10 out, 2024 - 14:30 • Eduardo Soares da Silva
Foi a 21 de julho de 2024, em vésperas de Jogos Olímpicos, que Nuno Borges conquistou o primeiro torneio ATP da carreira. Até agora, o único. Pela frente, bateu um dos melhores tenistas de sempre, Rafael Nadal, que anunciou esta quinta-feira o final de uma longa carreira de sucesso.
Borges é o melhor tenista português da atualidade e ficará na história como o último a vencer uma final contra Nadal.
Em declarações à Renascença, Borges explica que, mesmo passados vários meses, "ainda tudo parece um sonho". Sobre o anúncio do fim da carreira de Nadal, o maiato encara com naturalidade face aos problemas físicos que marcaram os últimos anos da carreira do espanhol.
"Entendo perfeitamente a decisão de não estar satisfeito com o corpo e com as lesões. Era uma luta constante", afirmou.
Ténis
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Qual foi a tua reação ao saber da notícia?
Ainda não fui às redes sociais, contaram-me no final do treino. Foi a minha equipa que me disse, nem tinha visto. Já era um pouco expectável, o Nadal estava a lutar contra lesões nos últimos dois anos. Estes meses, ele queria muito voltar, mas parece que paga sempre o preço e volta a ficar de fora. Entendo perfeitamente a decisão de não estar satisfeito com o corpo e com as lesões. Era uma luta constante.
Claro que o pessoal quer que ele continue a jogar, mas ele se calhar sabe que já não vai conseguir estar ao nível que gostaria. Merece não ter de sofrer a jogar por menos do que ele realmente merece apresentar.
O Nuno Borges foi o último a jogar uma final contra ele. E ganhou. Como foi acordar de manhã e perceber que se ia jogar contra o Nadal?
Não pensei dessa forma nessa altura, tentei manter a rotina o mais normal possível. Só quando já estava em campo, a cumprimentá-lo e quando ele começa a bater bolas é que me bateu o momento de: "caramba, estou mesmo a jogar contra ele".
Vi-o tantas vezes na televisão, cresci a vê-lo jogar nos maiores palcos do mundo contra o Roger [Federer] e o Novak [Djokovic] e, de repente, estou eu ali no campo com ele. Pareceu surreal, mas tinha de manter o foco. De certa maneira, foi tudo tão rápido e ainda bem que foi. Ajudou-me a manter-me concentrado. Ainda parece tudo um sonho.
Acaba por ser uma nota de registo para o Nuno...
Não tinha pensado nisso, mas acaba por ser. Não queria que fosse assim, acho que não queria que o Nadal acabasse a carreira desta maneira, merecia algo mais, mas também fico contente. Não por ter sido o último - e claro que é interessante -, mas ter partilhado o campo com ele em algum momento foi muito bom.
Chegaram a falar em privado? Como era como pessoa e que imagem passava no circuito?
Não conversei em privado, ele sempre foi muito cordial e respeitoso. Cumprimentava, parecia sempre bem disposto, mas não consegui ter oportunidade de o conhecer verdadeiramente. Tinha uma imagem muito boa e prestigiada. Todos o respeitavam imenso. Ele sempre deu essa imagem de trabalho duro e desportivismo. Sempre foi alguém que os jogadores olhavam para cima num pedestal e respeitavam dentro e fora de campo.
Recordas da primeira vez que o viste jogar, ou o primeiro grande momento?
Não [risos]. Sei que cresci a vê-lo jogar, principalmente as finais contra o Roger, mas não um jogo em particular da primeira vez.
Deixa um legado muito forte, há sempre a discussão qual o melhor dos três. Tens alguma opinão forte?
O Roger e Nadal se calhar tiveram um impacto maior no desporto em si, em termos de imagem e exemplo para os miúdos. O Novak tem os números melhores neste momento. O que define o melhor de sempre cabe a cada um. O meu ídolo sempre foi o Roger, não era o Nadal, mas sempre respeitei todos e é um choque quando um deles se retira.
É cada vez mais o fim de uma era no ténis, já sem o Federer e o Nadal. Um ciclo que durou tanto tempo...
Acho que sim, é uma transição que vai acontencendo. Assim que o Novak se retirar, é uma geração totalmente nova. Teremos novos campeões a dominar e já temos.
Já se nota, o Novak também provavelmente não está na melhor forma de sempre, já não faz tantos torneios. De certa maneira, já não é a mesma coisa, embora continue num nível de topo mundial, mas já se vê outros a aparecerem nos "rankings". Acaba por ser uma nova era.