28 jul, 2023 - 14:30 • Pedro Castro Alves
O protocolo está assinado e, 79 anos depois de ser inaugurado, o Estádio Nacional do Jamor está a caminho da modernização. Ainda assim, muito pouco se sabe sobre o projeto que promete voltar a colocar o recinto na vanguarda das infraestruturas desportivas.
Datado de 1944, o palco habitual da final da Taça de Portugal nunca foi alvo de uma grande remodelação. Agora, o entendimento entre a Câmara Municipal de Oeiras, o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e as federações de futebol, atletismo e rugby leva muitos adeptos a questionar o que, de facto, poderá ou deverá ser feito. Bola Branca foi à procura de resposta.
A necessidade de reabilitação do Estádio Nacional é evidente, mas a nuvem da importância patrimonial e histórica do recinto paira sobre a vontade de realizar uma obra de fundo. Por isso, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) foi chamada a integrar o protocolo e fará parte do processo de seleção do projeto de arquitetura escolhido.
João Carlos dos Santos, arquiteto e diretor-geral deste organismo, aceitou levantar o véu, em entrevista à Renascença, sobre os traços gerais já idealizados. A ideia sempre presente é clara, “manter o valor patrimonial do estádio, mas melhorando as condições”.
“O estádio, por praticamente não ter tido obras de remodelação desde os anos 40, tem um conjunto de espaços que já não correspondem às necessidades de hoje”, admite.
Renovar a pista, construir casas de banho de raiz, zonas de adeptos separadas que cumpram as regras em vigor, zonas de mobilidade reduzida e melhores acessos são alterações obrigatórias, mas há um outro foco: “O conforto do público.”
Nesse capítulo, uma das lacunas mais gritantes do recinto, atualmente, é a ausência total de cobertura nas bancadas destinadas ao público geral.
João Carlos Dos Santos admite que esta “é uma componente importante do projeto” e algo que mudaria drasticamente o traçado do estádio. Ainda assim, o arquiteto garante que é possível preservar “as características arquitetónicas do recinto”, tal como já aconteceu em projetos semelhantes.
“Nós temos alguns exemplos de intervenções que foram feitas na Europa, noutros estádios importantes do ponto de vista patrimonial, como os estádios olímpicos de Berlim e de Roma, que são contemporâneos do nosso e também tiveram intervenções de remodelação profundas e não perderam o valor patrimonial. É isso que estamos apostados em fazer”, revela João Carlos dos Santos.
O Estádio Nacional foi inspirado no desenho original do Estádio Olímpico de Berlim, inaugurado em 1936. Agora, pode seguir o mesmo caminho quando chega o momento da renovação.
O recinto germânico, que serve de casa ao Hertha de Berlim e recebe anualmente a final da Taça da Alemanha, foi renovado em 2004 para receber o Campeonato do Mundo de 2006, numa obra que custou 247 milhões de euros e viu o estádio manter a fachada exterior, mas sofrer uma reconstrução drástica no interior e a construção de uma cobertura que abrange toda a bancada.
Este seria o caminho idealizado para o a revitalização do Jamor.
Por outro lado, o Estádio Olímpico de Roma, construído em 1927, seguiu outro caminho: para receber o Campeonato do Mundo de 1990, foi demolido e reconstruído, com exceção da tribuna presidencial, que foi apenas expandida.
O objetivo último do projeto é fazer “uma obra de qualidade” que mantenha a essência e o património cultural, como já aconteceu em Portugal, embora noutro tipo de recintos.
Na cerimónia de assinatura do protocolo, o primeiro-ministro, António Costa, recorreu ao exemplo da obra realizada no Palácio Nacional da Ajuda para traçar um paralelismo com o pretendido para o Estádio Nacional: "Ora, se é possível fazer na Ajuda, como não será possível fazer no Estádio Nacional do Jamor? Seguramente, será possível e vai ser possível."
João Carlos dos Santos liderou, precisamente, o projeto do antigo palácio real e, embora sublinhe que se trata de cenários muito diferentes, compreende os pontos de ligação.
“Era um edifício que estava inacabado há cerca de 220 anos. Acho que a comparação, neste caso, é mais para dizer que é sempre possível transformar estes edifícios antigos. No caso do Estádio Nacional, também é possível”, afirma.
Ainda há muito por definir até ao verdadeiro início da obra de reabilitação do mais icónico estádio português, pelo que muitos dos detalhes ainda estão por acertar.
João Carlos dos Santos será um dos elementos do júri que irá selecionador o projeto de arquitetura e, apesar da indefinição, mostra-se otimista e olha para o futuro.
“Aquilo que esperamos é, logo que seja possível, após o lançamento do concurso, podermos ter algumas propostas que possamos analisar, que possamos decidir e, em função disso, dar o desenvolvimento natural ao processo”, explica o diretor da DGPC.
O Estádio Nacional do Jamor foi inaugurado a 10 de junho de 1944 e tem sido o palco habitual da final da Taça de Portugal, tendo ainda recebido uma final da Liga dos Campeões em 1967.
É ainda o estádio oficial da seleção portuguesa, ainda que, por não preencher os requisitos para jogos internacionais, não acolha um encontro da seleção AA masculina desde 2014.