27 nov, 2024 - 12:20 • Hugo Tavares da Silva
Astros. Signos. Búzios. Espelhos. Evangelho. Orixás. Autos. Bulas. Dogmas. Tese. Tratado. Dados oficiais. Ciganas. Projetos. Profetas. Sinopses. Conselhos. Karma…
Chico Buarque convocou tudo isto por amor em “Dueto” e porque não, agora que o Botafogo fintou garrinchamente todas as magias negras e as nuvens chorosas, convocar as mesmas verdades e fados nesta reta final do Brasileirão?
Quando toda a gente já sentenciava a tristeza eterna para a rapaziada do Rio de Janeiro, sucumbindo à combatividade e às certezas do Palmeiras de Abel Ferreira, o Botafogo de Artur Jorge meteu três golos na Allianz Arena e assumiu a liderança do campeonato. E isto a quatro dias da final da Libertadores, contra o Atlético Mineiro, que pode dar ao “time” de Garrincha e Didi o primeiro triunfo nesse mítico torneio (é a primeira final).
A narrativa do clássico jogado na madrugada, para os estóicos portugueses que se mantiveram de olhos abertos até quase 3h da manhã, estava traçada: o Botafogo não saberia aguentar a pressão, como não aguentou na época passada, quando chegou a ter mais 14 pontos do que o “verdão”. Mas a história foi outra.
Futebol Internacional
Botafogo de Artur Jorge e Palmeiras de Abel Ferrei(...)
O Palmeiras, com os eclipsados Rony, Raphael Veiga e Felipe Anderson, só vivia das correrias do mago e juvenil Estevão pela direita. O “fogão”, que também não desfrutou muito da arte de Luiz Henrique, teve em Gregore, Igor Jesus e sobretudo Alexander Barboza os pilares da vitória que não deixa de ser surpreendente, porém que é totalmente justa.
Gregore marcou primeiro, logo aos 19’. No que parecia um canto trabalhado, o futebolista brasileiro reconheceu, ao intervalo, que estava ali por engano. O jogo manteve-se na mesma toada. O Palmeiras esticava o jogo na direita e na frente, e abusava dos cruzamentos. O Botafogo tentava um jogo mais associativo, mas lançando aqui e ali o fogoso Igor Jesus.
O poste da baliza dos visitantes tilintou. E aí se sentiu que os astros, signos, búzios, espelhos, bulas, orixás, etc, etc, estariam do lado dos cariocas. Na segunda parte, aos 70’, Marcos Rocha reagiu a um empurrão de Igor Jesus e o VAR aconselhou o árbitro a expulsá-lo, por agressão. Pareceu um exagero, Valdo no Canal 11 achou o mesmo, mas quem sabe tenha sido imprudente.
Com espaço, o Botafogo massacrou ainda mais a defesa meio perdida do Palmeiras. Richard Ríos, com a sola na bola e o caparro contra caparros, era dos poucos que combatia os operários da “estrela solitária”. Flaco López não entrou bem, esteve na cara de John Victor e esbanjou a oportunidade de empatar a partida. Convém lembrar que o empate mantinha o “verdão” na liderança. Ambos tinham 70 pontos, o que transforma esta liga numa das melhores da história.
Brasil
Artur Jorge pode ser o terceiro treinador portuguê(...)
Começou então o show de Thiago Almada e Jefferson Savarino, que fez o 2-0 aos 73’. Artur Jorge foi mexendo na equipa, refrescando-a e poupando-a para a importante final de sábado, em Buenos Aires. O 3-0 deu-se aos 89’, por Adryelson, regressado da aventura em França. Ríos, premiado pela exibição jeitosa, reduziu aos 90’+3. Três-um.
Abel parecia resignado, porém sem uma linguagem corporal que denunciasse a toalha no chão. Uma parte dos adeptos chamou-lhe “burro”, pois claro, o tradicional insulto que tanto intriga. Bom, se calhar é demasiado quando falamos do maior ou um dos maiores treinadores da história daquela entidade, certo?...
Na conferência de imprensa, na ressaca do jogo, Abel reconheceu a superioridade do Botafogo e queixou-se da arbitragem. Já Artur Jorge, que estava na co-liderança e está na final da Libertadores, teve a necessidade de dizer “estamos vivos”. E aqui nota-se o trauma recente do Botafogo.
A história continua. O Palmeiras tem pela frente Cruzeiro e Fluminense, enquanto o Botafogo pode confirmar o que não acontece desde 1995 contra o São Paulo e o bom do Internacional, que é uma equipa nova desde que Roger Machado pegou na equipa.