Reportagem

Centenas no adeus a Diogo Jota e André Silva. "Gostava de ver um amigável entre Penafiel e Liverpool"

05 jul, 2025 - 15:30 • André Rodrigues

Debaixo de um calor inclemente, centenas de adeptos de todos os clubes marcaram presença à porta da Igreja Matriz de Gondomar, no "encontro onde ninguém queria estar" e em que o silêncio e o recolhimento foram a regra em homenagem aos dois irmãos tragicamente falecidos na madrugada de quinta-feira.

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“Gostava de ver um amigável entre o Penafiel e o Liverpool. Seria um jogo de honra para os dois”. Emocionado, João deixa a sugestão para ser lida e ouvida por quem de direito.

Envergando um equipamento do Liverpool, este jovem de Gondomar foi um dos muitos que, após a cerimónia fúnebre de Diogo Jota e André Silva, entrou no cemitério de São Cosme para se deter durante alguns minutos diante do jazigo, em memória dos dois irmãos tragicamente falecidos na madrugada de quinta-feira.

João, que também jogou futebol, nem imagina o desalento dos colegas de Diogo, no Liverpool, e de André, no Penafiel, “que vão chegar ao balneário e não vão voltar a ver os colegas”.

João despede-se, inexpressivo. Recusa tirar uma fotografia, porque diz que “o mais importante não é aparecer publicamente, é estar aqui”.

Mas verbaliza uma última memória: “Vamos recordar o sorriso do Diogo, sempre que entrava em campo tinha um sorriso”. O sorriso de “um homem simples, tal como o irmão dele”.

O carinho que, nos últimos dias, invadiu as imediações da igreja Matriz de Gondomar “ganhou uma dimensão que acho que nem eles, se estivessem vivos neste momento, imaginariam”.

“Somos todos Portugal”

Ali mesmo, no “encontro que ninguém queria ter”, nas palavras do bispo do Porto, D. Manuel Linda, que presidiu à missa de corpo presente, uma cerimónia privada, a pedido da família e à qual só tiveram acesso os colegas de seleção e dos clubes de Diogo e André.

Liverpool em peso, Penafiel em peso, muitos nomes conhecidos da seleção nacional. E Cristiano Ronaldo ausente.

Mas também estiveram jogadores e dirigentes do Gondomar Sport Clube, onde os dois irmãos começaram por pisar os relvados, ainda nos escalões de formação.

Várias personalidades ligadas ao futebol marcam presença no funeral dos dois jogadores. Foto: Estela Silva/Lusa
Várias personalidades ligadas ao futebol marcam presença no funeral dos dois jogadores. Foto: Estela Silva/Lusa
Várias personalidades ligadas ao futebol marcam presença no funeral dos dois jogadores. Foto: Estela Silva/Lusa
Várias personalidades ligadas ao futebol marcam presença no funeral dos dois jogadores. Foto: Estela Silva/Lusa
Várias personalidades ligadas ao futebol marcam presença no funeral dos dois jogadores. Foto: Estela Silva/Lusa
Várias personalidades ligadas ao futebol marcam presença no funeral dos dois jogadores. Foto: Estela Silva/Lusa
Várias personalidades ligadas ao futebol marcam presença no funeral dos dois jogadores. Foto: Estela Silva/Lusa
Várias personalidades ligadas ao futebol marcam presença no funeral dos dois jogadores. Foto: Estela Silva/Lusa

No plano institucional, fizeram-se notar as presenças dos presidentes da Federação Portuguesa de Futebol, do Comité Olímpico de Portugal e de vários clubes foi discreta e silenciosa.

O recolhimento foi a regra. A exceção veio pelas vozes do presidente da Liga Portugal e do selecionador Roberto Martinez. “Hoje foi uma mostra para o Diogo Jota e o André Silva que somos uma família, que estamos todos juntos e que somos Portugal”, disse o técnico nacional numa breve declaração aos jornalistas.

Antes, o presidente da Liga Portugal lamentou “esta dor que nenhuma família merece… pais que enterram os filhos, avós que enterram os netos”.

"Uma perda muito grande."

José e Fátima estão emigrados em França. São de Gondomar. Trocaram uma manhã de passeio num dia de calor para estarem presentes nesta despedida.

“É uma perda muito grande para o país e para o futebol”, lamenta José, de olhos fixos na porta do cemitério, de onde tinha acabado de sair.

Fátima completa a ideia do marido: “ainda por cima é um jogador que é da terra, que conhecemos e que é amado… mesmo no Liverpool, onde ele jogava… isso é muito forte, muito forte”.

Adeptos do Liverpool cantam por Diogo Jota "um rapaz de Portugal"
Adeptos do Liverpool cantam por Diogo Jota "um rapaz de Portugal"

“O André não devia ser tão esquecido”

Fábio e Rafaela viram de Paços de Ferreira até Gondomar. Ele fez questão de vestir a camisola 18 com que Jota atuou no clube pacense na época 2015-2016, antes de dar o salto para o FC Porto.

“De um dia para o outro, não somos nada”, afirma resignado, recordando o internacional português por “tudo com o que conquistou, o esplendor de família que tinha, os três filhos e o legado que deixa, a nível europeu e mundial”.

Uma projeção internacional que, por estes dias, se traduziu num maior número de citações do nome de Diogo Jota.

Para Rafaela, adepta do FC Porto, “o Diogo elevava o nome do país por todo o lado” e, por isso, diz, “foi preciso vir fazer esta homenagem a uma pessoa tão querida que é para o nosso país”.

No entanto, Fábio adverte que “o André não devia ser tão esquecido, porque estava a construir a sua carreira, ainda era mais novo, estava solidificado na II Liga, no Penafiel, tinha feito uma boa época… Quem sabe se não daria o salto?”.

Mas a vida “é o que é”. E continua.

Terminadas as celebrações fúnebres dos irmãos Diogo Jota e André Silva, celebrou-se um casamento logo a seguir na Matriz de Gondomar.

Aos poucos, as centenas de pessoas que marcaram presença para lá das grades colocadas pela polícia, junto à igreja Matriz de Gondomar, foram passando pelo cemitério de São Cosme.

E foram saindo. Discretamente.

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