Entrevista Bola Branca

João Mota, da vida "a subir escadas" ao sonho do regresso a casa. "Sinto-me com capacidade para qualquer equipa"

10 jun, 2025 - 12:45 • João Fonseca

Sudão, Congo, Jordânia, Emirados, Arábia Saudita e Brasil. A história do treinador radicado em São Paulo, mas que aos 58 anos ainda alimenta o sonho de trabalhar no seu país, Portugal.

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Nasceu em Lisboa, na Musgueira, num contexto de pobreza. Viveu no Lar do Sporting, onde jogou com Paulo Futre, Litos, entre outros jovens que nos leões despontavam no início da década de 80. Seguiram-se os empréstimos, próprios de um jovem que olhava para a carreira de futebolista como a melhor prenda de uma vida sofrida.

João Mota, aos 58 anos, e no Brasil, onde se radicou e se consolidou como treinador, foi entrevistado por Bola Branca. Num "flashback", lembra o dia em que Manuel José o colocou na lista de dispensas do Sporting.

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"O presidente João Rocha chamou-me para me dizer que eu ia ficar no plantel sénior. Fiquei muito contente, fui ao Barreiro, onde vivia, e fiz uma festa, todo contente que ia ficar no Sporting. Mas entretanto, John Toshac foi embora. Veio o Manuel José e eu fui dispensado. Eles queriam que eu assinasse mais três anos, já não assinei. Se calhar, foi uma das burrices que fiz", lamenta.

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Não desistiu do futebol, seguiu em frente, jogando em vários emblemas e conquistando, até, pelo União da Madeira, um título de campeão da II Divisão. Carreira terminada dentro das quatro linhas, a vontade de continuar levou-o a prosseguir do lado de fora, como treinador.

"Passei a vida a subir escadas. Nunca me puseram no elevador", João Mota lembra a célebre frase de José Mourinho a Marco Silva, para contextualizar o caminho que o conduziu até esta conversa.

O lisboeta sonha, um dia, voltar a Portugal e mostrar que a experiência ganha em países como Sudão, Congo, Jordânia e Arábia Saudita vale a oportunidade de trabalhar num projeto para "subir ou, então, na I Liga".

"Sinto-me com capacidade para treinar qualquer equipa. Graças a Deus, tenho ganhado mais jogos para onde passo, do que perdido", assinala.

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João Mota participou na Liga dos Campeões asiática e ainda na africana. Desenvolveu projetos em circunstâncias complicadas: no Congo, foi atrás de um "presidente que era político" e que o aliciou para um clube que, afinal, vivia claramente desajustado da realidade.

O que o levou a este comentário: "Eh pá! Onde é que eu estou metido?"

"Uma equipa que jogou competições internacionais e que treinava num sintético de futebol sete e com 40 jogadores", lembra.

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Foi uma das provas a que foi sujeito, mas não a única.

"Eu não podia estar sozinho. Os adeptos que iam ver o treino, quando acabava, pediam-me dinheiro. Até os jogadores me pediam dinheiro porque não recebiam, toda a gente pedia dinheiro", conta.

Assim terminou esta aventura. Momento de aprendizagem, reconhece, e que colocou à prova a sua resiliência, até porque João Mota vinha de um contexto de sucesso num dos grandes emblemas do Sudão, o Al-Hilal Omdurm: "Adorei estar no Sudão e as pessoas adoravam-me."

O treinador português confessa, nesta conversa com Bola Branca, que vivia bem, mas que a luz do dia revelava "muita pobreza, muita fome". Saiu pouco antes de a guerra destruir tudo.

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Mota jogava no "maior estádio do país" e orientava "a melhor equipa do país, com bons jogadores", mas tudo acabou.

"Já vi imagens dos lugares onde eu andava, onde eu vivi, está tudo destruído", recorda, falando com um nó na garganta de um país que ainda reclama o seu regresso.

Porém, o bom trabalho que ali desenvolveu levou-o até outros países, em experiências que foi acumulando. A última na Jordânia, mais uma etapa na sua carreira.

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De regresso ao Brasil, aguarda pelo próximo trabalho.

Desafiado por Bola Branca, João Mota projeta dois temas relacionados com a sua vivência.

O Palmeiras, primeiro adversário do FC Porto no Mundial de Clubes, e a nega dada por Cristiano Ronaldo a alguns clubes brasileiros, a propósito dessa competição.

"Para o Cristiano Ronaldo, também não seria o melhor. À mínima coisa, ao mínimo falhanço, numa exibição menos conseguida, iam cair em cima dele. No Brasil não perdoam, não perdoam a ninguém. O Cristiano optou muito bem, com a experiência que já tem não iria cair nesse erro", sublinha.

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Sobre o Palmeiras, o treinador avisa que a equipa de Abel Ferreira "é muito boa e pode bater o Porto".

" Atenção, é uma equipa muito, muito equilibrada. Não é uma equipa com nomes, por exemplo, como tem o Flamengo. Pode não jogar tão bonito, mas é uma equipa muito eficaz, muito prática. Não vai ser fácil para o Porto. Acredito que o Palmeiras poderá poderá jogar olho no olho e poderá vencer o Porto se não tiver a um nível muito bom", alerta.

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  • Bebeto Stival
    10 jun, 2025 São Paulo 12:26
    O Mister Mota merecia uma oportunidade em sua terra Natal, pois reúne condições para tal.

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