Siga-nos no Whatsapp

II Liga

Rui Abreu, de líder da claque a presidente do Paços de Ferreira

26 mar, 2025 - 15:30 • Eduardo Soares da Silva

Começou a ir à Mata Real pela mão do avô, liderou a claque e, mais tarde, o departamento de marketing do clube. Regressa agora para ser o presidente com o objetivo de criar uma SAD, "arrumar a casa" e, depois, devolver o Paços à I Liga.

A+ / A-

Rui Abreu não se consegue lembrar do dia em que surgiu a ideia, mas já sabia desde pequeno que um dia iria ser candidato à presidência do Paços de Ferreira. Só não sabia que iria ser tão cedo.

A paixão pelo clube começou quando ia ver os jogos à Mata Real de mão dada com o avô, a quem chegou a dizer que um diria iria presidir o clube, um plano que estava pensado para "daqui a 15 ou 20 anos", segundo diz o próprio à Renascença.

Rui, de 38 anos, foi líder de claque e, mais tarde, foi convidado pelo presidente Paulo Meneses a integrar a sua direção. Durante quase sete anos geriu o marketing e a comunicação do clube.

Nos últimos meses, aceitou o convite para ser diretor de marketing do Rio Ave, cargo que abandonou quando foi sensibilizado por vários sócios a candidatar-se à presidência. Entregou a lista no último dia e acabaria por ser candidato único, após a lista do seu adversário ter sido recusada.

"Arrumar a casa" é a prioridade de um clube que vive momentos difíceis na luta pela manutenção na II Liga. Rui Abreu anunciou aos sócios o objetivo de uma criação de SAD com um grupo brasileiro para que, "sem vender sonhos", seja possível pensar "daqui a uma, duas, três épocas que temos todas as condições para tentar devolver o Paços à I Liga".


Quando é que surgiu, pela primeira vez, a ideia de ser presidente do Paços?

Quando era mesmo muito novo. Obviamente que neste processo, ela surgiu tarde para o desejável em termos de campanha eleitoral e formação de lista, mas foi tudo muito rápido. Estava muito bem no Rio Ave, era muito bem tratado, com um excelente projeto, mas fui sensível aos contactos que comecei a receber de muitos quadrantes de associados do Paços e cometi esta loucura de antecipar o que tinha pensado para daqui a 15 ou 20 anos. Realizou-se mais cedo.

Pelo que li durante a campanha, o objetivo não era mesmo ser já. Acaba por ser caricato passar de funcionário de um clube para presidente do outro. Deverá ser único...

Talvez, talvez. Todos no Rio Ave sabiam a minha ligação emocional ao Paços. Obviamente que não me passava pela cabeça abandonar o projeto ao fim de seis ou sete meses para tentar ser presidente de outro clube, mas potenciou-se assim [risos] e acabei por ser eleito.

O que é preciso abdicar para se ser presidente de um clube?

Principalmente a tranquilidade de uma vida sossegada e anónima para passares a teres todos os olhos em ti, todo um conjunto de adeptos na expectativa para verem o que é que fazes. Muito mudou do dia para a noite. Sou o mesmo Rui de há uma semana, claro, mas agora tenho muito mais responsabilidade em cima dos ombros. Comprei muitas chatices, mas estou preparado para o desafio.

Preparado para noites mal dormidas, então?

Sim, espero que sejam mais as alegrias do que as tristezas, mais as soluções do que os problemas, mas o momento é delicado, o cenário é altamente desfavorável, obriga-me a muitas noites mal dormidas nos primeiros tempos, mas nada com que não estivesse a contar e disposto a aceitar para exercer esta função.

Puxando a fita atrás, o Rui chegou até a ser líder da claque do Paços. É mais um dado deste percurso curioso...

O meu caminho não começa como líder de claque. Começa como um puto que ia à bola com o avô e que começou a nutrir um sentimento muito grande pelo Paços. Eu dizia ao meu avô que um dia iria ser presidente. Fiz o meu percurso, sempre fui um sócio muito ativo, quer nas assembleias gerais, quer na bancada. Realizei o sonho de fazer parte dos órgãos sociais e trabalhar para o clube. Nos últimos sete anos fui diretor de marketing e comunicação. Achei que este dia iria chegar, mas não contava que fosse tão cedo.

Muitos poderão não acreditar nas capacidades de quem vem do marketing, mas o Rui esteve na direção de Paulo Meneses muito tempo. Daí vêm muitas aprendizagens?

Sim, tive a felicidade do Paulo me ir confidenciando muito da vida do clube, as decisões e os problemas. Discutíamos mais a minha área, mas eu ia estando por dentro das decisões ao nível do futebol profissional. Aliás, foi uma dessas decisões que me fez demitir da direção por não concordar com o que estava a ser decidido.

Essa vivência próxima com o futebol profissional, da gestão das modalidades e formação foram-me dando as "skills" que se calhar nenhuma formação ou curso me dariam. Eu nunca exerci esta função, mas atrevo-me a dizer que não devem ser muitos os presidentes que tenham exercido a mesma função noutro clube qualquer. Acredito que estou preparado.

Há um estudo extra necessário em gestão para ganhar capacidades que uma decisão tomada tão em cima não tenham permitido?

Obviamente que o grosso dos processos já vou tendo conhecimento, não diria que domino, mas estou minimamente preparado para o que vem aí. Eu gosto muito de estudar, tenho duas licenciaturas e um mestrado. Estudar fará sempre parte, vou sempre à procura de coisas novas, beber muita informação e agora não será diferente. Vou procurar, nos tempos livres, melhorar algumas competências que considero relevantes para presidir um clube e que, neste momento, não dominarei tanto.

Entrando na realidade do clube: é impossível imaginar um futuro do Paços no futebol profissional sem uma SAD, sem investimento de fora?

Não se trata de possível ou impossível, é um cenário em que atualmente eu não consigo ver como poderemos, no imediato, conseguir a sustentabilidade do clube sem ter ajuda de alguém. Poderíamos continuar no modelo atual se neste mercado vendessemos um jogador por três ou quatro milhões. Como é altamente improvável, teremos de olhar para um parceiro que nos venha ajudar a resolver o passivo atual do clube, que ronda os 3,5 milhões de euros, mas que nos possibilite ter outro arcaboiço financeiro na atração de talento e que nos permita voltar a ser competitivos.

Esse parceiro está encontrado?

Sim. Durante a campanha apresentei os trâmites aos associados das linhas gerais do acordo. O que não fiz, até porque estou proibido de o fazer por uma cláusula de confidencialidade, é revelar a identidade do investidor, mas na tomada de posse apresentarei o grupo que está por trás [o brasileiro Guilherme Bellintani, do Grupo Squadra]. Depois, terão de ser os sócios a validar o projeto. Se acreditarem no projeto como eu acredito, em breve o Paços será uma SAD. Se não acreditarem, obrigar-me-á a procurar outras soluções para que o Paços se mantenha sustentável e, em segundo lugar, competitivo.

Com o cenário de entrada de investimento, o Paços pode e deve ambicionar regresso à I Liga a médio-prazo?

O contrato assinado tem algumas cláusulas que colocam esse cenário de regresso à primeira divisão. Contudo, eu não quero vender sonhos nem colocar metas para que isso aconteça. O futebol é muito competitivo, há cada vez maior investimento. Até no Campeonato de Portugal e Liga 3 há clubes a crescer cada vez mais. O panorama do futebol nacional está a mudar muito rapidamente, o que hoje é um dado adquirido, amanhã não o é.

Quero estabilizar o clube, criar tranquilidade para se trabalhar de forma rigorosa, com um planeamento para que daqui a uma, duas ou três épocas consigamos olhar para a seguinte e pensar que temos todas as condições para tentar devolver o Paços à I Liga. Gostava de dizer aos sócios que seria já na próxima temporada, mas primeiro temos de arrumar a casa, evitar erros cometidos no passado e, depois, começar a olhar para o regresso ao topo do futebol nacional.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+