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Futebol nacional

O que esperar do Benfica-Sporting? As ideias e os cenários, por dois comentadores Bola Branca

09 mai, 2025 - 07:10 • Hugo Tavares da Silva

"Nenhuma equipa é extraordinária, mas ambas têm virtudes." O dérbi lisboeta pode decidir o título no Estádio da Luz, no sábado.

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Quem passa ao lado dos sofrimentos, esfrega as mãos. Um dérbi que pode decidir tudo… tremendo. Quem olha a rivalidade com olhos bons, idem, também reproduz o mesmo gesto de esfregamento. É especial ver algo assim, ou não é? Quanta tensão. Futebolistas elevados ao estatuto de semideuses… ou o oposto, em caso de desaire. Pobres criaturas.

Resumindo, a época foi assim: o Sporting embalou com Ruben Amorim, com 11 vitórias em 11 jornadas. O Benfica despachou Roger Schmidt e voltou a convocar Bruno Lage para aproximar adeptos e tentar alguma coisa no relvado. Amorim saiu para o Manchester United. João Pereira tentou calçar os sapatos dele, mas eram demasiado grandes. O flerte com a tragédia foi real. E chegou Rui Borges, que corrigiu a rota de colisão com o que destroça os corações futeboleiros.

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Contas feitas, com altos e baixos, Benfica e Sporting chegam à reta final do campeonato com os mesmos 78 pontos. Os leões, ainda assim, têm vantagem no confronto direto para já (1-0 em Alvalade). Por isso, os rapazes da Luz têm de vencer por dois golos ou mais para serem já campeões. Ao Sporting basta vencer. Caso não aconteça nada disto, teremos uma última jornada animada.

O que vem aí no sábado, então? “Nenhuma equipa é extraordinária, mas ambas têm virtudes”, reconhece Francisco Guimarães, comentador Bola Branca. “Se Gyökeres, sozinho e principalmente em ataque rápido, pode resolver o jogo e esconder a falta de ideias no ataque do Sporting, o Benfica pode gabar-se de um di María que, nestas partidas, joga para o todo, mais associativo e interessante.”

Para o comentador desta rádio, os treinadores “não são génios da tática”, ainda que valorize as “estratégias bem pensadas” de Bruno Lage. O grande mérito de Rui Borges, aponta Francisco Guimarães, é ter garantido que o seu grupo se mantém à tona, “apelando à união, ao sacrifício e à entreajuda”.

Mais: “Consegue ser sereno, transmitir alguma praz no turbilhão da ansiedade, apesar de ou não conseguir ler o jogo promovendo substituições acertadas e atempadas, oua equipa não corresponder aos seus pedidos durante os problemas”.

Já Francisco Sousa, outro comentador Bola Branca, prevê um “dérbi tenso” e “muito marcado pela questão tática”. Este analista não espera grandes riscos de parte a parte, ainda que tenha expectativas para ver em ação “o lado mais estratégico de Bruno Lage”, que, lembra, já foi vislumbrado em ocasiões anteriores, seja na Liga dos Campeões, seja nos clássicos com o FC Porto.

Este comentador não consegue definir se será favorável ou não o Sporting jogar com dois resultados. O que salienta, sim, é que os que vão de Alvalade para a Luz terão de “sobreviver” aos primeiros minutos. Ou seja, imagina um ambiente avassalador do terceiro anel ao piso zero.

Falando em ‘tatiquês’, Sousa adivinha que Lage poderá apostar num 3-4-2-1 com bola, estando a dúvida no momento defensivo, isto é, se defende com a linha de cinco – com Aursnes a colar a Tomás Araújo (Alexander Bah continua indisponível), ou com Dahl a juntar-se a Carreras –, ou se defende com uma linha de quatro, como aconteceu contra o AVS, e saindo a jogar com três.

Guimarães garante que Lage vai explorar “de certeza” a dificuldade de o Sporting ter bola e jogar entrelinhas. “Será que Pote e Trincão vão conseguir fazê-lo?”, questiona, salientando a motivação dos leões, até porque “a questão mental é decisiva nestes jogos”.

Quanto ao Benfica, Francisco Guimarães não vai à bola “com o teatro gesticulado de Bruno Lage”, que diz não ser “eficaz”. Mas os argumentos futebolísticos estão lá todos: “Um meio-campo pressionante com Florentino à cabeça, a verticalidade de Kokçu e a inteligência de Aursnes, aliadas à relação com Pavlidis cria no miolo e à velocidade de Aktürkoğlu e Carreras no corredor esquerdo, serão todos motivos de preocupação para uma linha defensiva instável”. Quem jogará à direita?, questiona o comentador, imaginando aí desafios agrestes para os visitantes.

“Diomande pode dominar pela agressividade”, continua. “Tanto ele como Gonçalo Inácio, ou mesmo Quaresma, terão de assumir com critério a primeira fase de construção do Sporting, geralmente muito precipitada e vertical.”

O comentador Francisco Sousa aponta, naturalmente, para Gyökeres na hora de escolher o protagonista dos protagonistas para o dérbi, que conta com as duas melhores defesas da liga (26). “Como o Benfica se vê obrigado a ganhar, terá de atacar mais e expor-se mais, isso pode beneficiar o avançado”, lembra. O sueco tem 38 golos, uma fatia importante dos 85 celebrados pels senhores de verde, é o melhor ataque da prova.

Depois, surgem as questões: será que joga Geny Catamo? Quenda? Dois alas ofensivos? Dois alas defensivos? Ou um defensivo e outro ofensivo? Sousa antecipa que entrem em campo Maxi Araújo e Iván Fresneda. Como solução, imagina Geovany Quenda e Matheus Reis. Não se choca com a versão mais defensiva. A última camada da equação teria, para este comentador, Quenda/Catamo e Maxi do outro lado. Veremos o que Rui Borges cozinhou durante a semana, sabendo-se que não pode contar com Nuno Santos.

Quanto ao Benfica, “a componente estratégica será chave”, reforça Sousa. Também o momento da bola parada poderá ser uma resposta para este desafio. São já quase 20 golos entre livres e cantos, lembra o comentador.

“Os movimentos em apoio do Pavlidis fazem com que a linha defensiva contrária avance”, explica. “Faz sentido jogar di María, pelo peso e estatuto, mas faz sentido ter Amdouni ou Aktürkoğlu para aproveitar essa dinâmica de espaço que pode surgir pelos movimentos do Pavlidis”. O grego, para além do que oferece ao jogo com e sem bola, começou a dar com a baliza e já leva 18 golos.

Uma das grandes dúvidas prende-se com a opção de Lage colocar ou não três médios, para tentar contrariar Hjulmand e o seu companheiro na casa das máquinas (Daniel Bragança e João Simões estão lesionados). “Teremos Florentino, Aursnes e Kokçu ou Lage vai reforçar com terceiro central e fechar com linha de 5?”, levanta a dúvida, colocando mais fichas nos três jogadores do meio-campo para “criar superioridade”, que não pode no entanto contar com Renato Sanches e Manu Silva, ambos lesionados.

Deixando o futebol de lado, têm surgido notícias que apoquentam quem aprecia a paz no desporto e no futebol. A final da Taça de Portugal entre Benfica e Sporting recuperou também as memórias da trágica e miserável cena do very light no Jamor, que roubou a vida a um sportinguista. Francisco Guimarães confessa preocupação.

“Ambos os clubes contribuíram ativamente para o mal-estar a que chegámos no final desta temporada”, denuncia. “Prevejo, infelizmente, que possa ser um dos dérbis mais agressivos da história recente. Já estamos a assistir a réplicas de um terremoto que ainda não aconteceu, e espero que não venha a acontecer.”

E conclui: “Tanto a Liga Portugal como os responsáveis dos clubes deveriam pensar seriamente em cenários hipotéticos de um presumível descalabro. Se o estão a fazer, não sei. Mas estou preocupado com a inação a que, infelizmente, estamos acostumados”.

O Benfica-Sporting, a contar para a jornada 33 da Liga, joga-se no sábado, no Estádio da Luz, a partir das 18h00, e conta com o relato Bola Branca na Rádio Renascença e com o acompanhamento ao minuto em rr.pt. A arbitragem fica entregue a João Pinheiro.

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