individual contra Portugal nesse Europeu, mas também já vencemos o Mundial e fomos a uma outra final. Já sei como é o Deschamps, amanhã vai ser um jogo para atingir a meia-final e é só isso. Portugal tem uma seleção de qualidade, é um jogo muito importante, são duas nações importantes do futebol.

Como avalia o Europeu da França até agora? Esperava-se mais? Até agora, só marcaram golos de penálti ou na própria baliza.
Não sei se as críticas são justas. Todos esperam que a França ganhe 4-0 e 5-0 e que jogue muito bem. Se vires bem as coisas, a França nunca teve um grande futebol. Tem um bom bloco, joga bem defensivamente e depois tem qualidade na frente para fazer a diferença.

Este Europeu podem estar um pouco em baixo, falham muito à frente. Estão a criar oportunidades, só que a falhar fazer o golo. Nesse sentido, as críticas são justas, mas estamos a passar e é o mais importante. Defensivamente, estamos a fazer um grande Europeu e quando dificilmente sofres, não perdes. Vai chegar a um momento que os da frente vão acordar, fazer mais golos. Se tivermos esse equilíbrio, a partir daí cuidado com a França, vai ser mesmo muito forte. Já é favorito e se derem esse passo ofensivamente, há uma grande oportunidade de irem até ao fim.

Como é trabalhar com Deschamps? É, por vezes, criticado por ser demasiado defensivo...
Trabalha muito no equilíbrio, num bloco compacto. Ganhou assim. Foi assim no Euro, no Mundial também. É a identidade dele. Claro que eu entendo que os adeptos da França queiram ver um jogo mais aberto. Quando vês os jogadores… eu entendo. O Deschamps tem a mentalidade de estar ali para ganhar. Faz o que pode e dá indicações para ganhar. É só isso que ele quer: montar um grupo para ganhar.

E Portugal? Tem estado bem?
Portugal tem uma das melhores seleções quando olhas para jogadores que têm. É como a França: Portugal é criticado porque há muita expectativa de jogar melhor, fazer mais golos. Mas passou. Pode ter sido com mais dificuldade no último jogo, mas esteve bem no jogo na primeira parte.

Há sempre uma equipa em frente que está lá para ganhar e dificultar. Às vezes, os adeptos e os jornalistas esquecem que há um adversário e, mesmo sem terem a mesma qualidade, tem as suas armas para dificultar o jogo de Portugal.

Claro que podem fazer melhor, mas é uma competição, não podes fazer o que quiseres. Há uma parte pragmática e acho que Portugal tem. E tem também jogadores de qualidade para responder no momento certo, como aconteceu com Diogo Costa.

Qual é o prognóstico para o jogo?
Eu digo 1-0 para a França. Acho que não vai haver muitos golos, não vai ser um jogo muito aberto, vendo as características das duas equipas que gostam de ter um bom bloco. Pela importância do jogo, acho que as duas equipas vão estar na expectativa para ver o que se acontece. Com o tempo a passar, o espaço pode abrir e haver mais jogo, mas não acho que vá ser assim tão aberto. Acho que o Espanha-Alemanha vai ser mais aberto, com mais circulação de bola. O França-Portugal acho que será muito mais tático.

Renovou com o Estoril Praia e vai ficar na I Liga. Porquê?
Voltei ao futebol depois de um ano sem jogar, tive oportunidade de estar aqui no Estoril, deram-me oportunidade de voltar a ser jogador. Quando o presidente falou comigo e apresentou-me o projeto para este ano, quis dar continuidade depois de fazer 22 jogos na época passada.

É bom ter uma pré-temporada de novo, estar num grupo que conheço. E estou bem aqui na cidade. Estava aberto a ficar e ter mais um ano aqui. É um contexto que conheço bem, o clube está bem. Foi por isso e dar continuidado ao esforço que fiz para voltar a ser atleta e jogador. Como jogador, vivo da competição, do trabalho, da adrenalina do jogo, dos momentos menos bons. Tudo isso faz de mim um melhor atleta e homem. Era importante sentir de novo tudo isso. Tive a oportunidade de viver isso outra vez.

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