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Entrevista Bola Branca

Alex de Souza, o treinador: “Não se forma o jogador para a equipa principal, forma para ele se tornar numa moeda”

06 mar, 2025 - 12:20 • Hugo Tavares da Silva

Em entrevista à Renascença, a lenda de Fenerbahçe e futebol brasileiro reflete sobre as armadilhas atuais para treinador e jogador e também sobre o jogo, explicando a lógica do mercado e da formação no Brasil. Portugueses no Brasileirão, Boto e Mourinho também abordados.

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Quando um 'camisa 10’ canhoto que fez mais de 400 golos na carreira se transforma em treinador, devemos ouvi-lo. Por que razão os grandes craques do futebol avançam para esta carreira? Não temem beliscar o estatuto? Não sentirão frustração quando os futebolistas que têm à frente não conseguem fazer o básico para eles? E o futebol, mudou tanto quanto a sociedade? Que desafios enfrentam hoje os treinadores? Alex, que fez 48 jogos pela seleção brasileira, partilha as suas ideias com o vagar e a serenidade de um sábio.

Quase sempre capitão por onde passou (figura especial de Fenerbahçe, Palmeiras e Cruzeiro), este cidadão de Curitiba lidou com muitas equipas técnicas e gostou dessas conversas. Em entrevista à Renascença, Alex de Souza – de 47 anos e na ressaca dos trabalhos em clubes como Antalyaspor (esta época defrontou José Mourinho na liga turca), Avaí e os sub-20 do São Paulo – reflete sobre o jogo, o mundo em que vivemos, as armadilhas, as razões para a formação brasileira olhar para a Europa e muito mais.

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Intriga-me muito ver os grandes jogadores de futebol a transformarem-se em treinadores. É demasiado amor pelo jogo ou outra coisa qualquer?
É. É isso, demasiada paixão pelo jogo, pelo dia a dia. Se tenho 10 minutos de lucidez, se páro, se converso, se raciocino, não vou ser treinador, vou fazer outra coisa. Mas a paixão pelo jogo é grande, a paixão pelo que envolve o jogo é muito grande e coloca-nos nesse caminho.

Mas já disse publicamente que não é divertido…
Não, não é, não tem nada de divertido. Jogar futebol é muito divertido. Estou falando de mim, já falei com outras pessoas que pensam diferente. Treinar é outra situação, você tem de procurar outros argumentos para estar ali naquele momento.

Um treinador nunca desconecta, não é?
Cara, eu criei uma situação em que eu consigo desconectar um pouco. Não é fácil, mas acho que é mais saudável. Conheço gente que nunca desconecta, mas eu procuro dar uma desligada, para a cabeça baixar na adrenalina. Hoje, que estou desempregado, procuro dividir o meu tempo. Agora, vou pensar em futebol, noutro tempo vou pensar noutra coisa, senão você enlouquece, fica maluco.

Já houve relatos sobre treinadores como Henry e Mancini lidarem mal com a incapacidade dos jogadores, porque para eles o gesto ou uma ação pareciam fáceis. O Alex já sentiu isso?
[sorriso] Não e explico porquê: cada um tem uma realidade, cada um tem uma história para contar. O que era fácil para mim não é tão fácil para outro jogador. O que eu enxergava dentro do campo talvez o jogador enxergue de uma outra forma. Se me sento para ver um jogo de futebol com você e mais dois amigos, acaba o jogo, vamos sentar e tomar um vinho ou uma cerveja, e talvez tenhamos quatro visões diferentes do mesmo jogo.

Certo.
Treinador assenta na realidade do mundo, no tipo de mundo que viveu, no tipo de mundo em que vive, nos conceitos que ele tem, mas é impossível [isso acontecer], olhar para o meu jogador e dizer “pô, eu fazia isso”. Não, não, não consigo, não faço. É injusto com aquele atleta que está ouvindo, até porque tenho 47 anos, já vivenciei várias coisas, e estou falando com um jogador de 20 anos ou outro que tem 30 mas joga a defesa. Mas conheço histórias e relatos de alguns que se decepcionavam ou tinham até... [risos]... um sentimento ruim em relação a isso.

A sociedade mudou muito. Os jogadores estão diferentes do seu tempo? No comportamento e na forma de lidar com o futebol.
Não é só com futebol, é com a vida. É outro mundo, não é? Aos 20 anos eu era diferente de um jogador que tem 20 anos hoje. Aos 20 anos tinha outros sentimentos e pensamentos do que um jovem com 20 anos hoje. Com 14 anos, e posso falar porque tenho um filho de 14 anos que também joga, quando jogava futebol, tinha uma vida totalmente diferente da que ele tem hoje. Não é só no futebol. A sociedade mudou, tudo mudou.

A entrada da tecnologia interferiu demais em como vivenciamos o dia a dia. Sou de um país em que a segurança pública e a violência mudaram bastante a nossa forma de viver, o nosso dia a dia. Cabe-nos entender o que temos hoje. Estou com 47 para 48, muitas vezes vou parar olhando para trás e tendo saudades de algo que vivi lá atrás, mas que infelizmente não vai voltar. Tentar entender, viver e vivenciar como o mundo está acontecendo é a principal lição no dia a dia.

Mencionou duas vezes tecnologias, ocorre-me o surgimento das redes sociais. Acha que podem ser uma armadilha?
Muito, muito, muito. Temos de separar caso a caso, mas há gente que vive em função do elogio e às vezes vai para as redes sociais atrás de um elogio. Há outro tipo de pessoa que é muito suscetível à crítica, qualquer crítica que surja derruba aquele cara. Existe aquela pessoa que tem a necessidade de mostrar o que está sendo feito. Existe aquela pessoa que tem a necessidade de ter uma exposição maior ou menor.

É o que falei: temos de nos descobrir no meio disso e, como treinadores de futebol, você tem de descobrir quem é quem no teu grupo, na própria comissão técnica, na própria direção, os jogadores, o pessoal com quem trabalha. Essa disponibilidade da rede social interfere muito no seu dia a dia. É uma situação nova, você tem de ver onde se encaixa nesse mundo tão veloz como vivemos hoje.

Ganharem mais dinheiro tão cedo pode transformar as trajetórias dos jogadores?
Não há dúvida, não há dúvida. Muita gente, hoje, resolve-se financeiramente antes mesmo de estar resolvida para ser atleta. Outra coisa que é difícil para nós, treinadores, é treinar pessoas que têm dinheiro. Não são necessariamente bem-sucedidos, mas têm dinheiro. Os grandes treinadores treinam milionários. Esse entendimento também é necessário, porque isso muda o teu dia a dia, a forma como você se coloca com a pessoa, muda o discurso que vai oferecer.

Eu, por exemplo, quando comecei a jogar o discurso era o seguinte: “O treino é um prato de comida”, “tem de tratar esse jogo como se fosse o último jogo da tua vida”. Hoje o cara já sabe que não é assim. Com a tecnologia e esses contratos, você tem de entender onde está. Há casos em que o atleta assina um contrato em cima do que ele tem a possibilidade de ser, e muitas vezes não vai acontecer, por comportamento, lesão ou por qualquer tipo de situação. Hoje paga-se o preço pelo potencial, muitas vezes esse potencial acaba não acontecendo.

Numa conversa com o Denilson, no podcast dele, o Alex disse que os jogadores às vezes não estão preparados, não só tecnicamente, mas a nível de comportamento. Fernando Diniz diz muito que o jogador jovem é tratado como uma pastilha elástica, não rende logo é chutado para o lado. Os clubes poderosos levarem-nos tão cedo também não lhes dá tempo e pode perder-se um jogador bom, não é?
Perde! Você tem o “A”, “B” e “C” e o “A” é o que vai demorar mais. Talvez o “A” esteja pronto daqui a dois anos. Você começa a tratar muito o “C”, que vai dar resultado agora, daqui a dois meses. O “A” começa a perder estímulos, você de repente estica a corda demais no “C” e ela acaba rebentando. Você perde dois jogadores. Por isso, quem dirige tem de proteger o treinador que treina esses meninos para que tenham uma evolução natural.

Se pegarmos na educação formal na escola, ninguém salta do quinto ano para o nono ano. Ninguém salta. No desporto não, você tem um menino que é muito bom a matemática e ele salta do quinto para o nono e do nono para a faculdade, de repente no primeiro mês acontece, mas no sexto mês já não acontece, porque as coisas começaram a ficar complicadas. No meio disso, entra a história que falámos: o mundo externo espera que você resolva o problema no próximo domingo. Esse mundo sufoca-te e você reage duas ou três semanas, mas na quarta semana você já começa a balançar.

Hmm.
Quem protege disso? Tem de ser o mundo interno. Se as pessoas não estão preparadas ou não têm conhecimento ou, mais ainda, têm uma pressa gigantesca, que hoje temos a geração da pressa, você acaba trocando de treinador, queimando jogador, estragando o processo. Infelizmente, vemos isso pelo mundo todos os dias. Há uma frase de “Alice no País das Maravilhas” que vale muito para o futebol brasileiro: “Quem não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve”.

Temos muito disso no Brasil, “temos de ganhar domingo”, “temos de pôr um menino para jogar domingo”, “temos de contratar um cara mais velho que já rodou o mundo e vai resolver o nosso problema”. A gente sabe que isso não funciona assim, o processo é cortado e muita gente boa, seja treinador, diretor, seja jornalista, jogador de futebol, acaba ficando no meio do caminho devido a essa pressa pelo resultado da semana seguinte, que muitas vezes não é o propósito final.

Convive bem com esta era dos dados? Parece que só vale quem aparece nas estatísticas, que o jogo vai perdendo valor, ou não?
Cara, eu adoro os dados. São super importantes, mas não acredito que sejam fundamentais. Fundamental ainda é o ser humano, como é que ele sente o jogo, como é que vivencia o jogo. Se analisarmos os dados, você vai encontrar um atleta que fez um golo, chutou três bolas na trave, mas a equipa dele perdeu 4-1. Os dados individuais daquele atleta foram bons, mas coletivamente a equipa dele perdeu 4-1. Temos de separar o que é individual e o que é coletivo. Adoro dados, são importantíssimos, mas mais importante é tornarem-se fundamentais para o coletivo, assim ajuda todo o mundo.

Não acha que há menos Alexs hoje em dia?
Enquanto característica, sim. Separo muito o futebol em cima de característica e qualidade. Eu era um jogador que tinha boa qualidade técnica, um bom conhecimento do jogo e tinha seríssimas dificuldades físicas. Hoje, a qualidade técnica que eu tinha não é muita gente que tem, mas a qualidade física é bem maior do que eu tinha na época. Mudou um pouco.

Então está mais pobre o futebol, se me permite.
Na parte técnica, naquela que você quer ver o encantamento, eu acredito que sim. O jogo mudou no sentido de ficar mais veloz, mais forte, mas ainda há belíssimos jogadores espalhados pelo mundo.

No Brasil, fala-se sempre muito da base e da forma como os meninos são formados. Ainda agora José Boto, que chegou ao Flamengo, defendeu que é um erro os brasileiros olharem para o que se faz na Europa. Concorda? É por isso que se está a ver menos talento?
Essa é uma discussão profunda. Tem a ver com a condição social que havia no Brasil. A certa altura nesta conversa falámos sobre rua e segurança pública. Eu era uma criança que, aos 12 ou 13 anos, saía de manhã para ir para a escola, estudava até 12h30, daí para a frente estava jogando futebol. Hoje isso não acontece. “Ahh, mas isso não é a formação”, sim é a formação, porque se formava na rua, na praia, num clube associativo.

Os clubes associativos diminuíram, a gente saiu da rua, não se joga mais na praia, a segurança é um tema muito discutido. A fala do Boto é importante que se faça dentro dos clubes, mas o que se passa no clube é uma pequena percentagem do que era antigamente. O Flamengo não formou o Zico a 100% , o Flamengo ajudou.

Não estragou...
Sim. O Zico, ele e os irmãos, jogava na rua, na escola, em todos os lugares. Eu, criança, joguei na rua, joguei no clube, na praia, na terra... Por essa realidade toda, uma criança hoje joga 1h30 dentro de um clube. Eu jogava 1h30 dentro de um clube, mas jogava mais cinco ou seis horas noutro lugar. É uma discussão que infelizmente é uma realidade hoje.

Se formos traçar um paralelo entre Europa e Brasil, há a situação do clima, o europeu quando tinha o inverno já tratava dos treinos de maneira indoor, que para nós era futebol de salão ou futsal, que também perdeu o espaço que tinha. Uma coisa que mudou muito é a condição financeira que a gente falou. Estreei-me na equipa principal do Coritiba e não tinha contrato. Hoje, meninos com 14 anos têm contrato. É uma discussão ampla, o clube é um pequeno percentual no montante completo da história.

Sabendo isso, que o futebol todo que jogam é na academia e no CT do clube, se calhar há demasiadas regras para os meninos, não?
Então, mas aí entramos noutra coisa, não é? Essas regras são feitas para formar jogador e negociar. Não se forma o jogador para a equipa principal, forma para ele se tornar numa moeda, em dinheiro, para com 16 ou 17 anos você vender para onde há dinheiro. Onde há dinheiro? No futebol europeu, então a gente tem de analisar caso a caso.

Vou dar um exemplo de Portugal: Porto e Benfica muitas vezes vêm aqui, pegam nos jogadores jovens, ainda terminando a formação deles, oferecem a condição de jogar em Portugal e depois eles saem por uma segunda venda. Onde se ganha mais dinheiro? Na segunda venda. Há muitas coisas que necessitaríamos de discutir e, como falámos aqui, é o mundo da mudança.

Certo.
Se pegar na década de 80, por exemplo, a defesa do Benfica era Ricardo Gomes e Mozer. Quando o Mozer saiu para o Marselha, o Benfica contratou o Aldair. Mas eram jogadores prontos. Portugal conseguia competir com Espanha e Itália, hoje Portugal não consegue competir com esses mercados, teve de criar uma outra estratégia.

No Brasil está sendo feita a mesma coisa. Hoje há bastante dinheiro, mas ninguém olhou para o futebol de formação. Olham para os jogadores já formados porque os clubes querem vencer a nível nacional, a nível sul-americano, eles fazem dinheiro com os jogadores jovens, porque o mercado europeu pede jogadores jovens. O mundo globalizado oferece isso.

Formar jogadores para vender e não para alimentar as equipas principais...
Entendeu? Vou dar um exemplo, o auge do São Paulo no início da década de 90, de Telê Santana. Essa equipa fez três finais de Libertadores seguidas, 92, 93 e 94, e fez duas finais de Intercontinental, com Barcelona e Milan. Nessa equipa jogavam os jogadores mais velhos que não saíam, só saíam os jovens. Quem eram? Leonardo, Cafu, Raí. Quem ia ficando? Cerezo, Ronaldão, Zetti, Ronaldo Luiz. O São Paulo segurava a base dos jogadores mais velhos e os jogadores até 23, 24 anos iam saindo, e fizeram fama na Europa.

O Muller, por exemplo, já tinha duas Intercontinentais e o São Paulo não vendia, mas vendia o Denilson, que tinha 20 anos. Não sei como está aí em Portugal, mas aqui saem jogadores para Indonésia, Malásia, Ásia Menor e há o inverso. Vivo em Curitiba, que tinha no ano passado o Samaris, que jogou aí no Benfica, Jesé e agora tem o Josué, com 35, 32 e 34 anos, se não estou enganado. Isso, há 20 anos, era impensável no futebol brasileiro. Temos de saber que tipo de filme estamos assistindo.

Que tipo de treinador é e quer ser? Que marca quer deixar?
Sou a visão que tenho do mundo. Quero uma equipa que, tecnicamente, trate bem a bola. Ao perder essa bola, esses jogadores têm de ter esse sentimento pelo jogo de poder roubar essa bola o mais rápido possível para que a gente tenha a bola de novo. Quero uma equipa agressiva com e sem bola, se possível diminuir o campo marcando o mais à frente possível.

Depois de quatro trabalhos entendi também que isso é o que tenho de ideal na cabeça, tenho de entender que o ideal está guardado, eu domino, no dia a dia e no treino, no que passo para os jogadores e clube, mas ao mesmo tempo tenho a contrapartida que são os jogadores. O que cada jogador deseja, o que o clube deseja, que tipo de discurso aquele clube quer ter, para tentar encontrar esse futebol idealizado naquele clube que me está contratando. Às vezes, gera algum choque e temos de procurar equilibrar, como nos três trabalhos que tive.

Temos visto muitos treinadores portugueses no Brasileiro. Considera essa aposta compreensível?
Claro, eu acho bem tranquilo. Já houve o caminho inverso, tivemos brasileiros no futebol português, na Europa, no Japão, no mundo árabe. O Jorge Jesus teve um ano absurdo, foi um atropelo, um negócio maravilhoso, encantou todo o mundo. O Abel chega na sequência e está mantendo um trabalho espectacular no Palmeiras. O Artur Jorge veio para o Botafogo e teve seis meses belíssimos. Ao mesmo tempo, houve trabalhos como o do Luís Castro, que estava bom ‘pa caramba, e resolveu sair. Na saída do Jorge Jesus veio o Paulo Sousa para o Flamengo, ficou pouco tempo, foi embora.

...
O Álvaro Pacheco veio para o Vasco, ficou pouco tempo e foi embora. O Sá Pinto esteve pouco tempo no Vasco e também foi embora. O António Oliveira veio com o Jesualdo [Ferreira] para o Santos como adjunto e acabou por ficar no Brasil, trabalhou em quatro equipas importantes, Coritiba, Athletico Paranaense, Cuiabá e Corinthians. Antes de todo esse alarde com os portugueses, o Paulo Bento tinha vindo para o Cruzeiro. O [Sérgio] Vieira trabalhou em equipas menores, senão estou enganado esteve um período na Ferroviária. O Pepa dirigiu o Cruzeiro e agora dirige o Sport Recife.

Hmm, hmm.
Acho que o treinador de futebol, independentemente de onde tenha nascido e da formação dele, tem possibilidade de trabalhar em qualquer lugar do mundo. Os portugueses vieram, uns fizeram sucesso absurdo, outros não tiveram sucesso, outros ficaram curtos. Cada um defende bem a sua história, mas Portugal, depois do boom do José Mourinho no início da década de 2000, tem pessoas que têm ocupado um espaço bom não só no Brasil, estão espalhados pelo mundo.

Nem de propósito, esta manhã vi o seu jogo contra o Fenerbahçe de Mourinho. O Alex é uma lenda do Fenerbahçe, Mourinho encaixa bem ali?
O Mourinho é sanguíneo total, vocês conhecem-no melhor do que eu. Desde que ele surgiu, lá atrás, ainda antes no Porto, no Benfica e equipas menores, todo o mundo conhece o Mourinho como personalidade. É apaixonado pelo jogo, é um cara que sempre se posicionou, que deixa muito clara essa paixão que tem. Acredito que isso encaixa bem com a paixão da torcida do Fenerbahçe, com essa loucura toda que eles têm.

Hmm, hmm.
O adepto turco gosta muito desse negócio da fama. O Mourinho é super famoso, é um dos maiores treinadores da história, isso também encaixa com o clube. Agora, o Mourinho encontra um período duro: 10 anos sem ganhar a liga, para o tamanho de um clube como o Fenerbahçe é um período muito difícil. Salvo aqui um engano, é o período que ficou mais tempo sem ganhar. Ao mesmo tempo, para endurecer a situação, o Galatasaray, o principal rival, é o bicampeão.

Pois.
Neste ano, o Mourinho está a tentar fazer a equipa dele, numa liga que não conhecia, com jogadores que não foram levados por ele, agora na segunda parte da época já levou alguns jogadores. Contra um Galatasaray montado. Acredito que as coisas comecem a acontecer mais a partir da segunda temporada. No segundo ano dele, com jogadores que pediu, com características que ele quer, com jogadores a entender melhor o jeito dele no dia a dia, o que ele gosta, o que pede, deseja, acredito que pode quebrar essa história e o Fenerbahçe ser campeão. Nesta temporada acho difícil, na segunda época há possibilidade de essa relação entre Mourinho, clube e torcida cresça e o Fenerbahçe entre com mais força para ganhar o campeonato.

O que segue, Alex? Que projeto seria ideal para o senhor?
Cara, não tenho uma ideia definida. Vou esperar um clube. É uma loucura ser treinador, há mudanças a todo o momento. Agora é esperar para ver se aparece alguma coisa para reiniciar e tentar fazer algo nesse clube que apareça.

Guarda alguma lição especial de treinadores passados? Foi treinado por Zico, o seu ídolo, no Fenerbahçe precisamente, e por Aragonés...
Na verdade, guardo tudo. Sou uma pessoa muito curiosa, anoto tudo, tenho anotadas todas as lições que tive desde o meu primeiro treinador até ao meu último treinador. No meio disso, tive Luxemburgo, Scolari, Zico, Aragonés e outros nomes. O mundo mudou, tento ouvir aquilo que eles me passaram, para tentar transportá-lo para o mundo de hoje, mas com certeza o treinador é aquilo que ele tem de visão do mundo. A minha visão do mundo passa pelos treinadores que eu tive. Ganhei, perdi, vivi momentos maravilhosos, vivi momentos não tão legais, e essa rapaziada estava sempre junto de mim. Tenho tudo anotado comigo e tento usar da maneira adequada nos dias de hoje.

Desde menino anotou ideias?
Desde o primeiro treinador que está tudo anotado. Conversas, treinos, situações.

Exercícios de treino também?
Também, mas mudaram muitas coisas. Outra coisa que faço muito hoje é isto aqui, conversar com as pessoas. Com novos treinadores, com mais antigos, com treinadores que estiveram em Portugal e na Europa, outros que só estiveram aqui. Divisões maiores, divisões menores. Quanto mais partilha eu tiver, melhor para mim. Essa visão de mundo, que acabei de citar algumas vezes para você, só vai expandir-se.

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