04 jul, 2025 - 01:00 • Diogo Camilo
O internacional português Diogo Jota morreu esta quinta-feira, aos 28 anos, depois de um acidente de carro em Espanha, onde seguia com o irmão, André Silva, que também faleceu, com 25 anos.
No auge da carreira, depois de conquistar a Premier League pelo Liverpool e a Liga das Nações pela Seleção Nacional no último mês e meio, o avançado estava também numa das fases mais felizes da sua vida pessoal: pai de três filhos, casou-se no dia 22 de junho com Rute Cardoso, com quem começou a namorar em 2013, quando ainda estava nas camadas jovens do Gondomar.
Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui
Nascido na Maternidade Júlio Dinis, no Porto, a 4 de dezembro de 1996, com pais trabalhadores fabris e de origens humildes, cedo começou a tocar na bola. A mãe, Isabel, trabalhava numa fábrica de componentes eletrónicos de automóveis. O pai, Joaquim Silva, era funcionário numa empresa de gruas em Gondomar, e lembra numa entrevista ao Mais Futebol, em 2020, a paixão pelo futebol. "O Diogo só via isso [a bola de futebol] à frente dele. No quintal da avó partiu muitos vasos e plantas. Era um espaço com três metros por 15. Ele passava grande parte do tempo livre lá", conta.
Com sete anos entrou nas escolinhas do Gondomar Sport Clube e de lá só saiu com 16. Com o nome Diogo José Teixeira da Silva, contornou o apelido comum com a inicial do segundo nome nas camadas jovens, o Jota, e a alcunha ficou. Começou como médio esquerdo e tornou-se médio ofensivo, antes de se fixar no ataque.
Joaquim Silva lembra também as dificuldades de ter os dois filhos, Diogo e André, a jogar futebol e o bom espírito do filho, que nunca pediu chuteiras de marca. "Não era fácil ter dois filhos no futebol e pagar o que pagávamos. O Diogo nunca nos pediu nada. Nunca nos pediu ou disse que gostava de ter umas chuteiras de marca. Ele sabia que não era possível, já tinha essa sensibilidade. É por isso que sabe dar valor às coisas, valor à vida", afirma.
Uma excelente época de 2012/13, primeiro com os juvenis e depois com os juniores gondomarenses, leva-o até Paços de Ferreira na época seguinte, a 40 quilómetros de casa. Depois de ano e meio na formação da "capital do móvel", surge a primeira oportunidade nos seniores pela mão de Paulo Fonseca, hoje treinador do Olympique de Lyon.
Numa terceira eliminatória da Taça de Portugal frente ao Atlético Reguengos, com ainda com 17 anos, Diogo Jota foi aposta no ataque e marcou um dos golos dos pacenses, na vitória por 4-0, a 19 de outubro de 2014. Aqui, a simplicidade de Diogo Jota também se nota: com a oportunidade de mudar-se para um apartamento, prefere continuar no lar do clube.
Explicador Renascença
O internacional português do Liverpool morreu esta(...)
Adolescente, vê os colegas começarem a sair à noite, mas prefere ficar com a sua Playstation: outra das paixões de Jota - e que nunca escondeu - são os videojogos, com o talento para o FIFA a assemelhar-se ao talento dentro das quatro linhas, além de um gosto especial pelo Football Manager, um simulador de gestão de equipas de futebol. O pai confessa que "nunca foi de jantaradas" e "nunca quis sair à noite".
"Eu até lhe dizia às vezes para ele ir. Para o Diogo, se houvesse futebol à tarde e Playstation à noite, estava ótimo. Demos-lhe, com grandes dificuldades, a primeira Playstation e não foi ele que nos pediu. Nunca nos pediu nada", conta ao Mais Futebol.
A próxima época no Paços de Ferreira seria de afirmação. Com Paulo Fonseca, Diogo Jota tornou-se indiscutível e marcou 14 golos em 35 jogos oficiais, o que leva ao interesse dos maiores clubes europeus.
O Atlético de Madrid chega-se à frente e oferece sete milhões de euros. Diogo Jota ruma a Madrid, mas fica por pouco tempo: no mesmo ano, os "colchoneros" contratam Nico Gaitán ao Benfica e Vitolo ao Sevilha e o espaço é pouco. Como alternativa, é cedido por empréstimo ao FC Porto de Nuno Espírito Santo.
Começou a suplente a sua época, mas rapidamente se impôs: no primeiro jogo a titular, frente ao Nacional da Madeira, faz um hat-trick. Na última partida da Liga, curiosamente, defronta o “seu” Paços de Ferreira e marca um golo, na vitória por 4-1.
O empréstimo termina, mas não o seu vínculo a Nuno Espírito Santo. O treinador é contratado para o Wolverhampton, de Inglaterra, e decide ir buscar Jota para a sua armada portuguesa, onde já estavam Rúben Vinagre, Roderick Miranda, Rúben Neves, Hélder Costa, Ivan Cavaleiro e um jovem Pedro Gonçalves.
É nos lobos que fica por mais três temporadas, onde soma 44 golos em 131 jogos, e onde começa a ganhar veia goleadora e a aparecer em mais zonas de finalização.
Nas últimas duas épocas, já com Rui Patrício e João Moutinho no plantel, Diogo Jota ajuda os "wolves" a chegaram ao 7.º lugar da Premier League e aos quartos de final da Liga Europa.
O jogador do Liverpool e o irmão André Silva, de 2(...)
Ao estilo de avançado móvel que se começa a tornar moda por esta altura, Diogo Jota alia uma invulgar apetência para o jogo de cabeça, que o faz muito maior do que o metro e 78 centímetros que aparecem no cartão de cidadão.
Pelo meio, Fernando Santos convoca Diogo Jota pela primeira vez para a fase final da Liga das Nações, que Portugal viria a vencer. A estreia pela Seleção Nacional só aconteceu em novembro de 2019, para os jogos de qualificação para o Euro do ano seguinte. Estreia-se numa vitória frente à Lituânia por 6-0 e assiste para um golo de Cristiano Ronaldo na partida seguinte, frente ao Luxemburgo, numa vitória por 2-0.
A notoriedade de Diogo Jota na seleção começa no compromisso seguinte: sem Ronaldo, que se afastou na fase de grupos da competição, Diogo Jota ganha destaque na Liga das Nações com golos frente à Croácia e à Suécia.
As boas campanhas na Liga Inglesa e o papel na seleção de Portugal levam-no até Liverpool no verão de 2020, que tinha sido o recém-campeão da Premier League, por cerca de 45 milhões de euros. No entanto, foi preciso esperar até à mais recente época, com Arne Slot, para Diogo Jota erguer o troféu de campeão.
Em cinco épocas pelo emblema de Anfield, o avançado luso marcou 65 golos em 182 jogos oficiais, erguendo ainda a Taça de Inglaterra por uma vez, em 2021/22, e a Taça da Liga inglesa por duas, em 2021/22 e 2023/24.
Uma lesão afastou-o do Mundial de 2022, no Qatar, mas esteve na equipa que venceu a Liga das Nações, em Munique, no passado mês, tendo jogado nos quartos, meias e final.
Também no mês passado, a 22 de junho, Diogo casou com Rute Cardoso, oficializando uma relação da qual tem três filhos: Dinis Silva, de quatro anos de idade, Duarte Silva, de dois, e uma filha, cujo nome não foi divulgado, nascida em novembro de 2024.
Diogo e Rute conheceram-se em 2012, quando ainda frequentavam o ensino secundário, onde estavam na mesma escola e na mesma turma.
Numa entrevista ao jornal A Bola, em 2016, Rute Cardoso comentou o início da relação: "O Diogo já andava em Gondomar, eu vim de Jovim [vila portuguesa do município de Gondomar] quando ingressei no secundário e calhámos na mesma turma. Ele era aplicado, por um lado, desinteressado, por outro. Conseguia tirar boas notas, mas sem estudar muito. Era só naqueles dois dias antes dos testes", disse.
Discreto fora das quatro linhas, os colegas de Diogo Jota descrevem o quão “boa pessoa” era e apelidam-no de “o estrangeiro mais britânico”, devido ao humor e ao estilo calmo.
Andy Robertson, companheiro de sempre no Liverpool, recorda o homem “cheio de amor” e “cheio de diversão”: “Era o jogador estrangeiro mais britânico que conheci. Costumávamos brincar que ele era irlandês. Tentei naturalizá-lo escocês, claro. Até o chamava de Diogo MacJota”, escreveu o defesa, que conta os episódios em que viam competições de setas e corridas de cavalos juntos.
Na memória ficam 136 golos nos 398 jogos oficiais pelos quatro clubes que representou como profissional, o Paços de Ferreira, o FC Porto, o Wolverhampton e o Liverpool, além de 14 golos pela Seleção Nacional, que representou em 49 ocasiões.