27 fev, 2025 - 07:10 • Eduardo Soares da Silva
Luís Cirilo é o rosto da oposição no Vitória Sport Clube. O candidato à presidência do clube vimaranense acredita que a atual direção levou o clube por "um caminho ruinoso" e acusa António Miguel Cardoso de "fugir dos sócios" ao não fazer campanha eleitoral.
Em entrevista à Renascença, o antigo deputado contesta a melhor saúde financeira anunciada pelo atual presidente: "A situação degradou-se tremendamente. Herdou um passivo de 46 milhões e já vai em 71, é um valor aterrador”.
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"António Miguel Cardoso vendeu muitos jogadores, vendeu-os foi quase todos mal. O Vitória faturou, em teoria, mais de 80 milhões de euros em transferências, reduziu orçamentos, e como é que se explica o aumento tão substancial do passivo? Só através de má gestão", critica.
Numa avaliação às transferências do atual presidente, Cirilo realça as vendas de André Silva, "a maior contratação do clube que saiu por um valor inferior ao que foi contratado", Ricardo Mangas, que "foi vendido por um valor ridículo", e Dani Silva, "um dos maiores talentos da formação do Vitória", vendido por 1,5 milhões de euros.
A previsão de muitas saídas em janeiro terão sido um motivo que empurrou Rui Borges a deixar o clube e aceitar o convite do Sporting, na opinião de Luís Cirilo: "Eu acho que ele era homem de ficar no Vitória e fazer uma grande carreira na Liga Conferência".
O candidato defende um treinador "estilo Alex Ferguson", que opte por ficar no clube durante várias temporadas. Cirilo acredita que é um cenário realista no futebol moderno.
"Se viessemos para fazer igual aos outros, não vínhamos. Para fazer igual, eles servem. Nós queremos fazer diferente e propomos isso à massa associativa. Já tivemos treinadores que ficaram vários anos como o Mário Wilson e o Rui Vitória", explica.
Luís Cirilo garante que tem três grupos financeiros preparados para investir na SAD vitoriana, sempre com uma participação minoritária, mas não revela quais: "Estes grupos não gostam de ser associados a campanhas porque quem se candidata pode ganhar ou perder".
Entrevista Bola Branca
Em entrevista à Renascença, Cirilo anuncia "pequen(...)
O que o levou a candidatar-se este ano às eleições?
Desde logo, as eleições serem este ano. O que me levou a candidatar com estas pessoas que estão comigo foram duas questões: temos uma visão convergente do que o Vitória pode e deve ser; e uma visão crítica e negativa destes três anos de gestão de António Miguel Cardoso e dos seus órgãos sociais, ainda que uma boa parte desses órgãos já tenha saído.
Como acreditamos que a gestão financeira está a levar o Vitória por um caminho ruinoso, como entendemos que a gestão desportiva não percebeu o contexto e o atual momento do Vitória, como entendemos que em termos patrimoniais o clube está parado, e em termos associativos há muito para fazer e pouco está a ser feito, aparecemos, candidatámo-nos com as nossas ideias, o nosso projeto, e sujeitámo-nos ao veredito dos associados o Vitória.
Tem sido muito crítico, nos últimos três anos, da gestão do António Miguel Cardoso. Pode detalhar as suas críticas?
Eu tenho sido crítico à medida daquilo que entendo que devo criticar. Comecemos, se quiser, pela gestão financeira. O António Miguel Cardoso, quando conquistou a presidência da direção do Vitória, porque ele conquistou-a em eleições, como é normal e timbre no Vitória, e conquistou-as depois de fazer campanha eleitoral intensamente, coisa que desta vez não fez, porque fugiu dos sócios.
A verdade é que a situação financeira de Vitória degradou-se tremendamente. Ele herdou um passivo de 46 milhões de euros, pelas últimas contas que nos foram disponibilizadas a meio da passada semana, o passivo só da SAD já vai em 71 milhões de euros, o que, com o passivo do clube consolidado, dará um valor próximo dos 80 milhões de euros. É um valor aterrador, atendendo à dimensão do Vitória, que é um clube que, ao contrário de outros, não goza de perdões fiscais, nem perdões bancários, nem de outras benesses.
Hmm.
O valor dos empréstimos obtidos já vai nos 40 e tal milhões. Só no ano passado, no último exercício, pagámos quatro milhões de euros de juros, este ano vamos pagar mais. Logo se verá o que as contas a 30 de junho nos dirão. Entendemos que o Vitória está a caminhar para uma situação extremamente difícil que poderá levá-lo a perder a maioria do capital da SAD, porque é evidente que, se os credores não forem ressarcidos das dívidas, irão exercer sobre o património do clube, nomeadamente sobre as ações que o clube tem na SAD.
Para mim, é completamente inaceitável e inegociável o Vitória deixar de ter a maioria da sua SAD, porque todos os outros clubes portugueses que perderam ou que não tiveram a maioria do capital da SAD têm enfrentado problemas tremendos. Basta ver o que acontece hoje com o histórico Boavista. São também sinais de alerta que nos fizeram avançar neste momento.
António Miguel Cardoso fez da recuperação financeira do clube uma grande bandeira do seu mandato. Na entrevista à Renascença explicou que não há milagres. Era possível ter feito muito mais?
Claro que sim. Ele, de facto, vendeu muitos jogadores. Vendeu-os foi quase todos mal. E, mesmo vendendo mal, o Vitória faturou nestes três anos, em teoria, mais de 80 milhões de euros na compra dos jogadores. Se ele vendeu os jogadores, se reduziu aos orçamentos, como é que se explica um aumento tão substancial do passivo? Só através de má gestão. Não há outra forma de olhar para isto.
Não é que isto que tenha contribuído substancialmente para o aumento do passivo, mas como é que um clube com as dificuldades financeiras que o Vitória tem se dá ao luxo - e o luxo não é entre aspas - de fazer estágios de pré-temporada na Quinta do Lago, no Algarve, que é um dos resorts mais caros do país? É completamente incompreensível.
...
Como é que um clube que está com dificuldade vai fazer estágios ao Porto para jogar em Famalicão? É duplicar a distância, duplicar os gastos. É gastar dinheiro mal gasto. O que gostava que António Miguel Cardoso tivesse explicado é como é que um clube com dificuldades financeiras vê pela primeira vez, desde 2014 - altura em que a SAD foi constituída -, o seu Conselho de Administração da SAD receber substanciais aumentos salariais?
Numa empresa em dificuldade, o último a ser aumentado é o administrador, ou são os administradores. O aumento, nomeadamente do salário do presidente do Conselho de Administração, foi de quase 50%. Eu não sou contra aumentos salariais, mas que sejam enquadrados na realidade do clube e na realidade do país. Se me dissessem que foi aumentado em função da inflação, eu aceitaria. Passar para quase o dobro do salário, de facto, ajuda a explicar porque é que, com tantas vendas, com tanta redução de orçamentos, o passivo continuou a aumentar.
António Miguel Cardoso justificou que o clube tinha três a quatro milhões de euros de receitas anuais, porque as restantes estão quase todas antecipadas, e um orçamento a rondar de 30 milhões de euros por ano. Ainda assim, perante este cenário, e com tantas transferências, na sua opinião, era esperado que a situação financeira estivesse melhor?
Ele diz que estavam todas antecipadas, mas não estavam. Os sinais de degradação da situação financeira não são de hoje.
Já vêm da antes de gestão anterior…
O António Miguel Cardoso só pode ser avaliado pela gestão que fez, não pode ser avaliado pela gestão anterior.
Mas herda um contexto.
Herda um contexto: 46 milhões de euros de passivo, atualmente está em 71 na SAD, mais seis ou sete no clube. E herda outro contexto, que ele gosta pouco de referir: herdou um clube, depois de dois anos de pandemia, com os salários em dia, com um conjunto de jogadores que a anterior administração não vendeu, nem bem, nem mal, e que lhe permitiram, comprovado que não tinha nenhuma solução financeira para o clube, porque a almofada financeira que prometeu em tempo de campanha entre os 10 e os 20 milhões, a um juro de 5 a 7%, era falsa. Não existia. Essa almofada financeira que António Miguel Cardoso, em campanha eleitoral, apresentou como o remédio para todos os problemas, não existia.
E como não existia, a única solução financeira que ele teve foi, por um lado, endividar o clube a taxas de juros obscenas, e por outro lado, vender os jogadores que lhe tinham ficado em espólio da direção de Miguel Pinto de Lisboa e até alguns da direção de Júlio Mendes.
Mas muitos dos jogadores agora transferidos são contratações da atual direção.
Pois são, e quer um melhor exemplo? André Silva, a maior contratação de sempre do Vitória. Foi contratado ao Arouca e depois vendido para um clube brasileiro por um valor inferior ao que foi contratado.
Ou seja, a valorização que ele teve no Vitória, a jogar e a marcar golos, não serviu para nada. Foi vendido por um valor inferior ao que foi comprado. Esse é um exemplo. Quer outro? O Ricardo Mangas. Um jogador que era uma peça essencial da equipa e foi vendido por um valor ridículo a um clube russo e, ainda por cima, com o presidente a dizer que, se não o vendesse naquela altura, no fim da época valeria menos.
Mas tem, também, os exemplos de Jota Silva, Alberto Costa, entre vários outros.
Já lá vamos. O que eu queria dizer é que a gestão do António Miguel Cardoso, em vez de valorizar os jogadores, desvaloriza-os. Foi o caso do André Silva, foi o caso do Ricardo Mangas, e vamos agora falar desses casos.
O Manu Silva também.
O Manu Silva foi uma boa aquisição e foi um negócio perfeitamente aceitável. O que se sabe é que foi vendido ao Benfica por 12 milhões de euros mais dois por objetivos, embora os objetivos valem sempre o que valem. É preciso serem cumpridos e normalmente não são, porque também o clube que compra estabelece objetivos difíceis de cumprir.
A verdade é que são 12 milhões aos quais se tem que retirar o milhão e meio que ele custou, mais os salários que recebeu no Vitória. Ainda assim, acho que é um negócio aceitável e é um negócio que eu próprio teria feito, porque o Vitória tem que comprar e tem que vender. Tem que vender em agosto e tem que vender em janeiro. Se estivesse no lugar do António Miguel Cardoso, seria o Manu Silva que eu venderia. Não pelo valor do jogador, que faz naturalmente falta ao Vitória, mas porque há alternativas para o lugar.
A questão é como é que o Benfica vai pagar o Manu Silva? E isso é o que eu gostava do António Miguel Cardoso respondesse. Vai pagar a pronto? Acredita que o Benfica vai pagar a pronto?
Entrevista Renascença
O Vitória Sport Clube vai a eleições no próximo di(...)
Alguma é paga a pronto hoje em dia?
Obrigado por ter dado a resposta por mim. Portanto, o Benfica vai pagar como? Num ano, dois anos, três anos, quatro anos? Vai pagar em quatro anos. Sabemos isso. O Vitória vai precisar de ir buscar o dinheiro e vai fazer um factoring. O factoring é muito caro. E, portanto, constataremos que dos 10 milhões, o que vai entrar, de facto, no Vitória, serão cinco ou seis. Já não é um negócio assim tão bom.
O António Miguel Cardoso, em vez de fugir dos sócios, se fizesse campanha eleitoral e explicasse estes negócios aos sócios, já não teríamos estas dúvidas todas. Como o negócio do Kaio César, que é um negócio ruinoso. Foi propagandeado como tendo valido nove milhões. É falso. Nove milhões foi o que, de facto, o clube saudita terá pago.
O próprio Jorge Jesus disse que o presidente dele, no Al-Hilal, fez um grande negócio. Pois fez. O Kaio César é um belíssimo jogador, tem 21 anos, é um dos dez melhores extremos direitos do mundo sub-21 e vai render ao Vitória à volta de três milhões de euros. As contas são assim: o Vitória pagou quatro milhões pelo passe mais 300 mil pelo empréstimo no ano passado. Pagou, seguramente, comissões na casa dos 10% porque hoje é assim que os empresários trabalham. E, portanto, deduzindo todos esses valores...
É realista pensar que o Vitória pode fazer todos os negócios acima dos 20 milhões de euros?
É. Desde que tenha jogadores que os valham e desde que os saibam vender. Já tivemos o negócio do Tapsoba, que andou em valores próximos a esses. Foi um jogador bem vendido. Olhe o Bebé, que foi para o Manchester United por oito ou nove milhões. Ninguém o conhecia, veio da terceira divisão, fez três jogos de treino e foi para o Manchester por esse valor.
O que é que não é possível é ter um presidente que passa a vida a dizer que somos uns coitadinhos, que estamos aflitos, que não temos de dinheiro, que temos de vender, que o Vitória tem muitos problemas, porque para quem quer comprar é o discurso ideal. Olha aqueles ali, estão aflitos, não têm dinheiro, precisam. Quando se precisa, tem que se aceitar, não é?
E isso é que justifica que, por exemplo, um dos maiores talentos dos últimos anos da formação do Vitória, o Dani Silva, tenha sido vendido para a Itália por um milhão e meio de euros. Isto é completamente absurdo. Não faz sentido nenhum.
É uma gestão que anda a tentar todos os meses arranjar dinheiro para pagar no mês seguinte. Não tem uma estratégia de médio prazo, não tem uma estratégia de abatimento do passivo, tem uma estratégia de sobreviver mês a mês.
Acha que é exagerado o número de saídas? Ou compreende?
Não, não compreendo. O cenário é assim. Não há nenhum clube dirigido com pés e cabeça que chega a janeiro e mande embora sete jogadores, a maior parte dos quais titulares e quase todos muito utilizados.
Os cinco que entram são os jogadores que vêm dar o seu contributo, e isso nem está em causa, mas não são substitutos imediatos para os que saíram. Ou seja, há uma queda brutal da qualidade da equipa. E, portanto, é um erro de gestão evidente.
Se quisermos ser completamente objetivos, se calhar neste mês de janeiro, estará uma parte da decisão do Rui Borges de ter saído do Vitória para o Sporting em novembro. Porque eu acredito que o Rui Borges, se lhe tivessem sido dado garantias que o Vitória, em janeiro, iria manter o plantel estável, ainda que saísse um ou outro jogador, mas que teria os reforços necessários a atacar a Liga Conferência com enorme capacidade e grande determinação, eu acho que, se calhar, o Rui Borges, mesmo indo ganhar bastante mais...
Acredita que rejeitaria o Sporting?
Eu acho que o Rui Borges era homem para ficar no Vitória, apostar tudo e fazer uma grande carreira na Liga Conferência. Repare, temos agora o Bétis, em novembro não sabíamos quem tínhamos, mas o Betis não era uma equipa inacessível para o Vitória de Rui Borges. Receio que seja uma equipa muito difícil para o Vitória de Luís Freire, não por culpa de Luís Freire, obviamente.
Se ao Rui Borges tivessem sido dadas garantias de estabilidade no plantel e de contratação de um ou dois reforços cirúrgicos para setores necessitados, e o setor mais necessitado era o ponta de lança, acredito que o Rui Borges teria ficado no Vitória e teria apostado tudo em fazer uma grande carreira na Liga Conferência.
Para um treinador ainda jovem, que se quer projetar, levar uma equipa média de Portugal a uma meia-final europeia, ou até uma final, porque ultrapassado agora o Bétis, provavelmente teríamos grandes hipóteses de ir até à final, onde encontraríamos o Chelsea. Bem, o Chelsea é uma equipa muito forte, mas num jogo só nunca se sabe.
Seria suficiente para ser realista que o treinador rejeitasse o campeão nacional que estava na Liga dos Campeões? Estava também na altura imparável na Liga dos Campeões e podia-se igualmente especular que poderia ir mais longe na Liga dos Campeões...
Não se esqueça de uma coisa que o Rui Borges disse. António Miguel Cardoso disse que quando o treinador manifesta a vontade de sair, sai cinco minutos antes. Rui Borges disse que nunca pediu para sair do Vitória. Eu não conheço pessoalmente o Rui Borges, mas sou amigo de grandes amigos dele, que me dizem que é um homem de compromisso.
No entanto, no Sporting manifestando o interesse de pagar a cláusula, o treinador tem de tomar uma decisão…
O treinador não é obrigado a ir. Podia ter rejeitado e querer levar o compromisso com o Vitória até ao fim. Acredito, mas isto é fé. Não falei nunca com o Rui Borges, como lhe disse. Não o conheço. Acredito que o Rui Borges, com garantias da direção do Vitória, que manteria o plantel estável e que reforçaria ainda com um ou dois jogadores importantes para atacar a Liga Conferência, teria ficado no Vitória.
Embora, repito, tenha ido ganhar bastante mais para o Sporting. Na vida e no futebol, às vezes, o dinheiro não é tudo. E se lutar por outros objetivos, não sei. Olha, na Liga dos Campeões já não luta por objetivo nenhum.
Na altura, lutava…
Teria a noção que nunca ganharia a Liga dos Campeões com o Sporting e podia tentar ganhar a Liga Conferência com o Vitória. E para a carreira, para o currículo dele, isso seria muito importante, como sabe. O Sporting nunca ganhou uma Liga dos Campeões e, portanto, também não era este ano que ele ia ganhar. E ele também sabe disso.
Como é o seu plano, então, para salvar financeiramente o Vitória?
Isto não pode ser só uma coisa. Temos várias perspectivas. A entrada de investidores, que irão investir na SAD e irão investir no futebol do clube e irão investir no património do clube.
Vamos levar a uma Assembleia Geral da SAD e a uma Assembleia Geral do clube uma proposta séria, consolidada, de redução gradual do passivo até valores que consideramos aceitáveis. O ideal era nem ter passivo, mas isso, no curto e no médio prazo, não é pensável.
E, portanto, com a entrada de investidores, com o programa de redução do passivo, com receitas adicionais que vamos potenciar, como a venda do naming do estádio, que queremos fazer o mais depressa possível, mantendo sempre o D. Afonso Henriques, mas acrescentando-lhe, à frente ou atrás, o nome de uma empresa patrocinadora, com o aumento do número de associados, do número de vendas de lugares anuais, eu creio que tudo isso se pode fazer.
E também vendendo bem os jogadores, partindo do princípio que o António Miguel Cardoso ainda deixa algum para vender. Isso é outra questão porque, neste momento, olhando para o plantel do Vitória, parece-me que há apenas dois ou três jogadores vendáveis no curto prazo. Também não quer dizer que sejam vendidos, porque essa entrada de investidores que nos virão ajudar financeiramente, sempre em minoria no capital social da SAD, poderá até evitar que tenhamos de vender os nossos melhores jogadores.
Fala dos investidores. Quem são e em que moldes será feito o acordo?
Falo de comprarem ações da SAD, falo de passes partilhados nas equipas profissionais de futebol. Falo de dois grupos portugueses e um grupo inglês, ligados a fundos de investimento, num dos casos, pessoas que eu conheço há muitos anos, pessoas que apareceram e que manifestaram vontade de investir no Vitória se nós ganharmos as eleições.
E não diz quem são?
Não digo quem são por uma razão simples e isto é fácil de perceber. Estes grupos financeiros não gostam de ser associados a campanhas eleitorais, porque quem vai a uma campanha pode ganhar e pode perder.
Se ganharmos, eles aparecerão, obviamente, às claras e todas as explicações serão dadas aos sócios, antes de assumirmos algum compromisso com eles. Terão de ser os associados do Vitória e os acionistas da SAD a aprovarem o nosso plano de trabalho com esses investidores. Mas se, porventura, perdermos, eles, naturalmente, também não quereriam ficar associados a uma derrota.
Compreendendo esse argumento, ao mesmo tempo não é difícil pedir aos sócios que votem num tiro num escuro, não sabendo quem são os investidores?
Eles não sabem quem são as empresas, mas sabem quem são as pessoas que lhes estão a dar a cara por esses negócios, que estão a dar a garantia de que esses negócios se farão, que são os candidatos da lista A. Nós não estamos a falar de almofadas financeiras, como é evidente. Estamos a falar de grupos que vêm para investir.
A nossa credibilidade também está em cima da mesa. A última coisa que eu quereria fazer na vida, enquanto presidente do Vitória, era chegar ao dia seguinte às eleições, ganhá-las e depois ter de admitir que não tinha soluções, que não tinha grupos financeiros, como fez o António Miguel Cardoso, que prometeu uma almofada financeira que também não tinha. Eu tenho.
Se ganharmos as eleições, os sócios serão informados sobre todas as nuances do negócio e, como lhe digo, a ideia é investir na SAD, investir no futebol e investir no património.
Que avaliação faz da parceria da VSports?
Teremos de falar, em primeiro lugar, com a VSports, porque quando veio para o Vitória, foi como investidor. Era o papel deles, era o papel com que eles começaram as negociações, ainda no tempo do presidente Miguel Pinto Lisboa. Era para entrarem no Vitória, parceria com a VSports e o Aston Villa, para elevar o nível qualitativo das nossas equipas.
Hoje não sei qual é o ponto da situação em relação à VSports. Acho que ninguém sabe, tirando o António Miguel Cardoso. Nós, quando apresentámos a candidatura numa carta que escrevemos ao presidente da Assembleia Geral, pedimos um conjunto de esclarecimentos sobre muita coisa, dados contabilísticos, financeiros e também sobre o ponto da situação do negócio com a VSports. Não nos foi respondido. Sonegaram-nos a informação, ocultaram-na. É a transparência que tanto pregaram na última campanha eleitoral e que agora não praticam.
Após as eleições, se as ganharmos, como é evidente, vamos falar com a VSports. Se eles quiserem ser o investidor que o Vitória precisa e a VSports aceitar investir dentro daquilo que o Vitória acha aceitável, faremos o caminho com a VSports com todo gosto. Se não for, teremos três grupos de reserva, todos eles preparados para serem os investidores que o Vitória precisa.
As sucessivas saídas de treinadores preocupam?
Preocupam, evidentemente, porque dão uma imagem de instabilidade no clube. Aliás, não foram só saídas treinadores, foram saídas jogadores e uma autêntica debandada de dirigentes e de quadros intermédios. Saiu muita gente. Mais de 70 pessoas, sem falar dos jogadores. E, portanto, isso preocupa-me, traduz uma instabilidade e traduz uma enorme incapacidade do presidente da direção de gerar consenso à sua volta e à volta do clube.
Eu não tenho memória de nenhum clube português que em três anos, como o Vitória, tenha tido nove treinadores. Certo que dois foram interinos, o Rui Cunha e o João Aroso, mas os outros sete não foram.
Certo.
E a verdade, já que fala nisso, é que também foram muito mal contratados alguns deles. O Paulo Turra foi contratado por "messenger", no Facebook, que é uma coisa absolutamente extraordinária. Depois, quando chegou cá, percebeu-se que não tinha as habilitações necessárias para ser treinador principal na I Liga.
O presidente do Vitória tão depressa disse que estava tranquilo quanto às habilitações do Paulo Turra, como logo a seguir se viu o Paulo Turra a ir para o banco com uma braçadeira a dizer delegado. E ele não foi contratado como delegado, foi como treinador. Treinou oito ou nove jogos, foi-se embora e o Vitória ainda hoje lhe está a pagar o salário.
Hmm...
Depois temos esta rábula triste do Daniel Sousa. O Daniel Sousa é o treinador mais caro da história do Vitória. Treinou a equipa em três jogos, foi-se embora com uma indemnização de meio milhão de euros, negociada, claro que o Vitória lhe vai pagar durante anos por treinar apenas três jogos.
Com base nisso ainda tivemos outra rábula curiosa: quando contratou o Luís Freire, o presidente disse que já o tinha no radar há muito tempo. Se tinha o Luís Freire no radar há muito tempo, porquê contratou o Daniel Sousa? O Luís Freire estava livre, não estava a treinar clube nenhum, porquê não o contratou logo?
Isto é tudo uma gestão absolutamente questionável, absolutamente, diria, indigna de um clube como o Vitória. O Vitória tem que ter outro tipo de gestão, o tipo de treinador que nós queremos para o Vitória, que pode até ser o Luís Freire, veremos porque eu não o conheço, terei que falar com ele, mas o tipo de treinador que nós queremos para o Vitória é um treinador que faça o trabalho em continuidade, que fique cá três, quatro, cinco, seis anos e que durante esse tempo consiga transformar tudo o que tem sido o paradigma da gestão desportiva das equipas profissionais do Vitória. Eu tenho dito: queremos um treinador à imagem do Alex Ferguson.
É realista pensar dessa forma, com a dimensão do Vitória? São apenas quatro clubes em Portugal que mantêm o treinador desde o início da época.
Se nós viessemos para fazer igual aos que cá estavam, não vínhamos. Para fazer igual, eles servem. Nós queremos fazer diferente e queremos propor isso à massa associativa do Vitória. Nós já tivemos treinadores que ficaram cá três, quatro, cinco anos e que tiveram sucesso. O Mario Wilson e o Rui Vitória. São os dois exemplos mais recentes. Claro que o que diz é verdade. Hoje, em Portugal, o lugar de treinador é…
Não só em Portugal.
Não só em Portugal, cada vez mais noutros lugares. Mas eu ainda acredito que é possível fazer um trabalho em profundidade, trazer um treinador que treine a equipa principal e que depois seja o superintendente de todo o quadro técnico do clube, da equipa B, sub-19, formação, por aí abaixo. Bem, veremos.
Esse treinador, se o encontramos, e eu tenho ideias quanto a isso, não me pergunte quem são que eu não vou dizer, até porque temos treinador e se o Luís Freire quiser desempenhar esse papel, e se eu considerar que ele tem condições para desempenhar esse papel, o Luís Freire será a primeira opção. Se entender que não, então entrarão as tais opções que eu acho possíveis.
Esse treinador sabe que se vier para o Vitória terá um conselho de administração da SAD que o defenderá e que não o mandará embora ao primeiro ou segundo insucesso. Tem que haver uma partilha de objetivos muito forte.
Não é ficcional pensar um treinador no Vitória dessa forma? Quer pelo insucesso, quer pelo sucesso?
Não, se o treinador for bem escolhido. Eu percebo a pergunta, mas acredito que a hipótese de insucesso será muito pequena, sendo certo que está dependente de muitas contingências, mas nós saberemos distinguir o trabalho bem feito das contingências que às vezes nos impedem de ganhar aqui ou ali.
A outra questão é se ele tiver sucesso no primeiro ano, no segundo ano, no terceiro ano, se será possível mantê-lo distante dos cantos de sereia que virão de outros lados. Bem, lá está, por isso é que eu lhe digo que teremos que encontrar um treinador de projeto que perceba muito bem o que é este clube, o que são os associados deste clube e que esteja disposto a investir quatro ou cinco anos da sua carreira e fazer um trabalho absolutamente diferente, que também contribuirá para o seu currículo, como é evidente.
A academia é um projeto que liga um pouco as duas candidaturas, com a câmara envolvida. O Vitória precisa de uma academia nova?
Precisa e já há muito tempo. Este processo da nova academia arrasta-se desde pelo menos 2015, para não dizer 2010. E, portanto, temos vivido sucessivos adiamentos. Quer o presidente da câmara, quer o presidente do Vitória, disseram em entrevistas a jornais desportivos que, ainda neste mandato, de um e de outro, porque ambos acabam o mandato este ano, que ainda esta ano se arrancaria com as obras na academia, dariam passos importantes para que a academia fosse uma realidade. Está feito zero. Não há terrenos, não há projetos, só há ideias. Ideias sucessivamente adiadas.
A minha primeira preocupação depois de eleito será ir ter com a Câmara Municipal e definir uma calendarização para a nova academia. Isto não é para se criar grupos de trabalho para daqui a seis meses dizerem que têm uma ideia qualquer para que possa ser neste ou naquele sítio. Nós vamos querer calendarizar a academia para que ela seja uma realidade já no próximo mandato dos órgãos sociais de Vitória, que espero que seja o meu mandato.
Qual o projeto que tem para as modalidades? Alguma nova?
Novas modalidades? Nem pensar. Não temos capacidade financeira, nem capacidade patrimonial neste momento para termos mais modalidades. O Vitória tem apenas um pavilhão, há promessas antigas, de dois pavilhões de treino que já deviam ter sido edificados e ainda não foram. E, portanto, não temos onde ter mais modalidades.
Pagamos muitos milhares de euros por ano a alugar pavilhões no concelho de Guimarães para as nossas equipas treinarem. Vamos tratar das que temos. Por um lado, procurar o mais depressa possível dar-lhes instalações condignas para treino e para jogo, temos um projeto que veremos se a Câmara e o Inatel concordam com ele, que é o pavilhão do Inatel, ao lado do estádio, passar para o Vitória. Ou alugado, ou cedido definitivamente. Logo se verá, para que as nossas modalidades também o possam usar em dias para jogar e, especialmente, para fazer sinergias entre jogos das modalidades e os jogos da equipa principal.
Para terminarmos, que mensagem deixa aos sócios?
Queria dizer aos sócios que a lista A candidata-se em nome de um projeto, com um conjunto de ideias que temos apresentado em várias sessões pelas freguesias do concelho e em entrevistas como esta. Candidatamo-nos com tranquilidade, ficaremos felizes se vencermos porque permitirá colocar o Vitória no caminho de um Vitória maior. Temos ideias, parceiros e projetos para isso. Se não for a vontade dos sócios, ficaremos tranquilos, porque enquanto vitorianos cumpriremos a nossa obrigação. A palavra cabe aos associados. Aguardamos tranquilamente e com muita confiança.