31 jan, 2025 - 13:05 • Carlos Calaveiras
Faltavam 20 segundos para acabar o jogo e a partida contra a Alemanha estava empatada. Portugal teve o último ataque e foi Martim Costa a resolver, com um remate (e um golo) a três segundos do final. Os "heróis do mar" fizeram história e estão pela primeira vez nas meias-finais de um campeonato do Mundo de andebol.
Em entrevista à Renascença, Martim Costa conta como foram aqueles últimos segundos e como se viveu a festa logo após o apito final. O jogo até nem estava a ser brilhante para o lateral do Sporting, mas os golos surgiram na altura decisiva.
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Agora, vem aí a Dinamarca, tricampeã do mundo em título, mas, chegados aqui, já só se pode pensar na vitória, apesar do adversário complicadíssimo. O jogo está marcado para as 19h30 desta sexta-feira.
Temos de começar pelo fim: a Alemanha empata e Portugal tem a última jogada. Como é que recorda aqueles últimos 20 segundos do jogo?
Tínhamos que marcar golo, queríamos acabar com o jogo naquele prolongamento, não queríamos prolongar mais o jogo e surgiu a oportunidade para marcar golo. Consegui fintar o meu adversário, depois tive que rematar porque faltavam poucos segundos e felizmente a bola entrou. Foi um alívio, foi uma pressão a sair dos ombros e muita felicidade.
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Mas a jogada estava combinada ou foi improviso do momento?
Já tínhamos definido mais ou menos o que é que queríamos fazer, o nosso plano de ataque era aquele: atacarmos um contra um em cima dos defensores deles. Foi a minha vez de atacar e consegui fintar, passar pelo meu adversário e consegui marcar golo.
O Martim remata, a bola entra e o jogo acaba. O que é que se sente naquele momento ao fazer história?
Acho que é um misto de emoções de felicidade, de alívio, de tudo. Às vezes nem se consegue saborear muito bem aquilo que conseguimos porque a pressão é tanta, há uma descarga de consciência e um alívio do peso nos ombros, mais do que felicidade e euforia, que obviamente também sentimos, mas se calhar as pessoas de fora vivem-no muito mais do que nós.
O selecionador Paulo Jorge Pereira disse no final da partida que tinha apostado que o Martim ia fazer um grande jogo, mas diz que ao início as coisas não lhe estavam a correr bem. Foi o quê, nervos? Pressão? Uma maior atenção dos alemães sobre si?
O guarda-redes deles estava a apanhar as bolas, estava a defender bem. Há dias assim em que a bola custa mais a entrar, mas no prolongamento a bola lá conseguiu encontrar as redes, felizmente veio a tempo e consegui aparecer a tempo de ajudar a equipa a ganhar.
Estivemos na frente do marcador muito tempo, mas a Alemanha recuperou na segunda parte, muito por culpa do guarda-redes alemão [Andreas Wolff] que fez uma exibição incrível com 21 defesas.
É muito, é muito... Fez um jogaço. Se calhar, se tivesse feito um jogo mais normal, digamos assim, tínhamos ganho o jogo nos 60 minutos, de maneira um pouco mais tranquila. Mas a verdade é que são as armas deles, nós temos as nossas e uma das armas da Alemanha é o guarda-redes que tem, que é uma máquina, dos melhores de sempre, um dos melhores do mundo na atualidade e quando está no dia dele é difícil marcar golo, há dias assim, mas soubemos lidar com isso, conseguimos defender ainda melhor que eles e conseguimos ganhar este jogo.
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A saída do Frade [cartão vermelho] também complicou…
Claro que sim, foi um jogador importante tanto no ataque como na defesa, obrigou o Víctor [Iturriza] a jogar os 70 minutos quase todos e na defesa também perdemos um atleta super importante. Tivemos que adaptar-nos, tivemos que nos fazer à vida. Esforçámo-nos mais do que se calhar estávamos à espera, mas assim até está melhor.
Portugal está pela primeira vez nas meias-finais de um Mundial. E agora, a Dinamarca, provavelmente a melhor seleção do mundo. Como vai ser?
Vamos preparar o jogo como todos os outros. Já que estamos nas meias-finais, temos que pensar em ganhar, como é óbvio. Não há outro pensamento na cabeça da malta aqui na seleção: queremos ganhar, queremos passar à final.
Também sabemos da dificuldade que vai ser. Vamos jogar contra uma grande seleção, uma grande equipa, mas nós, chegando aqui, é porque temos alguma qualidade, alguma coisa sabemos fazer bem. Vamos lutar para ganhar como fizemos todos os jogos. Sabemos da dificuldade, mas vamos encarar isto como uma final e queremos muito ganhar.
Mas, no meio daqueles craques todos, deve haver algum ponto fraco que vocês possam explorar…
Sim, claro que sim. Temos de ver os pontos fracos da defesa, onde é que eles têm mais dificuldades e no ataque ver o que é que podemos fazer para os parar. Mas sabemos que têm muito poucos pontos fracos, porque senão não eram tricampeões mundiais. Mas é isso, vamos tentar explorar ao máximo algumas debilidades que eles possam ter e tentar ganhar o jogo.
A seleção tem feito uma caminhada imaculada. Na véspera do primeiro jogo contra os Estados Unidos, vocês acreditavam que isto iria ser possível?
Nós sempre dissemos que queríamos chegar aos quartos de final. Também sabíamos da dificuldade que iria ser, sabendo todas as equipas que íamos enfrentar, até chegar aos quartos. O main round foi super complicado, enfrentamos das melhores seleções do mundo, mas conseguimos superar e, para mim, não é surpresa nenhuma o lugar onde estamos. Provámos que temos muita qualidade e que este é o nosso lugar.
A equipa teve dois percalços na preparação, a situação de doping do Miguel Martins e a lesão do Cavalcanti, mas o grupo parece ter conseguido ultrapassar bem.
Tivemos que nos adaptar. Obviamente que a perda do Miguel e do Cavalcanti foi complicada para nós, mas que tínhamos que nos adaptar, queríamos continuar a lutar por Portugal, que tínhamos que dar o nosso melhor. Continuamos o nosso caminho e estamos a fazer também por eles, que não puderam estar presentes e que certamente gostavam de estar aqui connosco. Estas vitórias também é muito por eles.
Não sei se o sentem aí no frio da Noruega, mas aqui em Portugal nunca se terá falado tanto de andebol. Acha que esta onda positiva poderá ser boa para a modalidade, levar mais adeptos aos pavilhões e, se calhar até, mais jovens para o jogo?
Nós esperamos que sim, é por isso que também jogamos e gostamos que o andebol cresça em Portugal. Termos os média todos em cima de nós e conseguirmos meter o andebol na boca das pessoas é espetacular. Que mais crianças pratiquem é, sem dúvida, um dos nossos objetivos.
O Presidente da República já felicitou a seleção.
Fico muito contente que [o Presidente da República] diga bonitas palavras sobre nós. Também está aqui o embaixador da Noruega, o secretário de Estado do desporto também veio ver-nos jogar. Ter essas pessoas ao nosso lado é muito agradável e ouvir boas palavras deles, sem dúvida, dá-nos mais força.