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​O dia em que Bergoglio foi expulso do balneário do San Lorenzo

21 abr, 2025 - 11:30 • Hugo Tavares da Silva

Quando subiu ao lugar mais alto da Igreja Católica, Francisco viu o seu San Lorenzo ser campeão nacional. Um ano depois, Romagnoli e companhia conquistaram a Libertadores. Chamaram-lhe o "efeito Francisco".

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Bergoglio deixou de ver o seu San Lorenzo em 1990, depois de largar definitivamente o televisor (com algumas exceções como o 11 de setembro) e o que nele passava por uma “cena miserável” que perturbou muitíssimo o padre argentino. O sócio 88.235N-0 nunca deixou de pagar as quotas. Quando chegou ao lugar mais alto da Igreja Católica, um guarda do Vaticano dizia-lhe o resultado do clube todos os domingos.

O amor pelo San Lorenzo, que se transformaria em matéria sem imagem nem cheiro nem som, sacudiu-lhe a alma como um relâmpago em 1946, depois de René Pontoni e Rinaldo Martino levarem aquele clube de Buenos Aires, onde Jorge Mario Bergoglio nasceu em 1936, ao título nacional de futebol.

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Depois de o futebol lhe entrar nas veias, a Teologia e a Filosofia entraram-lhe na mente e no currículo académico. Na vida também. O jovem argentino foi percorrendo as escadinhas da Igreja, até que, em maio de 1992, o Papa João Paulo II nomeou-o bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires, um derradeiro degrau que alcançaria em 1998, com a morte de Antonio Quarracino.

O futebol esteve sempre presente na vida deste homem, o amor ao Club Atlético San Lorenzo de Almagro idem. "Para mim, era o clube da família. O meu pai jogava na equipa de basquetebol. Quando éramos crianças, a mãe vinha connosco ao Gasómetro", chegou a relatar.

Mas voltemos a 1998. Bergoglio tinha o hábito de ir rezar com os futebolistas do seu clube antes dos jogos, mas Alfio Basile, o então treinador, não achava piada nenhuma à situação, até porque o San Lorenzo estava a disputar a Copa Mercosul e vivia momentos conturbados, pelo que não via grande utilidade naquela suposta ajuda divina.

“Não queria nada que pudesse desconcentrar os jogadores, e eu disse ao [presidente Fernando] Miele que eu tomaria conta do elenco”, revelou muitos anos depois Basile, numa entrevista ao ‘Linea de Tiempo’.

“Se não estavávamos a ganhar, porque deixaria que ele continuasse a rezar com a equipa? O Miele avisou-o e o rapaz seguiu o caminho dele.” O rapaz era Jorge Mario Bergoglio, o futuro Papa que morreu esta segunda-feira, 21 de abril, aos 88 anos.

Depois de Bergoglio ser nomeado Papa, Miele revelou a Basile que se tratava do tal padre que ele expulsou do balneário do San Lorenzo. Miele até lhe disse que ia a Roma só para contar o episódio a Francisco.

Com ou sem ajuda de Bergoglio, o San Lorenzo de Basile caiu contra o Cruzeiro, onde jogava Valdo, nas meias-finais do torneio continental.

Mas a história deu uma cambalhota interessante…

Em 2013, no ano em que se tornou Papa, Francisco viu o seu San Lorenzo ser campeão nacional (não acontece desde então). Leandro Romagnoli, que passou pelo Sporting, era um dos craques. Bergoglio recebeu uma comitiva do clube de Buenos Aires no Vaticano. Em 2014, pasmem-se, o San Lorenzo conquistou a Libertadores, o troféu mais importante do futebol sul-americano, pela primeira (e única) vez.

O que pensaria Alfio Basile dessa coincidência? O desportivo argentino “Olé” chamou-lhe “o efeito Francisco”.

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