26 jan, 2025 - 08:00 • Carlos Calaveiras
A seleção portuguesa de andebol está a fazer história no Mundial, chegou a uns inéditos quartos de final, mas quer mais.
Este domingo, os “heróis do mar”, alcunha pela qual são conhecidos, vão defrontar o Chile, a partir das 14h30, na última jornada da “main round” e a vitória é fundamental para evitar a Dinamarca já na próxima fase.
Já segue a Bola Branca no WhatsApp? É só clicar aqui
Em entrevista à Renascença, Salvador Salvador reforça a força do grupo, responde aos elogios do selecionador e concorda com Diogo Branquinho: está na altura de ser normal estar nos grandes palcos e pensar em medalhas.
O lateral do Sporting, que se estreia na fase final de um Mundial, não tem dúvidas: “Isto tem de deixar de ser um sonho e tem de começar a ser uma realidade”. Já sobre as novas gerações, a certeza: “São muito boas”.
Salvador, quartos de final garantidos e melhor resultado de sempre confirmado. A seleção já fez história no Mundial.
Sim, antes da competição começar tínhamos dito que queríamos dar um passo em frente, queríamos chegar aos grandes palcos, queríamos chegar aos jogos das grandes decisões e era nisso que estávamos focados, apesar de sabermos da dificuldade que iríamos ter pela frente, porque apanhámos seleções como a Espanha, a Suécia, o Brasil e a Noruega, tudo jogos de enorme dificuldade. Mas o espírito deste grupo é muito grande, a alma desta equipa é gigantesca, a ambição é do mesmo tamanho e foi nisso que nos focámos. O percurso tem sido duro, mas felizmente atingimos um feito histórico.
Portugal nunca tinha vencido a Espanha. Foi quebrado o enguiço, especialmente com uma segunda parte de grande nível.
Sabíamos que íamos enfrentar uma Espanha muito forte, muito poderosa, com jogadores completamente habituados a este tipo de jogos, habituados a estar e jogar em grandes competições, muitos mais experientes que nós e sabíamos o que é que iríamos ter pela frente.
Entrevista Bola Branca
São 100 jogos pela seleção, alcançados durante o C(...)
No entanto, da mesma maneira que foram os outros jogos, queríamos olhar a Espanha nos olhos e fizemos: entrámos bem no jogo, estivemos sempre taco a taco na primeira parte, eles acabaram por se distanciar um bocadinho [quatro golos de vantagem] com algumas falhas nossas no ataque, mas conseguimos ir só [a perder] por um ao intervalo. A segunda parte teve uma história completamente diferente, entrámos muito mais fortes na defesa, o Diogo Rêma [guarda-redes] também nos ajudou em algumas bolas aos 6 metros e no ataque falhámos muito pouco, por isso tornou tudo muito mais fácil.
Noruega e Suécia foram outros obstáculos já ultrapassados. O calendário da seleção não tem sido fácil contra terceiros, quartos e sextos do Mundial anterior.
Sinto-me bastante orgulhoso por fazer parte deste grupo, um grupo que não tem limites, e não temos imposto limites àquilo que podemos vir a fazer neste Mundial, mas, lá está, isto até agora foi muito bonito, mas nós queremos fazer mais, queremos continuar a fazer história e estamos muito focados em ganhar ao Chile para garantir o primeiro lugar deste grupo na main round.
Este domingo segue-se o Chile. Vai ser mais fácil? Há algum risco de vocês relaxarem um bocadinho?
Acho que o grande desafio para nós é manter o mesmo nível que temos vindo a apresentar nos jogos que fizemos até aqui. Os nossos jogos têm sido um constante crescimento e queremos continuar a fazê-lo. Temos que encará-lo exatamente como encarámos os jogos com a Espanha, com a Noruega e os outros jogos para trás e é nisso que estamos focados porque vai ser um jogo tão importante como os outros. Garantindo o primeiro lugar [na main round], as coisas ficam muito favoráveis para nós.
Agora nos quartos, Portugal vai defrontar Alemanha ou Dinamarca. Como são estas seleções?
São seleções de altíssimo nível, tal como as que temos vindo a enfrentar até aqui. Opinião pessoal é que a Dinamarca está num patamar completamente diferente de qualquer outra seleção - talvez a França possa aproximar-se -, mas a Dinamarca está num patamar completamente diferente de outras seleções. Por isso, se pudéssemos evitar, evitávamos a Dinamarca, mas, da maneira que estamos a jogar, acho que qualquer seleção pode vir que vamos olhar qualquer seleção nos olhos.
O Salvador tem o número maior de bloqueios na defesa, mas também golos importantes no ataque. Está a ser um grande campeonato para si.
Sim, acho que está a ser um Campeonato do Mundo muito bom para mim, foco-me em tentar ajudar a nossa seleção naquilo que me disser respeito: se tiver que defender 60 minutos, defendo os 60 minutos e tento ajudar apenas na defesa. Se tiver que atacar, tentar contribuir com golos ou assistências, se tiver que fazer transição, é isso que eu farei. Estou concentrado em ajudar a seleção naquilo que eu posso ajudar. O resto, as coisas têm vindo a correr bem e tem vindo tudo por acréscimo.
Entrevista Bola Branca
É um dos protagonistas do trajeto perfeito de Port(...)
O Salvador tem sido muito elogiado por todos, incluindo o selecionador Paulo Jorge Pereira. Que comentário lhe merece?
Eu tento sempre manter-me fiel a mim mesmo, às minhas ideias, à minha maneira de estar dentro de campo. Tento trazer aquilo que sou no Sporting para a seleção. Entrego-me de alma e coração. Cada vez que entro dentro de campo, é isso que tento fazer pela nossa seleção.
Sobre os comentários do nosso treinador, para mim é extremamente gratificante. Significa que as coisas que estou a fazer estão a ser bem feitas para ajudar. Estou extremamente orgulhoso de fazer parte deste grupo, que está a fazer história por Portugal e só quero continuar a fazê-lo.
O Diogo Branquinho disse à Renascença que era altura de “pensar em medalhas”. Chegados aos quartos de final, até onde vai Portugal?
Claramente concordo com o Diogo. É óbvio que fizemos história por chegar aos quartos de final, mas acho que Portugal tem de começar a pensar mais à frente, tem de começar a ser normal nós passarmos aos quartos de final, tem de deixar de ser anormal nós estarmos sempre presentes nas competições grandes, mas sim, ser normal estarmos a competir nestes grandes jogos, a competir nos quartos de final, a sonhar com as meias, a sonhar com as medalhas. Isto tem de deixar de ser um sonho e tem de começar a ser uma realidade.
As gerações portuguesas futuras são muito boas e, se continuarmos a trabalhar da maneira que tem-se vindo a trabalhar, acho que isso vai deixar de ser um sonho e vai passar a ser uma realidade.
...
Neste momento, a confiança está em cima, mas os pés continuam bem assentes no chão e, por isso, agora venha o Chile, vamos tentar garantir o primeiro lugar, depois trabalhar bem a seleção que vier nos quartos final e depois podemos sonhar com o que quer que seja.