08 abr, 2025 - 10:30 • João Filipe Cruz
"Quase 50 anos de futebol" dão Reinaldo Teixeira a confiança de que será o próximo presidente da Liga Portugal. Natural de Salir, em Loulé, o empresário e gestor antevê os desafios que o desporto-rei português terá pela frente e como espera enfrentá-los.
Os negócios com o presidente do Benfica são também tema nesta entrevista à Renascença. O presidente da Associação de Futebol do Algarve lamenta o "levantar de suspeitas" e assegura "imparcialidade".
Questionado sobre o que o difere do adversário na corrida à liderança da Liga, Reinaldo Teixeira atira com a experiência acumulada no futebol e no associativismo ligado ao desporto ou "não estar ligado a partido A ou B".
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As eleições na Liga Portugal estão marcadas para esta sexta-feira, entre as 10h e as 13h, no Auditório da Arena Liga Portugal, no Porto. Reinaldo Teixeira e José Gomes Mendes correm para a sucessão a Pedro Proença.
Comecemos pela atualidade e pelos negócios e a parceria imobiliária que teve com o Rui Costa, negócios que se materializaram em 2006. O que lhe pergunto é se, depois de assumir o cargo de coordenador dos delegados da Liga Portugal, em 2017, teve mais algum parceiro ligado a algum clube.
A minha vida nasce para a parte imobiliária, para a parte dos negócios, do mundo do turismo, da hotelaria em 1983. Em 2004 começámos um contrato em parceria com uma empresa de Rui Costa, e também outro amigo que infelizmente já faleceu, o João Cruz, e depois formálizamos esse negócio em 2006. Como compreenderá, nós temos uma atividade grande, de várias atividades, e com várias pessoas. Não lhe consigo dizer, com toda a franqueza, se ao longo desta caminhada, quer nos alugueres, quer nos condomínios, quer na medição imobiliária, se de facto, quando chega algum cliente, está associado ao clube A ou do clube B.
O que sei e o que eu prometo, no que faço, no cargo que exerço, fazê-lo com total imparcialidade, seriedade e com transparência. Valores que, no fundo, devem nos nortear na vida. E é isso que prometo nas funções que desempenhei até hoje e naquelas que desempenharei no futuro.
Agora, levantar suspeitas? Vivemos em democracia, é legítimo que cada pessoa diga o que pensa e o que quer dizer, mas depois é preciso comprovar. Passaram 21 anos. Em 2004 foi a assinatura do contrato, em 2006 a formalização da escritura e isso está aberto.
O FC Porto reagiu, o Sporting de Braga também e ate suscitou a questão de ser, em simultâneo, candidato à presidência da Liga Portugal e coordenador dos delegados. Como responde estas reações e, mais do que isso, sente-se atacado?
Atacado não. São opiniões. Fui 20 anos delegado da Liga, há 30 anos que estou na Liga. Há critérios e regras a que estamos sujeitos. A Liga aprecia e age em função disso e nós continuamos, ou não, na função. Se houvesse alguma incompatibilidade, não estaria lá. Penso que é uma não-questão, até porque o meu adversário, o professor universitário Jorge Gomes Mendes, é presidente da Assembleia Geral, está a concorrer e não apresenta admissão. Quando me despedi dos delegados disse que, independente do resultado, após as eleições cessarei as funções de coordenador. É uma questão de princípio, de ética, e assim o farei.
Quando apresentou a candidatura, no dia 17 de março, assumiu ter o apoio de mais de metade das sociedades desportivas. Depois desta polémica, a confiança manteve-se?
Entreguei o dossiê de candidatura com 17 subscrições, mas há muitos mais clubes, que não subscreveram, mas que me deixaram todo o seu apoio. Depois destas questões que se levantaram, devo dizer que a larguíssima maioria das sociedades esportivas, não só incentivam para não ligar, como estão solidárias. Não faz sentido levantar questões que têm tanto tempo e, mesmo que fossem mais recentes, que provem que houve parcialidade nalgum dos momentos. Comecei de baixo, com 18 anos a trabalhar na vida empresarial, e antes, muito antes disso, também a trabalhar. Quanto mais difícil é o processo, mais tentam, digamos, enfraquecer-nos, mais também mais nos motivam, e mais nos fortalecem.
Dragões fazem segundo comunicado sobre a alegada p(...)
Quer construir um novo tempo no futebol nacional em conjunto com o presidente da Federação Portuguesa de Futebol. Como é esse novo tempo do futebol nacional na sua visão?
Para mim foi um orgulho trabalhar com o Pedro Proença durante 10 anos na Liga, e ter tido também um convite do presidente da federação para eu o acompanhar para como membro de direção para o seu projeto. Não optei por isso para projetar a Liga. Tenho total confiança de que, ao chegar à Liga, vamos construir um tempo novo. A minha missão e a da minha equipa é valorizar o futebol e ter foco no que o futebol nacional precisa. O atual presidente da federação, doutor Pedro Proença, esteve quase 10 anos na Liga e sabe bem das necessidades do futebol profissional. Em conjunto vamos construir um tempo novo e vamos, acredito, fazer história para bem do futebol.
O futebol profissional tem um papel no futebol amador. Estou na Associação de Futebol do Algarve há 21 anos e sei bem o papel que é colocado ao serviço da sociedade pelos clubes locais, das aldeias, das vilas, das cidades, que é um papel de serviço público.
Também sabemos que é um negócio que queremos promover, mas também incentivar a que muitas meninas e meninos a praticar mais desporto, mais futebol e mais futsal. O nosso foco é de hoje para a frente, com orgulho e honra do passado, reconhecendo os bons exemplos, o bom trabalho, quer por Pedro Proença na Liga, quer por Fernando Gomes na federação. Olhamos para esses bons exemplos e queremos acrescentar o valor onde podermos. Em conjunto trabalhar para o bem do futebol.
Que papel tem a centralização dos direitos televisivos no bem do futebol português?
A centralização propõe valores superiores a distribuir para a atividade. Naturalmente, havendo mais valor, consegue-se mais competitividade. Consequentemente, aumenta a competitividade para as nossas equipas que vão à Europa. Há um decreto de lei em vigor, temos de honrar a lei e o desafio é sabermos cumprir essa lei, sob pena de, se não o fizermos, alguém o faça por nós.
Repetiu muito a palavra ‘internacionalização’ quando apresentou a candidatura. Mantém também a ideia de exportar competições como a Taça da Liga?
Eu tenho o desejo de tornar o nosso talento, o nosso futebol, o mais conhecido e o mais comprado. Esse é o nosso grande desafio. O nosso talento tem de ser reconhecido em todo o mundo e, logo por aí, com a centralização, captar e aumentar as receitas, o mais possível, na parte internacional. Taça da Liga fora ou em Portugal, quais são as vantagens para a competição, quais são as vantagens para as equipas e para a própria Liga, tudo isso será avaliado e decidido em conjunto com as sociedades desportivas.
O que o separa do seu opositor, José Gomes Mendes?
Tenho 30 anos de futebol profissional, tenho 21 anos de futebol amador. Se juntar tudo, tenho quase 50 anos de futebol. Eu costumo dizer que o papel aceita tudo. Os programas podem ser muito bonitos mas, sejam 2 ou 10 candidatos, as ideias são semelhantes e as necessidades do futebol profissional já estão identificadas. A grande diferença é a execução, e é isso que, no fundo, marca a nossa diferença.
Eu assisti a mais de 1.500 jogos nesta minha caminhada no futebol profissional, a minha vida foi construída, desde os 18 a 19 anos, a empreender e a gerir empresas, pessoas, a executar. Nunca fui político. Digo com orgulho que convidado pelos principais partidos para vários cargos, mas não fui e não exerci nenhum cargo político. Não sou militante de partido nenhum e já votei em vários, voto por consciência e em função daquilo que acho que faz sentido. Também isto me desprende de qualquer compromisso com o partido A ou partido B.
Estou convicto de que vou ser presidente da Liga no dia 11 e que, em conjunto com as sociedades desportivas e com a federação, vamos fazer um tempo novo e deixar uma história bonita.
Tal José Gomes Mendes, fala muito em diálogo, agregar. É do que que mais precisa o futebol português?
Não é só o futebol. O bom senso, o espírito de unir para fazer. O futebol é tão apaixonante, é tão desafiante, tão emocional que caba por ter momentos de maior tensão e de maiores divergências. Mais se impõe esse espírito agregador, de bom senso, de partilha de opiniões e de aceitar as decisões de cada entidade em conjunto. Quando se está a fazer bem a alguém, está a fazer bem a ele próprio e quando se está a fazer mal a alguém, faz-se mal a ele próprio também.
Preocupa a taxa de ocupação dos estádios em Portugal?
É um desafio. Nós temos aqui um papel, que é também dever dos próprios jogadores, dos próprios treinadores, incentivarem a que haja um melhor espetáculo, um melhor produto para vender. E depois, em simultâneo, e aí a Liga tem um papel fundamental em conjunto com as redes esportivas, devemos interagir com as regiões, com as populações, as escolas, universidades, tudo isso, para conseguirmos levar o mais possível o pessoal, digamos, aos estádios.
Temos de conseguir criar uma cultura de incentivar o espectador a apoiar a sua equipa, fazendo crescer a sua equipa e enfraquecendo a outra, mas não prejudicando. Não são precisas mensagens ofensivas para o adversário para incentivar a sua equipa. Essas mensagens só prejudicam a próprio clube, porque é quem paga as multas. Também é tempo de acabarmos com a pirotecnia. Temos que continuar a fortalecer o ambiente de festa nos estádios, para os pais, filhos, irmãos, tios, avós.
Outro dos pontos que pode afastar adeptos dos estádios é o preço dos bilhetes. Também defende a descida do IVA no futebol e, uma consequente descida do preço do futebol para quem assiste?
Sinceramente, não acho o preço dos bilhetes assim tão alto. Tendo em conta a envolvência, é um espetáculo que estamos a ver. Depois há muitas iniciativas que os clubes fazem, como o dia do adepto, o dia do sócio e, muitas vezes, os valores que cobram são insignificantes ou até oferecem entradas.
Agora, uma coisa é certa: não faz sentido nenhum no espetáculo, que no fundo é o futebol, pagarmos 23% de IVA. Se é espetáculo não é 23%, é 6%. Já houve conversas, estamos num governo transitório, vai haver eleições, mas o nosso compromisso, em conjunto com a FPF, é trabalharmos para que isso aconteça.
É gestor e empresário. São duas experiências obrigatórias para quem dirige a Liga Portugal?
Gerir o futebol é gerir empresas, não é? São três competições, um grande edifício que desenvolve ações, experiências, o Museu do Futebol, enfim. Naturalmente que o meu trajeto de vida, estes 42 anos de atividade profissional e empresarial, para o bem e para o mal, dão-me uma obrigação de ter um sentido de conhecimento, de bom senso e de decisão de avaliação. Temos de decidir para gerir este produto. Acho que foi uma das razões que levou várias entidades esportivas a incentivar-me para isto. Disseram-me ‘tens uma vida empresarial de 42 anos, podes acrescentar valor neste momento tão importante que o futebol está a viver’. E foi esse desafio que aceitei. Espero honrar aqueles que possam ter dúvidas e que, no futuro, possam dizer que fizeram bem em votar neste presidente e nesta equipa.
Caso seja eleito, o que podemos esperar? Um presidente da Liga Portugal a decidir atrás das cortinas ou um presidente mais vocal?
Eu entendo que o papel da Liga e, neste caso, do presidente é trabalhar em identificar as necessidades, em conjunto com as sociedades desportivas e implementarmos no terreno as nossas ações e o nosso projeto. O que deve ir para os palcos é a concretização.