16 fev, 2025 - 15:30 • Inês Braga Sampaio
As dezenas de cachecóis pousados junto à porta 24 são a primeira coisa que salta à vista quando nos aproximamos do Estádio do Dragão. Com cada adepto que chega, cresce o tapete azul e branco de homenagens a Jorge Nuno Pinto da Costa, o "presidente dos presidentes" do FC Porto, que morreu no sábado, aos 87 anos, vítima de doença prolongada.
A cidade do Porto acordou, este domingo, com chuva, as lágrimas de uma nação portista que não se deixou arredar pelo mau tempo. Centenas de adeptos – homens, mulheres, crianças, adultos, idosos, que até trouxeram os seus animais –, inclusive alguns de outros clubes, fizeram questão de dizer adeus ao líder de uma vida. Chegavam, pousavam uma recordação e ali ficavam, de pé, em silêncio, alguns benzendo-se. Nem todos conseguiam conter as lágrimas.
Não só de cachecóis se faz este mural deitado de recordações. Há bandeiras, camisolas - do Porto e não só -, velas, flores, chapéus, peluches e uma grinalda, que foi colocada pelo próprio clube.
Depois do almoço, o número de adeptos à porta do estádio multiplicou-se. De algumas dezenas de cada vez, passou para os milhares. Também acudiram à homenagem membros da claque Super Dragões, que penduraram na fachada uma tarja, da altura de uma bancada, com uma imagem de Pinto da Costa com uma coroa na cabeça e sentado num trono em forma de dragão. Entoaram o cântico do "presidente dos presidentes" do clube, como clamava o ecrã gigante virado para o exterior, e cantaram o hino do Porto.
Ricardo Ferreira, um adepto do FC Porto que comparece à homenagem, assume que já havia a "perceção" de que a morte de Pinto da Costa poderia aconte em breve, e prefere recordar "a vida e a obra que o presidente dos presidentes realizou" pelo clube.
"Foi um trajeto com algumas curvas, mas foi um trajeto vencedor e que representou muito para o FC Porto e até para a região do Norte, atrevo-me a dizer", afirma, em declarações à Renascença.
Foi esse impacto de Pinto da Costa na cidade do Porto e na região do Norte que levou Miguel Maia, um adepto do Benfica no Porto e o único da família – "não é fácil", diz –, a deslocar-se ao Dragão para prestar o seu respeito ao ex-presidente do clube rival.
"Foi um marco para o clube e para a cidade. Apesar de ser benfiquista, também quis vir dar uma homenagem, por tudo o que fez pela cidade. Independentemente de me ter dado algumas tristezas, era uma pessoa que admirava. Foi sempre uma pessoa controversa, que fez do Porto a cidade grande que é. Ajudou muito a fazer com que o Porto evoluísse como cidade e não só como clube. Vai ser uma perda irreparável", salienta.
Tiago Cavalas, de 18 anos, reconhece que, pela tenra idade, não assistiu "aos momentos mais importantes". Por exemplo, em 2011, quando o Porto conquistou a Liga Europa, "ainda não tinha consciência".
"Assim recente, quando o Porto foi campeão nacional em 2021. É só mesmo essas, porque, antes disso, não tinha consciência", admite. Ainda assim, aqui está Tiago, à porta do Dragão, para o adeus a Pinto da Costa.
Ricardo Ferreira, que se lembra de mais alguns momentos marcantes, escolhe a conquista da Taça dos Campeões Europeus, em 1987, como o momento que mais o emociona: "Eu era uma criança e senti uma emoção enorme e foi quando percebi como o lado emocional do desporto nos marca. Partilhei-o, felizmente, com o meu pai, o meu irmão, e com amigos e família ao longo dos dias seguintes. Foi um marco importante que nos ajudou a perceber que era possível vencer e deixar uma marca fora da cidade, e ao longo dos anos fui tendo uma compreensão maior sobre esse fenómeno."
Tiago Cavalas tem um prognóstico reservado em relação ao futuro do clube, devido a "toda a divisão que há". Já Ricardo Ferreira acredita que "o clube vai continuar a honrar as muitas alegrias" que deu com Pinto da Costa, "com uma atitude vencedora".
"A maior homenagem que posso prestar é a herança que [Pinto da Costa] me transmitiu, de acreditar no clube e acreditar que somos capazes de vencer em qualquer contexto e em qualquer situação. Espero que todos os sócios e adeptos do Porto partilhem dessa sensação e que não a percam, até porque acredito que a atual direção é capaz de dar continuidade a esse legado. Os tempos são outros e é preciso compreender isso. Acredito que o FC Porto vai continuar a vencer e que vai saber honrar a memória do Pinto da Costa. Essa será a melhor homenagem", vinca.
O futebol ensinou-nos que onde há adeptos, há festa. Porém, junto ao Dragão, entre o luto e a tristeza, só se ouvia o silêncio, neste último adeus a Jorge Nuno Pinto da Costa, o mais importante presidente da história do FC Porto.
[Notícia atualizada às 16h07]