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França

"Há dias em que acreditas que vai ser para ti". Dunkerque de Luís Castro eliminou o Lille da Taça

05 fev, 2025 - 14:00 • Eduardo Soares da Silva

O português treina a "equipa da moda" em França, mas há um ano e meio, todos o desaconselharam a mudar-se para a segunda divisão francesa. "Agora estou a tirar os frutos disso, já tenho um nome em França", reconhece, à Renascença.

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O Dunkerque, da segunda divisão francesa, eliminou o Lille dos oitavos de final da Taça. O treinador, o português Luís Castro, é o principal obreiro do feito e começa a ganhar reconhecimento no país, um ano e meio depois de ter sido desaconselhado a aceitar o convite.

O técnico que venceu a Youth League e a Finalíssimo pelo Benfica B está há um ano e meio no clube cujo projeto é gerido por Demba Ba, antigo avançado do Chelsea.

Em entrevista à Renascença ainda no estádio após a vitoria, Luís Castro reconhece que "há dias em que acreditas que vai ser tudo para ti".

O Dunkerque chegou ao empate contra o Lille no último lance do jogo e venceu após uma longa maratona de penáltis: "Chegar aos quartos é um feito histórico para o clube, ainda para mais contra este Lille, que ficou nas oito melhores equipas da Champions".

Se no início do ano passado, quando chegou ao Dunkerque, lhe diriam que iria eliminar o Lille e chegar aos quartos de final da Taça, como reagiria?

Diria que ia trabalhar para isso, mas é evidente que não é fácil de prever algo assim. A última vez que o clube esteve nos oitavos, eu ainda nem era vivo. Chegar aos quartos é um feito histórico para o clube, ainda para mais contra este Lille, que ficou nas oito melhores equipas da Champions.

Jogo foi um pouco de loucos, com os dois golos depois dos 80 e o vosso golo do empate nos descontos. Como foi o jogo?

Tentamos fazer o nosso jogo, ter bola e atacar, mas eles são muito fortes, tecnicamente e fisicamente, complicaram o nosso jogo, tiveram mais oportunidades, mas fomos defender bem. Pressionamos alto, sabíamos que tinham alguma dificuldade nessa parte. Quando eles quebraram as linhas, criaram oportunidades. Eles marcaram o golo, nós mudamos a equipa, passamos um ala para ponta e passamos a jogar com dois avançados. Dissemos para a bola entrar nos corredores e cruzar e o golo sai de um cruzamento da esquerda para a cabeça do ala que foi para ponta de lança. Foi mesmo na última ação do jogo.

Só aí já terá sido uma enorme explosão de alegria...

Eu reagi calmamente, todos ficaram loucos, mas normalmente fico calmo. Comecei a pensar nos penáltis a preparar a sequência.

Vocês até falham os dois primeiros penáltis. Como se sente nessa altura?

Sabia que a probabilidade tinha diminuído, mas o nosso guarda-redes tinha adivinhado sempre os penáltis do Lille. Conhecemos o guarda-redes, costuma estar bem nos penáltis, sempre tinha uma pontinha de esperança, mas claro que falhando os dois primeiros fica mais difícil. Comecei a acreditar que seria para nós quando eles falham o primeiro, até por tudo o que aconteceu no jogo com o golo no último minuto. Há dias em que acreditas que vai ser tudo para ti.

O Luís tem uma imagem muito calma, mas quando vencem os penáltis, também explodiu com a equipa?

Mantive calmo, eu fico mais observá-los. Gosto de ficar com as imagens dos meus treinadores e staff a correrem felizes do que estar no meio. Fiquei mais a ver do que entrar propriamente no meio da festa, é mais a minha forma de estar quando estou a trabalhar. A concentração é tão alta que a emoção não vem logo ao de cima.

Tem preferências para os quartos? Prefere uma equipa mais fraca para tentar as "meias" ou seria talvez um prémio jogar contra um PSG?

Aceito o que o sorteio me der, não penso muito nisso. Já eliminamos duas equipas da Ligue 1, o Auxerre só tinha uma derrota em casa contra o Mónaco, nem o Paris Saint-Germain tinha vencido lá. Foi 1-0, podia ter sido três ou quatro. Agora uma das melhores equipas da Europa. Venha quem vier, teremos de fazer o nosso trabalho.

No campeonato, estão no quarto lugar. Como se explica este crescimento do Dunkerque?

A partir de janeiro já fomos a terceira equipa com mais pontos na liga. No ano civil de 2024, fomos a equipa com mais pontos na segunda divisão. Fazemos um bom recrutamento, os nossos jogadores são muito mais baratos do que as outras equipas da segunda liga. O clube está a organizar-se, o responsável é o Demba Ba, alguém que esteve ao mais alto nível no Chelsea e tem noção que mesmo com pouco dinheiro, podes ser organizado e ter bons resultados. Os jogadores acreditam muito no que fazemos e isso leva-nos a superar as expectativas do Dunquerque, que é um clube com muito mais anos na quinta, quarta e terceira divisão do que na segunda.

A subida à Ligue 1 seria totalmente inédita. É o sonho e o objetivo?

Não. Vamos passo a passo, o Lorient acabou de vender um jogador por 15 milhões, mas que fica até ao fim da época. Há aqui clubes que compram a seis e nove milhões, nós contratamos a custo zero. Há clubes que estão a lutar para não descer aqui e que o que pagaram por um jogador paga os salários todos da nossa equipa por um ano. Temos os pés no chão e ser conscientes que falar de luta pela subida é ainda prematuro. Se chegarmos à fase final do campeonato perto dos primeiros lugares, poderemos pensar de forma diferente. Os outros têm coisas que nós não temos.

Li que o Dunkerque já foi intitulado de clube da moda em França. Tem essa perceção, o seu trabalho tem tido esse impacto mediático?

Sim, até já antes desta vitória pela forma como temos jogado. Temos chamado à atenção, já tivemos artigos no "L'Équipe", televisões a filmar o nosso treinos. Somos considerados a equipa da moda, eu digo aos jogadores que o futebol é muito rápido, temos de trabalhar porque num dia para o outro podemos ser os piores. Não podemos viver das emoções nem desses momentos.

O Luís começa a ser fadado para estes feitos inéditos. Youth League e a Finalíssima Intercontinental sub-20 pelo Benfica, agora com o Dunkerque já está a fazer história...

E o Benfica ainda é a única equipa europeia que a conquistou. É bom para mim individualmente, trabalho muito para isso, quero continuar a trabalhar para chegar o mais alto possível no futebol, mas sempre passo a passo, com os pés no chão. No Benfica realmente correu muito bem. Os títulos internacionais do Benfica nos últimos 60 anos foram nossos, meus e daquele grupo todo de trabalho. São dois feitos históricos e agora espero também conseguir feitos históricos no Dunkerque.

Na altura poderia ser encarado como risco e surpreendete ir para a segunda divisão francesa. Sente que tudo já compensou?

Muita gente me disse que tomei uma má decisão, mas eu queria num dos países das cinco melhores ligas. Sabia que não tinha currículo para entrar na primeira liga e não tinha pessoas para me empurrarem. Apareceu a oportunidade em França, todos diziam que estava a cometer um erro grave entrar numa equipa que lutava para não descer, a certa altura da época tínhamos 2% de chance de nos mantermos, mas também gosto de desafios e acredito no meu trabalho. Agora estou a tirar os frutos disso, já tenho um nome em França, um dos melhores países da Europa em termos de futebol, sinto que já sou conhecido aqui, o que é ótimo. Mas ninguém vive do passado, os próximos jogos são os mais importantes.

Tem como objetivo regressar a Portugal para a I Liga?

Depende do clube e do projeto. Se for um clube que me pareça que tem um projeto interessante, sim, mas honestamente nem todos os clubes da I Liga me fariam regressar a Portugal neste momento.

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