03 mar, 2025 - 08:35 • Hugo Tavares da Silva
Pedro Amaral não aceitou ser um agente secreto desta rádio. Desafiámos o canhoto que joga em três posições a obter (o termo foi menos elegante) o livro por publicar de Ian Cathro, o treinador do Estoril Praia, o clube que esta segunda-feira joga em Alvalade, contra o campeão nacional (20h15, relato na Renascença). Amaral foi formado no Benfica, passou por Grécia e Arábia Saudita e, no futebol profissional, foi no Rio Ave que jogou mais tempo, onde chamou “maluco” a Luís Freire porque este lhe anunciou que ia começar a jogar a central.
Chegou ao António Coimbra da Mota no verão. Encontrou um grupo com muitas alterações e, depois, contribuiu para um terrível arranque de época. Os rapazes que vestem à Brasil levantaram-se – seis vitórias e dois empates nos últimos oito jogos, não perdem desde 23 de dezembro –, “acreditaram no processo”, e ocupam a oitava posição da Liga, a apenas cinco pontos da Europa.
Em entrevista a Bola Branca, Pedro Amaral, de 27 anos, admite que está “feliz”, que o Estoril foi “uma lufada de ar fresco” depois de momentos menos bons e que é bom estar perto de casa, de Lourel. Dos grandes, foi contra o Sporting que foi mais feliz, diz, e lembra que a onda de lesões do adversário não serve para as contas (“nos grandes não se olha para o problema, arranjam soluções”). A estratégia agora, depois de tanto e por indicação de Cathro (um escocês que fala português), é pensar treino a treino. Logo se vê a recompensa...
Já segue a Bola Branca no WhatsApp? É só clicar aqui
Como é que uma equipa com seis pontos nas primeiras oito jornadas e que caiu como caiu na Taça de Portugal se levantou assim?
Eu acho que foi sempre acreditar naquilo que era o processo. O início não foi fácil. Muitos jogadores novos, treinador novo, processos diferentes relativamente à época passada. E, claro, é um processo que leva tempo e, portanto, podia correr muito bem, como podia correr como correu. Acho que não correu mal, acho que temos que retirar sempre coisas positivas disto, tiramos sobretudo aquele espírito de continuar a tentar e fazer com que as coisas corram bem.
Hmm.
E a verdade é que agora é um Estoril diferente, é um Estoril que ambiciona outro tipo de patamares nesta liga. Acima de tudo, acho que é manter os pés assentes na terra, porque se há bem pouco tempo estávamos nessa fase, como diz, menos boa, agora também não somos os melhores, portanto acho que devemos manter-nos humildes e continuar a trabalhar.
Apenas quatro clubes não mudaram de treinador nesta época, o Estoril é um deles. Como é que se convive com esse ruído que vem de fora, da iminente saída do treinador? É fácil para o grupo, como é que foi? Ou não beliscou sequer?
Isso também faz parte da nossa profissão, acho que devemos saber lidar com isso e, sinceramente, não beliscou muito. O grupo esteve sempre coeso, esteve sempre unido e a nossa única força era dar tudo dentro de campo para mudar a situação. Eu acho que são coisas com as quais temos de conviver, com as críticas, até porque uma crítica pode ser para o lado bom... Acho que foi isso que fez a diferença, foi continuarmos na mesma onda de melhorar o processo e fazer com que as coisas corressem bem.
Mas é um tema que acho que não se fala o suficiente, que é a violência que deve ser para o treinador sentir essa conversa de fora, de que vai sair ou ser despedido. Imagino que só pessoas do Governo é que sentem este tipo de coisas. Mas não se fala o suficiente, não sei se tem alguma opinião sobre isso, se acha violento ou não. Já tem 27 anos, já viu muita coisa, imagino que noutros grupos isso tenha acontecido muitas vezes.
Sim, eu hoje em dia vejo as coisas de forma diferente. Nós não escolhemos jogar mal, nós não escolhemos entrar para dentro do campo e falhar um passe. Obviamente, nós queremos acertar todos os passes, fazer o máximo de golos possível, mas também temos 11 jogadores do outro lado que querem fazer o mesmo. As críticas fazem parte do futebol, que tem a visibilidade que tem e toda a gente pode falar sobre o tema. Acho que nesta fase da minha vida também já relativizo muito mais isso, porque tenho consciência, neste caso individualmente, do que é que faço no clube, fora do clube, para no fim de semana, que é entre aspas o dia do exame, estar pronto para a prova.
O clique da época foi a mudança para três centrais?
Sim, está à vista. Foi um momento em que todo o grupo se sentiu confortável com a mudança, mas, lá está, agarrámos da mesma forma como agarrámos no início da época o processo que foi proposto. Portanto, eu acho que essa tática pode favorecer talvez individualmente mais cada atleta, mas o acreditar e o confiar no processo acho que é igual.
Hoje de manhã estive a rever uns jogos, pelo menos as primeiras partes, com Nacional, Arouca e Rio Ave. Jogou em três posições…
[risos]
Lateral-esquerdo com o Arouca, fez duas assistências até, para a Taça. Com o Nacional jogou a central e agora com o Rio Ave a ala. Onde é que se sente mais confortável?
Essa é uma pergunta que muita gente, por acaso, faz. Eu acho que é bom poder desempenhar várias funções na equipa e fico feliz por me darem essa oportunidade de também poder jogar em várias posições. É bom sinal. E foi uma ideia que surgiu já há alguns anos, na altura da minha passagem pelo Rio Ave…
Freire?
Com o mister Luís Freire. Até é curioso, ele sentou-se comigo e disse que eu ia começar a ser o terceiro central e eu disse que ele era maluco. Porque a minha vida toda sempre joguei colado à linha, junto da área e então não fazia muito sentido para mim. E a verdade é que foi uma mais-valia e hoje estou grato por isso, porque consigo desempenhar esse tipo de funções, seja terceiro central, seja a ala, seja lateral, e eu acho que isso favorece qualquer um.
Perguntava porque até podia ser um bocado egoísta para a sua carreira. Hoje em dia, os centrais pela esquerda canhotos parecem o ouro do futebol, não é? Podia pensar nisso, em especializar-se.
Estou preparado para jogar em qualquer uma das posições. Lá está, como eu disse, nós somos profissionais e se nos apresentam essa ideia de que podemos ser úteis nessa posição e ter mais do que uma, porque não? Eu penso dessa forma. Estou preparado para ajudar a equipa.
É um sossego correr para trás numa defesa a cinco, não é?
[risos] Não, não é, por acaso não é, porque o mister pede bastante intensidade, pede entreajuda também, para não deixar o meu central do meu lado desprotegido e até porque, quando eu jogo a terceiro central e quem quer que esteja a ala, eu também vou puxar pelo meu colega para me ajudar. Portanto, é não fazer ao outro o que não gostava que me fizessem a mim.
E joga por dentro muitas vezes, até para o João Carvalho receber com espaço na esquerda. Jogar de costas e, enfim, já sabemos que é um papel que tem também a ver com humildade e generosidade, que passa por fixar a defesa às vezes, mas sente-se bem a jogar por dentro?
Sinto-me confortável. Quando jogávamos com os quatro atrás, o mister também muitas vezes me pedia isso, inclusive nesse jogo que ainda há pouco falávamos do Arouca. A minha segunda assistência é um momento em que eu estou por dentro, uma transição que eu estou por dentro. Não sei, são dinâmicas, o grupo está entrosado, sinto-me confortável também a jogar por dentro. Portanto, é desfrutar.
Estoril
O Sporting – Estoril está marcado para as 20h15 de(...)
Foram muitos anos com o João Carvalho no Benfica. Como é que é essa ligação? Às vezes, para quem vê de fora, parece um luxo tê-lo aqui.
Sim, e é. O João dispensa apresentações pela sua carreira. Eu conheço o João desde os nove anos, crescemos praticamente juntos, apesar de, depois, cada um seguir o seu caminho. Agora fico feliz, outra vez, por reencontrá-lo. É sempre bom, claro que é uma mais-valia tê-lo do lado esquerdo, acho que o lado esquerdo fica ainda mais… [risos]... com mais qualidade. Fico feliz de jogar com ele novamente e, acima de tudo, acho que o Estoril vai ser bem-sucedido com isso.
E o Jordan [Holsgrove], às vezes, também se chega ali. E o Rafik [Guitane], quando se põe vagabundo. Não está nada mal por ali…
[risos] Não.
Com o Sporting, na primeira volta, jogou à direita, certo?
Lateral-direito. Estávamos numa defesa a quatro ainda.
É que li que o Ian [Cathro] tem uma teoria sobre os centrais jogarem com o pé contrário. Alguma vez falaram sobre isso? Alguma vez jogou do lado contrário?
Não, com três centrais nunca joguei do lado contrário. Apenas nesse jogo com o Sporting é que o mister teve essa ideia. Tanto eu como o Wagner [Pina] abraçámos essa ideia e acabou por ser mais uma solução. Mas, pronto, temos de estar preparados para isso. Cada semana é um jogo diferente, é uma equipa diferente, portanto podem surgir ideias novas e nós temos de tentar corresponder ao máximo.
O Ian tem um livro de 134 páginas que não foi publicado. Não quer ser o nosso agente secreto e roubar o documento para nós?
[risos] Por acaso ouvi esse podcast [“No Princípio Era a Bola” da Tribuna Expresso], ouvi o que o mister disse. Também deu para conhecê-lo um pouco melhor. Mas, pronto, ele não partilhou connosco, também não vou ser o primeiro… Ainda levo uma dura! É melhor deixar o livro bem guardado.
Sobre essa coisa dos pés – para percebermos também o que vocês sentem lá dentro: como ala, não prefere receber a bola de um canhoto? A curva da bola não permite acelerar mais? Só para perceber porque é tão importante às vezes um canhoto jogar à esquerda ou um destro jogar à direita.
Com o Rio Ave, por exemplo, joguei do lado esquerdo, tinha o Vini [Vinícius Zanocelo] que é pé direito. Acho que depende. Se o passe for bem feito e se for um passe ajudante – eu chamo assim, “passe ajudante”, que é já um passe na frente para poder continuar a passada –, acho que é indiferente ser pé direito ou pé esquerdo.
E convive bem com esta era dos golos e assistências?
Eu tento não olhar muito para isso. Por vezes, podemos não ter uma nota muito favorável ou muito alta e, revendo o jogo, ou vendo aquilo que é a ideia da equipa ou a ideia que o mister pediu, eu desempenhei a ideia a 100%. E se calhar para a estatística não vou ser um jogador que teve nota 10. Portanto, eu relativizo muito mais nesta altura da minha carreira esse tipo de estatística, porque o mais importante é saber o plano de jogo, saber a tarefa que eu tenho de desempenhar. Se no final o resultado for positivo para a equipa, eu também vou sair valorizado.
Certo.
É sempre bom quando fazemos um golo ou uma assistência, mas somos 11 jogadores e para o jogador X fazer golo, o outro também vai ter que fazer aquele movimento, aquele passe, ter o timing, portanto eu acho que todos são importantes. Nesta era em que se vive muito de estatísticas, eu acabo por relativizar muito porque, lá está, tenho noção do que faço dentro de campo, dos meus erros também, porque gosto sempre de rever os jogos, seja no dia a seguir ou no próprio dia, e convivo bem com isso, sinceramente.
Até porque um passe certo nem sempre é um passo bom, não é?
Exato, ou pode ser um passe que isola um colega e se calhar o colega não faz golo e não conta como uma assistência, é relativo. Eu acho que, para quem vê o jogo, é mais importante os movimentos, o timing, o passe.
Mas cresceu nesta era dos dados. No início da carreira ligava mais a isso?
Talvez sim, não vou estar aqui a ser hipócrita e dizer que não. À medida que o tempo vai passando, vamos adquirindo esse tipo de experiência e essa forma de pensar, até mesmo com o próprio jogo. Portanto, nesta fase da minha carreira, eu relativizo muito essa parte da estatística.
Como é fora daqui? Liga a futebol? Sei que há jogadores que não gostam de ver futebol, ou não gostam de perder tempo a ver futebol, imagino que já tenham muito futebol na vida deles.
Eu gosto, gosto muito. Gosto muito de observar, gosto de ver jogos de, por exemplo, sub-10, sub-12. Gosto de imaginar como é que será um sub-9 daqui a cinco, seis, sete, oito anos. E também gosto de ver grandes jogos, obviamente, isso acho que toda a gente vê. Sou uma pessoa que vive o futebol, cresci no futebol, é a minha vida. Está sempre presente.
Isso é interessante dos sub-9 e sub-10. Não acha que às vezes eles lidam logo com treinadores demasiado cedo e com ideias?
Eu acho que cada vez mais isso está presente.
Estamos a formatá-los?
Por exemplo, o meu primo tem 10 anos ou nove anos e nos jogos que eu vou ver já há um canto estudado, já há uma forma de tática. Acho que o futebol de hoje em dia é esse e, desde novos, acho que cada vez mais se está a incutir isso nos próprios miúdos. Quem tiver a mentalidade certa, hoje em dia, só não dá ao jogador quem não quiser. Acho que está tudo nas mãos deles.
São muitos na formação…
Sim, são muitos, mas mesmo as próprias infraestruturas, está tudo muito mais desenvolvido, há muito mais informação. Eu também já cresci um pouco nessa era, no Seixal. Nunca nos faltou nada e isso também me deu grandes bases para o futuro. É uma coisa que está muito presente hoje em dia nos jovens.
O lateral-esquerdo, de 26 anos,chega do PAS Lamia,(...)
Não teme que desapareçam os Rafiks?
Eu espero que não, porque acho que fazem muita falta. Sou da opinião que uma equipa deve ser um equilíbrio. Acho que deve ter um Rafik, mas também deve ter um Pedro Álvaro, um [Kévin] Boma, um Felix [Bacher]. Acho que tem que estar tudo muito bem equilibrado para funcionar corretamente.
Como é que vê o treinador do Estoril? É um escocês que até respeita as origens do futebol escocese, que era o “combination football”. Ele quer jogar bem, não é?
Verdade.
Qual é a importância disso para um jogador e como é que se sente?
Acho que é impossível não me sentir valorizado. Aliás, desde que cheguei aqui ao Estoril senti desde o primeiro momento essa lufada de ar fresco que eu necessitava nesta fase da minha vida, da minha carreira. Individualmente, sinto-me valorizado.
Hmm.
Tenho gostado muito de trabalhar com o mister. Acho que veio incutir uma mentalidade vencedora, com a qual eu me identifico. Acho que cada vez mais está a incutir a sua ideia de que Estoril tem que eliminar a palavra manutenção dos corredores. Aos poucos vamos conseguindo. Lá está, como disse anteriormente, acho que temos que ter os pés assentes na terra. Vamos muito na onda do que o mister diz, que é treino a treino e isso é o mais importante para nós, nesta fase. Mas a verdade é que estou a gostar muito. Gosto quando ele fala escocês porque entra naquele mood mais agressivo que nós precisamos.
É o quê? O 'secador de cabelo' à Alex Ferguson? Dá umas duras?
De vez em quando faz falta, obviamente.
Percebe o que ele diz?
Percebo. Eu, que já estive fora e que falo bem inglês, consigo perceber. É um sotaque difícil de entender, mas eu acho que toda a gente percebe o que ele quer dizer e a mensagem que quer transmitir e isso é o mais importante.
No podcast que já foi referido, ele diz que às vezes fala assim só para se estar a queixar. E se ninguém perceber, percebem na mesma que ele está irritado.
[risos]
Vem aí o Sporting. Que memórias tem de Alvalade?
Tenho muitas boas memórias de Alvalade. Acho que, dos grandes, foi a quem ganhei mais. Ganhei dois jogos em Alvalade, um para o campeonato e outro para a taça, na época do mister Carlos Carvalhal. Mas, claro, o futebol é o momento. O Sporting não deixa de ser o campeão nacional e vamos defrontar uma grande equipa.
Eles estão um bocado feridos com as lesões todas. Com uma crise de resultados, vá, sem ganhar muitos jogos. Como é que acha que eles se vão apresentar?
Fortes, como sempre. Eu acho que uma equipa grande não tenta ver o problema, arranja sempre soluções. Sendo o Sporting campeão, tendo jogadores de enorme qualidade como tem, acho que vai certamente arranjar uma solução para estar num melhor nível contra nós, porque a verdade é que estão dentro da Taça, estão na luta pelo campeonato. Apesar dos lesionados, não deixam de estar em primeiro. Vamos encontrar o melhor Sporting certamente.
Há sempre aquela dúvida se Gyökeres vai jogar ou não. Que gozo dá jogar contra um jogador assim que tem marcado o futebol português? Vocês devem falar sobre como parar um jogador desses, não é? Como é que é isso?
A verdade é que é um jogador que também dispensa apresentações, pelo que já fez aqui no nosso campeonato. É sempre bom defrontar esse tipo de jogadores. Eu acho que é isso que vai aumentar tanto a visibilidade do campeonato, como a competitividade. É desses jogadores que precisamos na nossa liga, é sempre um desafio jogar contra eles. Vamos ter que estar preparados. É um jogador difícil de defrontar, não vou mentir, mas assim como ele vai dar o melhor dele, nós também vamos dar o nosso melhor.
O que tem ele de especial? Já o conhecemos tão bem, porque não o param?
Eu acho que é a força, a velocidade, a capacidade que ele tem de procurar o espaço que, por vezes, nós, na defesa, deixamos.
Até onde é que pode ir o Estoril nesta época?
Pensamos dia a dia. É a mensagem que nos é transmitida, é treino a treino. Estamos a agarrar isso com tudo. Depois, os resultados vamos ver no final, aí vai ser a recompensa do nosso trabalho e da forma como temos tido a resiliência de ultrapassar os desafios todos desde o início da época, seja pelo novo treinador, como já falámos, seja pelos novos jogadores, seja pelos processos, táticas e mais do que isso.
Hmm, hmm.
Acho que é a força que todos nós estamos a ter, que tivemos também para dar a volta à situação, e agora para manter. É o mais difícil no futebol: manter. E faltam 11 jogos.
Falou na lufada de ar fresco, sente-se bem. Imagino que é importante estar perto de casa, se calhar tem na bancada gente que conhece. Como é que isso influencia?
A verdade é que foi mesmo isso. A minha vinda para aqui foi uma lufada de ar fresco. Acho que o Estoril tem sido uma agradável surpresa para mim. Toda a gente aqui me recebeu bem. Foi num momento da minha vida, da carreira, em que precisava de me voltar a sentir feliz a jogar futebol. Por vezes passamos momentos menos bons na nossa vida, na nossa carreira, e agora que as coisas estão a correr bem dou ainda mais valor estar nesta situação e no clube por me ter aberto estas portas.
…
Porque já sei o que é estar menos bem, portanto estou feliz, sinto-me bem a jogar. Tenho família por perto, tenho amigos por perto. E a verdade é que neste momento não me falta nada. Daí a alegria que estou a voltar a sentir de estar a jogar, claro que os resultados ajudam. Não poderia estar a sentir-me mais feliz.
Mencionou tempos menos bons. Foi o ano na Grécia?
Foram algumas coisas que aconteceram após a minha passagem na Arábia Saudita, coisas que não controlamos, e temos de saber nos reerguer para seguir em frente. Esta é a nossa vida. E agora, lá está, como disse, estou feliz. É o que mais importa.
O que é que o futebol já ensinou mais de negativo? Como é que lhe deu outra carapaça?
Eu já passei por algumas coisas, até pessoais, como a perda do meu pai. Acho que isto nos dá carapaça para aguentar qualquer coisa. E é isso. São coisas que às vezes não controlamos, que não dependem de nós, e cabe-nos a nós, lá está, com coisas que a vida nos vai trazendo, que nos fazem crescer mais rápido, dar a volta por cima. Com o apoio da família, torna-se tudo mais fácil. E neste momento da minha vida estou feliz, estou com eles por perto. As coisas a correr bem no clube. Estou muito feliz.
Que lembranças tem dos seus tempos no Sporting de Lourel? Quando é que começou a jogar?
Comecei a jogar com seis anos. Por acaso, é curioso, porque na altura os meus pais não ligavam muito a futebol. O meu pai sempre foi muito de carros e acompanhava o meu irmão no mundo do automobilismo. E a minha mãe, por vezes, ao fim de semana, é que me acompanhava nos jogos, enquanto o meu pai andava com o meu irmão nos carros. E depois, com oito ou nove anos, na altura, o mister Bruno Maruta [do Benfica] falou com os meus pais e o meu pai até dizia “não, deixe estar aqui o miúdo, é para ele se divertir, nem é para algo mais sério”.
Hmm, hmm.
A minha vida foi assim. Essa é a minha grande lembrança de estar ali naquele núcleo. Estive muito pouco tempo. Com nove anos fui para o Benfica, nem sabia que ia chegar a ser jogador profissional. Estive sempre na escola e isso era o mais importante na altura. À medida que as coisas foram evoluindo, teve que tomar-se decisões.
Quem são os ídolos de infância?
Desde cedo acompanhava o Fábio Coentrão, na altura do Benfica.
Cruzou-se com ele no Rio Ave…
Cruzei-me com ele no Rio Ave. Acho que era uma referência. E, claro, acompanhei o Marcelo, do Real Madrid, desde sempre. Acho que é fora de série. Apesar de, defensivamente, não ser o jogador que enchesse as medidas a qualquer um, acho que ele compensava tudo ofensivamente e é um dos jogadores com os quais me identifico no processo ofensivo.
Numa linha de cinco, ele era mais feliz, hein?
Talvez sim [sorriso aberto], mas na altura ainda não estava tão bem explorado como hoje.